por Thaís Petroff
No texto anterior (clique aqui e leia), falei sobre o comportamento da pessoa insegura e citei explicando brevemente o eu real, o eu ideal e o autoconceito. Aprofundo agora esses três conceitos, acrescentando um adicional o (eu aparente), discorrendo sobre suas interrelações e consequências.
Eu real
O eu real, como o próprio nome diz, é o nosso eu verdadeiro. É aquele que representa nossa essência o que verdadeiramente somos. Para alguns, é aquela parte que somente aparece quando se está sozinho, como por exemplo num momento de reflexão. Sabemos que estamos acessando nosso eu real quando somos sinceros conosco:
– Isso é realmente verdade
ou
Apesar de não querer admitir isso, sei que é assim…
Eu ideal
Essa dificuldade de enxergar ou até de aceitar o eu real, pode ocorrer porque há outro aspecto, chamado de eu ideal. Ele abrange nossos ideais quanto a nós mesmos; tanto o que desejamos ser, quanto o que acreditamos que devemos ser. Sendo assim, há um desejo ou cobrança de sermos diferentes do que somos hoje e aí pode surgir uma não aceitação da maneira atual de ser.
Eu aparente
Já o último aspecto do eu, é o eu aparente. Ele representa o que mostramos para o mundo, para as pessoas com as quais convivemos. Escolhemos demonstrar (ou não) alguns de nossos pensamentos e sentimentos e o fazemos através da fala, da fisionomia e através de nossas ações.
Existe uma cisão entre o eu real e eu ideal. Quanto maior for a distância entre ambos, maior será o desconforto e o sofrimento.
Não progredimos, crescemos ou nos desenvolvemos se não possuirmos um eu ideal que nos impulsiona a querermos mais e a sermos melhores do que somos. Por outro lado, quando esse eu está muito distante do nosso eu real, podemos nos sentir deprimidos ou ansiosos por não saber como alcançá-lo, ou ainda, sermos muito duros conosco, chegando até a nos “chicotear”, por não sermos da maneira que julgamos ser a supostamente ideal.
Uma grande distância entre o eu real e o eu aparente pode trazer muito sofrimento, pois quando escolhemos demonstrar algo muito diferente do que somos, pensamos ou sentimos, temos que despender muita energia. Fazemos isso quando nos sentimos ameaçados (com medo ou receio de alguma situação externa ou frente a uma ou mais pessoas às quais nos despertam essa sensação); quando desejamos agradar (e não estamos sendo autênticos); quando mentimos…
Quando a distância entre o eu real e o eu ideal é grande, nosso autoconceito é ruim, uma vez que se fosse positivo, não se faria necessário despender tanta energia para alcançar algo que está tão distante e, do mesmo modo, o eu ideal não estaria tão distante, se não houvesse um autoconceito negativo. O mesmo ocorre entre o eu real e o eu aparente, se a distância entre ambos é grande, o autoconceito também é ruim e, consequentemente, se julga necessário demonstrar algo diferente do que se é.
Todos esses aspectos estão dentro de cada um de nós; são parte integrantes de nossa pessoa. Por isso lutar contra eles ou negá-los será inútil. O interessante é buscar identificar cada uma dessas partes dentro de si e compreender o funcionamento delas para, a partir daí, poder aprender a viver com mais harmonia.
Uma dica que pode auxiliar nesse convívio interno mais sereno é buscar aproximar os diferentes aspectos do eu, trazendo assim menos sofrimento e menor dispêndio de energia. Duas possíveis maneiras de fazer isso são a autoaceitação e a transparência.
Para a autoaceitação é necessário amar quem se é e algumas vezes resignar-se também, mas isso não quer dizer nos acomodarmos ou nos conformarmos.
Quanto à transparência, é preciso de coragem, para decidir mostrar sua realidade interna e não mais se esconder dos outros (e de si mesmo).
Penso que essa oração ilustra bem essas ideia:
“Deus conceda-me serenidade
Para aceitar as coisas que não posso mudar…
Coragem para mudar aquelas que posso…
E sabedoria para discernir umas das outras.”