por Angelo Medina
Todos nós exercitamos, doses diárias de insegurança, em goles maiores ou menores. Quantas vezes pensamos… Será que ele gosta de mim? Eu correspondo as expectativas? Agi certo desta vez? Fique tranquilo, estas inquietações acontecem não só com você, mas com todos os seres humanos que respiram.
Agora… imagine a seguinte cena…
O filho combinou de voltar para casa às 11 da noite. Os ponteiros marcam 11h30 ou meia-noite e ele não retornou. Naturalmente, os pais ficam apreensivos e isto é normal. Porém… se uma aguda ansiedade abate o coração destes pais, o suficiente para criar uma cenário digno de tragédia grega. Imaginando um terrível acidente… vendo o filho, devidamente refestelado, num paletó de madeira, rodeado de ciprestes.
A situação, com certeza, ultrapassou os limites da insegurança. Isto não é normal, trata-se de uma insegurança pontuada com elementos de pânico. Vya Estelar entrevistou o terapeuta Geraldo Massaro autor do livro Insegurança – Uma pedra no caminho da felicidade – Editora Gente. Massaro aponta os mecanismos causadores dos diversos tipos de insegurança: afetiva, sexual, em relação ao vestibular… Explica a diferença entre medo e insegurança. Sugere alguns caminhos e toques práticos para trabalhar este sentimento, bebericado por todos nós, em doses diárias.
Vya Estelar – Qual é a diferença entre medo e insegurança?
Geraldo – O medo sempre pressupõe uma causa externa. É o sentimento que você tem, por exemplo, na hora de um assalto. A insegurança é um sentimento que vem de alguma dificuldade interna, que surge e se instala, durante o processamento psicológico, desde os primeiros anos de vida. Só para ilustrar, é aquele sentimento que um rapaz tem, na hora de paquerar ou cantar uma bela gata.
Vya Estelar – Por que você classificou a insegurança em vários tipos?
Geraldo – Todo indivíduo inseguro tem consciência de sua condição, mas não tem clareza sobre os motivos que o levam a ser assim. Por isso, classifiquei a insegurança em vários tipos, para facilitar a compreensão. Porém, não existe uma classificação das inseguranças. Fiz num sentido didático, para mostrar que a insegurança pode trazer à tona um série de questões diferentes.
Vya Estelar – Quais seriam os principais tipos de insegurança?
Geraldo – A insegurança de identidade, a insegurança afetiva, a insegurança sobre o próprio valor, a insegurança da ação, a insegurança por falta de modelo, a insegurança sexual e a insegurança no vestibular.
Vya Estelar – Fale um pouco sobre cada uma delas.
Insegurança de Identidade – a mais grave
Conceito: se caracteriza pelo fato do indivíduo não saber que pessoa ele é. A pessoa não se sente inteira e completa como nós nos sentimos. Vive de um jeito inseguro na maneira de existir. Considero este tipo de insegurança o mais grave, porque a pessoa não é só insegura no agir, ou em relação à vida, ou ao vestibular. A pessoa tem uma dificuldade em toda a sua identidade, ao estar vivendo no mundo.
A origem: vem da formação de uma identidade alterada, com ausências fortes do pai ou da mãe, ou porque ambos não cumpriram, adequadamente, os seus papéis. Para uma pessoa ganhar o mundo, tem que sentir a sustentação da própria identidade, ou seja, a sustentação do modelo materno e paterno.
"Todo ser humano tem a necessidade de ser amado. É uma condição do seu psiquismo básico"
Insegurança Afetiva – a mais famosa
Conceito: a pessoa não se sente apreciada (gostada) ou tem dúvidas sobre o afeto dos outros. Não tem certeza de que os outros gostem dela. É a mais conhecida das inseguranças. Todos nós temos as nossas inseguranças afetivas. Ninguém consegue se sentir apreciado o tempo todo, por todo mundo, em todos os lugares. No entanto, há indivíduos que vivem este sentimento com intensidade maior do que a média, afetando a sua qualidade de vida.
A origem: num nível mais profundo, está ligada à dificuldade de não ter se sentido amado, principalmente pela mãe, e pela família, nos primeiros anos de vida. Pode ser cultural, como um loiro numa sociedade de negros ou um negro numa sociedade de brancos. Pode ser também por diferença de classe econômica.
Insegurança de valor – o quanto valemos. Eu confio no meu taco?
