por Roberto Goldkorn
O artigo anterior sobre a importância dos logotipos para o sucesso das empresas teve imensa repercussão. Ótimo. Isso mostra o grau de entendimento que as pessoas estão manifestando sobre relações nem sempre explícitas como esta. Pequenos, médios e grandes empresários já compreenderam que o ambiente em que se instalaram pode sim exercer algum tipo de influencia benéfica ou não sobre si e seus negócios, como afirma o ancestral Feng Shui. Também percebem que o nome de sua empresa, e a sua “assinatura” gráfica seu logotipo também pode agregar ou subtrair valor de sua marca.
Como prometi no artigo anterior, vamos falar dos grandes símbolos, os grandes 'logotipos' universais que vêm ocupando um espaço privilegiado na mente da humanidade desde seus primórdios.
O sol
O símbolo mais importante por seu caráter universal e conteúdos prioritariamente positivos é o sol. Em praticamente todas as tradições da antigüidade, nas religiões pagãs, e nos grandes mitos de todo o mundo, o sol é reverenciado como fonte de vida.
Esteve assimilado aos Deuses antigos, ou eram os deuses e reis seus filhos diretos e diletos. Foi em parte da Idade Média associados ao próprio Cristo (chamado de Sol Justitiae), sendo seus 'doze' raios os doze apóstolos. Mas não só como fonte e origem da vida a nossa estrela maior aparece no inconsciente coletivo, mas também como fonte de LUZ, como o Fogo original.
Como fonte de Luz ele é fracionado em muitas subvariáveis todas com grande poder de significação. Luz se opõe à escuridão, às trevas no sentido literal e no sentido metafórico. No sentido literal, seu significado é tão poderoso porque é primitivo. Ele está ligado aos medos dos nossos ancestrais que vinham com a noite, com seus predadores, buracos insuspeitos que aumentavam os riscos de uma vida já tão cheia de sobressaltos, pequenos inimigos que no escuro se tornavam grandes ameaças. Protegidos pelo véu da noite (escuridão) o perigo espreitava. Por isso o sol era sempre bem-vindo, pois escorraçava as trevas tão temidas.
Metaforicamente luz e trevas se opõem no terreno das idéias, da consciência versus falta de consciência, da ignorância versus lucidez das coisas e tramas feitas sob o abrigo da obscuridade versus os livros abertos da vida, a Glasnost (transparência) do Gorbatchov. A outra importante variável do sol, é a sua invariável constância. Frase do tipo, “o sol nasceu para todos”, “nada de novo sob o sol”, “tão certo quanto o nascer do sol”, têm variações em quase todas as línguas. Apenas em algumas poucas tradições o sol tinha uma face temível e era atacado como na antiga China que fazia rituais para feri-lo quando era excessivo e torrava as colheitas. Ou então era temida a sua face “poente”. Em algumas partes da China até hoje (Singapura, e Hong Kong) alguns escritórios evitam que suas janelas sejam iluminadas pelo sol poente, associado à morte. Pegando carona no grande sol, há uma infinidade de símbolos correlatos: as lanternas, o farol (que rompe a noite para indicar o caminho aos navegantes), o fogo dos archotes (tochas), a cor vermelha ou laranja, os raios saindo de um semicírculo, etc.
O galo
Por isso o outro grande símbolo de força, poder, e Luz é o Galo. Além de suas coloração em geral avermelhada e crista vermelha (disco solar) o galo é o representante do sol, pois anuncia com seu canto matinal o fim do 'domínio das trevas' com a chegada triunfal do grande rei sol. O fato de ele ser também um símbolo de virilidade (alguém já ouviu falar em briga de galinhas ou de perus?) é apenas mais uma variação do poder solar manifestado. Em grande parte da Alta idade Média ele foi associado ao Cristo que veio anunciar o fim do reino das trevas.
A árvore
Já a árvore, terceiro lugar nessa hierarquia, também tem a ver com o sol. Mas a árvore não pode ser qualquer uma para estar no topo dessa lista. Ela deve representar de forma clara as três instâncias: a terra (as raízes ou a base da árvore representada pela linha “terra”), o fogo (o tronco, ao mesmo tempo simbolizando aquilo que conduz a energia), e o Ar (os ramos e folhas).
Pelo caráter ascendente da árvore ela está associada à buscadora do sol como fonte de vida. Símbolo maior dessa manifestação é o Girassol, cujo nome científico já diz tudo – heliotrópio, de hélio o sol, e tropo em direção à – de onde vem o termo tropismo que é a capacidade de algumas plantas de se espicharem em direção à luz (solar é claro).
Mas a árvore, generosa na sombra (que nos protege da inclemência do sol), na dadivosidade de seus frutos, do espetáculo das suas flores, e da utilidade de sua madeira, também tem suas faces negativas. Árvores cuja copa ao invés de se projetarem para o alto se voltam para o solo como o chorão, por exemplo, ou cujo tronco se bifurca, ou tem formatos esdrúxulos não são bons simbolismos.
A lua
Já a Lua, parceira celeste do sol, não tem tanta unanimidade. Por ser fásica, ela simboliza instabilidade, por estar na noite ela remete a sortilégio, mistério e os aspectos mais sombrios da mente. Por isso as pessoas perturbadas mentalmente são as lunáticas e na lua cheia dão trabalho.
Essa instabilidade lunar é reforçada pelo fato da lua influir nas marés (água associada à emotividade – lágrimas). Mas a lua crescente é exceção a essa regra. Por isso é um símbolo positivo, mas que deve ser usado com muito cuidado, não tem uma aplicabilidade universal, não serve para qualquer produto ou serviço.
Os peixes
Por último (mas não menos) vêm os peixes, (assim mesmo no plural). Os peixes fervilhando na rede do pescador indicavam desde a antiguidade a fartura, a riqueza e a não-fome. A multiplicação dos peixes é um mito caro a muitas culturas. Os cardumes são símbolos de riqueza de fertilidade de abundância e naturalmente de prosperidade. Mas atenção, o símbolo desejado é sempre no coletivo, e nunca no singular. O peixe sozinho pode estar associado a solidão, ao 'lobo solitário' e ao isolamento.
Mas nem todo grande símbolo dá uma marca gráfica aproveitável. O pão, por exemplo, o famoso "pão nosso de cada dia”; “nem só de pão” vive o homem”; pão e circo” está intimamente ligado à alimentação primordial. O pão da vida, o pão que mantém e alimenta a vida e os viventes. Mas em termos de transposição para o plano das imagens gráficas, ele perde todo o poder. Não conseguimos imaginar o logo e forma de pão que não seja para sinalizar uma panificadora, e mesmo assim…
Esse é um assunto fascinante, pelo menos eu acho, e inesgotável. Poderíamos falar dos animais arquetípicos, da águia solitária, do leão majestático, da cegonha, do cão e do gato, do tigre, do dragão, do rato, da serpente e de tantos outros animais cuja imagem vai muito além da sua classificação biológica. Mas a as plantas também têm seu lugar na galeria dos símbolos que podem agregar valor à sua marca. Desde a flor-de-lótus (que tem raízes na lama e a flor- beijando o sol, até as rosas que não falam, mas que sussurram histórias de paixões e mistérios místicos.
Temos também nessa ampla vitrine a cruz, a estrela, a espada, a montanha, o mar, as velas do barco, o balão e os símbolos ascendentes, os olhos, a mão que afasta ou atrai… E cada um deles figurativamente ou estilizados podem fazer a diferença na hora de vender a imagem da sua marca. Espero que essa breve exposição possa ajudar a entender melhor o universo das marcas e seus simbolismos.