por Thaís Petroff
Coisas ruins podem acontecer a todos nós. É preciso saber que muitas delas não temos como controlar, prever ou evitar. Cada um lida e reage de diferentes maneiras a elas. Há pessoas, por exemplo, que se influenciam com eventos que veem pela televisão, já outras não se assustam com a vivência de uma situação traumática.
Essas diferenças interpessoais permitem que frente a uma (ou mais) experiência(s) traumática(s) algumas pessoas desenvolvam o que chamamos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático ou também conhecido como TEPT.
Existem alguns fatores que facilitam o desenvolvimento do TEPT:
– O tipo de personalidade pode ter influência;
– Como se aprendeu a lidar com situações estressoras durante a vida;
– A forma como a pessoa lida com a vida; ter pouca habilidade de resolver problemas;
– Estar constantemente exposto a situações de risco.
O TEPT afeta a pessoa como um todo, trazendo perturbação, sofrimento significativo e prejuízo em muitas áreas da vida (profissional, social, relacionamento, lazer, etc…). Existem sintomas fisiológicos, emocionais e comportamentais no TEPT, sendo todos eles interligados. Abaixo seguem alguns dos principais:
– Tremor, agitação, excitabilidade aumentada;
– Pesadelos ou sonhos aflitivos e recorrentes com o evento;
– Flashbacks (ter a sensação de estar vendo ou vivenciando a situação traumática, como se fosse uma cena de filme);
– Dificuldade de concentração e dificuldade para dormir;
– Continuar a reviver o trauma, muito tempo depois (em pensamento e em sentimento);
– Estar sempre na expectativa de que a situação possa ocorrer do novo ou que algo de ruim possa acontecer;
– Sensação de vazio;
– Perda de esperança e expectativa de futuro (profissional, familiar e de vida);
– Sentimento de impotência e incapacidade de se proteger do perigo;
– Estar tenso ou “no limite”; podendo muitas vezes ter surtos de raiva;
– Forte sentimento de culpa ou preocupação;
– Assustar-se facilmente;
– Afastar-se de lugares, eventos, atividades, pessoas ou objetos que possam trazer alguma lembrança do trauma;
– Perda de interesse por atividades que eram agradáveis no passado.
Pessoas que passam por eventos traumáticos podem ou não desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Dentre as que o desenvolvem, podem começar a perceber seus sintomas logo após o evento ou ainda demorar até 6 meses para começar a apresentá-los.
Caso ilustrativo
Adriana foi vítima de sequestro relâmpago há dois anos quando saia de um shopping. Periodicamente ela tem flashbacks do acontecimento e acorda assustada no meio da noite com pesadelos onde sofre violência física e psicológica.
Deixou de estudar, pois não conseguia voltar à noite da faculdade e não conseguia sair da cama de manhã para poder estudar em período matutino. Passou a ficar muito mais tempo em casa, não se interessando mais por atividades que fazia antes. Engordou 20 quilos, pois só queria ficar deitada em sua cama assistindo televisão.
Atualmente sai mais de casa, mas evita passar próximo do lugar onde ocorreu o evento. Não consegue dirigir sozinha, ainda mais quando se afasta de lugares conhecidos. Muitas vezes deixa de sair para programas sociais com os amigos, pois sente medo de sair à noite.
Percebe-se constantemente ansiosa e alerta, principalmente quando anda sozinha. Assusta-se facilmente em situações, assim como quando vê um homem se aproximando dela. Parece esperar que a qualquer momento o evento se repita.
Adriana é uma paciente que desenvolveu TEPT após ter sido raptada. Permaneceu alguns dias em estado de choque, nos quais apagou parte do evento de sua memória. No entanto, após esse período passou a se lembrar aos poucos de tudo e a apresentar as sintomas descritos acima.
Atualmente está em acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico e retomando sua vida e atividades aos poucos. Ela precisa vencer seus medos, sua crença de incapacidade (acredita que é incapaz e justifica sua crença pelas coisas que não consegue fazer) e principalmente reconstruir sua autoimagem, pontos esses que colaborarão para o aumento de sua autoestima.