Conceito: a pessoa pode ser segura de quem é e saber-se apreciada. Mas não sente que tenha valor diante de si própria e do mundo. Trata-se de uma autodesvalorização. A pessoa não se sente valorizada. Em nossa sociedade a beleza, a inteligência, a capacidade de ação, o talento e a coragem se colocam entre os principais valores e estabelecem a "cotação" de cada pessoa. Esta insegurança representa um bloqueio, para conquistar um espaço social, que todos nós temos a necessidade de empreender, por meio de nossos atributos.
A origem: as pessoas que conviveram com este tipo de inseguro, não trouxeram à tona algum grau de valor, na sua infância. Como, por exemplo, valorizar as suas qualidades. Outra causa, seria viver em função das expectativas dos pais ou do que a sociedade – a cultura – sempre "cobra".
Insegurança da Ação – por não saber agir
Conceito: a pessoa tem identidade segura, sente se apreciada, tem consciência do próprio valor, mas não consegue ou tem dificuldade para decidir e agir. Essa pessoa sabe pensar, organizar e planejar, mas tem enorme dificuldade para agir e por a mão na massa.
A origem: é causada pela falta do pai. A expressão "ausência paterna" não implica somente a falta física do pai. Ela também diz respeito a um pai inadequado ou fragilizado. Entre os três e os cinco anos a criança passar a perceber a presença do pai, forma-se o triângulo edipiano (pai, mãe e filho). Ao perceber a presença do pai, nessa faixa de idade, a criança observa a mãe, que imaginava sendo exclusivamente sua, possui outra relação, com o pai.
Pai herói
Então, cria-se na criança um início de desilusão, a primeira na sua vida. A partir daí, o pai que propiciou tal descoberta, passa a ser um instrumento, uma ponte de identificação entre ela e o mundo. Ele se torna sua referência da cultura que predomina ao redor, isto é, modos de comportamento e de ação.
Insegurança de Modelo – acontece na adolescência
Conceito: a pessoa tem identidade bem formada, sente se apreciada, é consciente do próprio valor, pode saber decidir e agir, porém não o faz porque não teve modelos de ação nos primeiros anos de vida. Está muito misturada à insegurança por falta de ação. A diferença básica é que esta se desencadeia na entrada da adolescência, enquanto a outro ganha corpo desde os primeiros anos de vida.
A origem: na adolescência torna-se completamente clara a diferenciação entre masculino e feminino. Com esta diferenciação o garoto precisa ter o pai como referência e a mãe como modelo, para saber como agir com as mulheres e vice-versa para as meninas.
Insegurança Sexual – o fantasma da mídia e da cultura
Há uma defasagem entre as propostas apresentadas, pela mídia e a cultura, e o que as pessoas fazem na verdade
Conceito: jamais aparece sozinha. Em geral, é acompanhada de outras formas de insegurança e pode ser resultado de outras inseguranças. Possui um destaque, porque a sexualidade é extremamente valorizada na cultura latina. O sexo sempre foi um produto de consumo e de vendagem.
A origem: a insegurança sexual acontece por que tudo o que é mostrado, sugerido, falado, estimulado ou ensinado, principalmente pela mídia, não acontece na vida real. A parcela da população que obtém a realização do desejo sexual, prometido pela mídia ou pela cultura, é muito baixa. Há uma defasagem entre as propostas apresentadas, pela mídia e a cultura, e o que as pessoas fazem na verdade.
Insegurança no Vestibular
Cada uma acha que a sua é a única ou maior que a dos outros
Conceito: é impressionante como esta condição – prestar vestibular – por si só, cria enorme insegurança. Somam-se o medo de fracassar, da competição, do clima opressivo, de organizar o próprio projeto de vida; num momento em que a maioria dos jovens ainda não estão preparados para fazê-lo.
Outro fator é a expectativa dos pais de achar, que basta estudar e estar preparado, que vai dar para passar. Essa postura lembra a atitude do pai, vendo a nota nove que o filho tirou na prova . "Se você estudar um pouco mais, consegue dez". O jovem submetido a este tipo de pressão vai estar sempre desvalorizado, considerando-se abaixo das expectativas.
Vya Estelar – Chefe tirano e autoritário é um chefe inseguro?
Geraldo – Não dá para dizer que é um regra geral, mas se você usa este tipo de recurso para intimidar os outros, é porque existe um espaço interno de insegurança.