por Elisandra Vilella G. Sé
Quanto tempo pode durar um casamento? Anos. Quanto tempo dura uma faculdade? Anos. Quanto tempo dura uma viagem? Horas. Quanto dura um jogo de futebol? Minutos. Todos os acontecimentos da vida têm uma extensão de tempo.
A ideia de tempo envolve uma multiplicidade de conceitos: tempo físico, biológico, subjetivo, cultural, etc. Por essa razão, temos inúmeras dificuldades na definição da temporalidade que, em última análise, são causadas pela diversidade de significados que tem a palavra "tempo".
Na filosofia ocidental, as ideias sobre temporalidade motivaram muitos pensadores importantes; desde os comentários sobre a inefabilidade do tempo de Santo Agostinho à postulação de condição à priori do pensamento humano por Kant, chegando ao fundamento *ontológico em Heidegger.
O tempo biológico envolve especialmente os diversos osciladores biológicos (relógios vivos) de que todos os organismos vivos dispõem, sofrendo a influência externa dos sincronizadores, como os ciclos diários e sazonais de luz e temperatura, que são os estímulos que estão sempre acertando os relógios internos.
Nos mamíferos, os principais marcapassos são os núcleos do hipotálamo, que recebem informações diretamente da retina através de fibras específicas dos nervos ópticos e também a glândula pineal ou epífise, que secreta o hormônio melatonina. Também os ritmos mais longos, como por exemplo, os ciclos reprodutivos, sofrem a influência de forma semelhante. São dois os principais relógios que nos controlam: um regula o ciclo sono-vigília e o outro regula a temperatura corporal e os ritmos metabólicos. Esses ritmos fisiológicos instrínsecos são chamados ritmos circadianos porque sua duração se aproxima das 24 horas. Precisam, portanto, ser regulados permanentemente.
Alguns desses ritmos parecem estar de alguma forma relacionados à regulação do humor. Os ciclos sazonais de luminosidade, muito marcantes nas latitudes altas, parecem influir no humor, assim como os níveis hormonais – como os da tireoide e os corticosteroides – que seguem oscilações circadianas.
As mudanças sequenciais da natureza, com fases periódicas recorrentes, constituem fator determinante da organização básica de todos os organismos vivos e de suas reações antecipatórias e adaptativas aos eventos externos, entre elas os reflexos condicionados e as formas superiores, especificamente humanas, de previsão de eventos futuros.
Podemos verificar ainda um tempo psicológico, que se observa no desenvolvimento da mente infantil, quando a absoluta inconsciência do tempo – um eterno presente – evolui para uma progressiva ampliação da consciência do passado e da expectativa do futuro. É quando chegamos a ter a capacidade de estimativa do tempo, expectativas e perspectivas temporais.
Esse tempo psicológico, subjetivo, cultural é o mundo das probabilidades. Com toda essa diversidade do sentido do tempo em nossas vidas, podemos dizer que vivemos em dois mundos, o mundo do aqui e agora, que é a realidade e o mundo das expectativas, e assim vivemos numa eterna luta com a própria mente. Essa eterna luta significa perceber o presente, viver o presente, no presente e pelo presente. Viver a realidade pela realidade. É viver aquilo que você tem consciência no seu presente.
O futuro é só uma projeção. Viver o futuro é criar uma percepção. Vivemos a percepção que a mente cria. Não é à toa que existe o velho dito popular: "O futuro a Deus pertence". Quando menos se espera você percebe o futuro projetado explica o passado, ou seja, aquilo que se viveu. Isso acontece porque o que você vive hoje no aqui e agora dependerá do resultado que esse "hoje" irá trazer. Então só no futuro você vai saber o porquê do que acontece na sua vida nesse presente. Só o futuro explica o agora. E quando chegar no futuro, aí você irá esperar o "outro futuro" para entender o agora, você vai tá sempre esperando o outro futuro para entender o que acontece.
Podemos dizer que conjugar o verbo viver é conjugar o futuro do presente. Mas, o passado acabou, a vida passada acabou. A vida futura ainda não chegou. Só o que existe é a vida presente e ela se renova a cada microfração de tempo. Se você não está no aqui e agora, onde você está? A vida vive a vida.
Ontologia: Parte da filosofia que estuda a natureza dos seres, o ser enquanto ser. Fonte: iDicionário Aulete.