Consumir açúcar em excesso causa pressão alta?

Açúcar em excesso e pressão alta: com base na revisão de extensa literatura científica, as diretrizes deveriam se concentrar mais na redução de açúcar do que de sal, para a prevenção e tratamento da hipertensão arterial e suas consequências

Sal é considerado o principal culpado na hipertensão arterial, uma condição que pode levar a acidente vascular cerebral (derrame), infarto do miocárdio e problemas renais. Médicos orientam cortar o sal da dieta para reduzir a pressão arterial, mas parece que o sódio não é o maior vilão, nem o único. Na verdade, limitar drasticamente o sal pode aumentar as chances de desenvolver problemas cardíacos fatais, conforme atestam diversos estudos.

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Hipertensão em alta

A pressão arterial elevada é um problema cada vez mais comum no mundo. As estatísticas mostram que a hipertensão afeta aproximadamente um em cada três adultos, e muitos têm uma pressão limítrofe, ligeiramente maior do que o normal. No Brasil, a hipertensão arterial é a doença de maior prevalência na população e a principal causa de morte. De acordo com dados do Ministério da Saúde, o problema afeta 32% da população adulta brasileira e mata uma pessoa a cada dois minutos.

Hipótese do sal

A ‘hipótese do sal’ é a noção de que um aumento na ingestão de sódio irá impactar a pressão arterial e o risco de doenças cardiovasculares, e tem sido um ponto de discórdia durante décadas. Apesar disso, organizações de saúde e orientações nutricionais do Governo defendem a restrição de sal para toda a população. No entanto, não há nenhuma prova conclusiva de que restringir o consumo de sal reduz o risco de hipertensão e/ou eventos cardiovasculares, e por outro lado, a restrição severa de sódio pode até conduzir a resultados adversos para a saúde.

Sal e açúcar na dieta

Controlar a pressão é essencial

Doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no mundo e a hipertensão arterial é talvez o mais importante fator de risco. Controlar a pressão é essencial, e as recomendações dietéticas têm focado basicamente na restrição de sódio. Digno de nota, é o fato de que as principais fontes de sódio na dieta são os alimentos ultraprocessados. Acontece que estes alimentos são ricos em sal, e também em açúcares adicionados, e o consumo de açúcar está diretamente associado com o risco de hipertensão e doenças cardiometabólicas (obesidade, diabetes, infarto).

Frutose

Evidências de estudos epidemiológicos em animais e humanos sugerem que a adição de açúcares, particularmente frutose, pode aumentar a pressão arterial, a frequência cardíaca e a demanda de oxigênio, e contribui para a inflamação, resistência à insulina e disfunção metabólica. O benefício de reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados pode ter menos a ver com sódio, e mais a ver com os carboidratos altamente refinados. Uma diminuição na ingestão de açúcares adicionados ajudaria a prevenir não só as taxas de pressão arterial, mas também transtornos mais amplos, relacionados a doenças cardiometabólicas.

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Insulina

Embora existam muitos fatores que podem contribuir para o aparecimento da hipertensão, novas pesquisas mostram que existem fontes inesperadas desta condição – insulina, por exemplo. Alimentos e medicamentos que aumentam os níveis de insulina podem estar elevando a sua pressão. Pesquisadores israelenses perceberam uma conexão entre os níveis de insulina e a pressão alta: o estudo isolou 200 genes relacionados à hipertensão, e a equipe descobriu que vários destes genes também estavam ligados à insulina.

Diabetes

A análise sugere que a insulina desempenha um papel primário na pressão arterial, pois há uma estreita ligação entre a hipertensão essencial e as doenças associadas à síndrome metabólica, caracterizada por níveis altos de insulina (resistência insulínica). Isso faz sentido quando se considera o fato de que o diabetes é um fator de risco reconhecido para a pressão alta: os dois costumam andar de mãos dadas. Uma dieta rica em sal e com baixo teor de potássio é considerada um agente de risco, mas uma dieta carregada de açúcar certamente não é melhor. Ou seja, consumir alimentos que aumentam os níveis de insulina também pode elevar a pressão arterial, e este efeito tende a piorar na idade avançada.

Açúcar, sal e fisiologia

Considerando que não há exigência fisiológica para se consumir açúcar na dieta, não há razão para se suspeitar de consequências prejudiciais para a saúde ao cortar ou reduzir drasticamente o açúcar, diferentemente do sódio, que exerce inúmeras funções na fisiologia humana. Com base na revisão de extensa literatura científica, as diretrizes deveriam se concentrar mais na redução de açúcar do que de sal, para a prevenção e tratamento da hipertensão arterial e suas consequências.

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Referências
*Nutrients 2021. Salt & Sugar: Two Enemies of Healthy Blood Pressure in Children.
*Open Heart 2014. The wrong white crystals: not salt but sugar as etiological in hypertension & cardiometabolic disease.
*Journal of Hypertension 2018. A system view & analysis of essential hypertension.
*High Blood Pressure & Cardiovascular Prevention 2021. Dietary Intervention to Improve Blood Pressure Control: Beyond Salt Restriction.
*J American Society of Hypertension 2017. Relationship among age, insulin resistance, and blood pressure.
*Int J Molecular Science 2020. Diabetes Mellitus & Hypertension – A Case of Sugar and Salt?

Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br