por Ceres Alves Araujo
Para Gilles Lipovetsky, filósofo francês, as imagens de alegria e prazer reproduzidas pela mídia alimentam a ilusão de que é possível ser feliz o tempo todo. Essa busca permanente pela felicidade tornou o consumo um elemento central de nossa sociedade, por possibilitar momentos de satisfação.
Busca-se o tempo todo coisas novas que, ao final, não dão toda a satisfação. Do consumo passa-se ao consumismo, pois vivemos na cultura do excesso, onde todas as coisas se tornam intensas, urgentes, onde o movimento, a novidade são constantes.
Existe uma diferença fundamental entre o consumidor e o consumista. O consumidor é o indivíduo que compra produtos e serviços necessários à sua vida e o consumista é o indivíduo que compra mais do que precisa, gasta o que pode e o que não pode em função da necessidade de suprir carências de diferentes ordens. Consumir sem controle e sem necessidade, ou seja, sem consciência crítica é sintoma de uma patologia: um distúrbio compulsivo.
Consumir uma quantidade exagerada de produtos desnecessários acarreta um impacto econômico, social e também no meio ambiente. O aumento desenfreado do consumo leva, por exemplo, ao desperdício e a um aumento significativo de produção de lixo.
Pelos motivos acima mencionados, o consumismo infantil deve ser uma preocupação de pais, professores e do Governo. A criança é o alvo privilegiado da mídia nos tempos atuais. Existe um alto investimento na publicidade visando o consumo infantil. Muitas das práticas comerciais são abusivas, pois as crianças são muito vulneráveis à propaganda e mais influenciáveis pelos amigos, deixando-se ser seduzidas ao consumo e, por sua vez, induzem seus pais ao comprar.
Tal consumismo virou um hábito característico da sociedade atual, independe de idade, gênero e poder aquisitivo e acarreta consequências danosas para o desenvolvimento da criança e do adolescente. Dentre elas, pode-se citar: o aumento alarmante da obesidade desde a infância, a sensualização precoce, a fidelidade excessiva e tola a marcas e o abuso de álcool e fumo cada vez mais cedo.
Nesse consumo irracional, os valores e critérios éticos são distorcidos. O consumo do que é descartável, transitório e supérfluo aumenta e caminha-se na contramão da sustentabilidade.
Em função dos estudos sobre as relações de consumo e suas consequências, começaram a existir movimentos contra o consumismo sem controle. O Governo relançou a Cartilha sobre o consumo infantil. É importante a educação em relação ao consumo, para que a criança tenha ideia do seu impacto social, econômico e ambiental.
Vale citar, por exemplo, o Projeto Criança e Consumo do Instituto Alana, que visa combater os tipos de comunicação com fins mercadológicos destinados à criança. O Instituto Alana está propondo, esse mês, a feira de troca de brinquedos com a ideia de que trocar é mais divertido que comprar.
Reaproveitamento talvez seja a chave do consumo sustentável. Apregoa-se hoje o consumo colaborativo. Existem já empresas trabalhando sob esse novo conceito. Uma pioneira entre elas é a Maria Brincadeira que busca ensinar às crianças e aos pais o consumo colaborativo. Isto é, compartilhar, emprestar, trocar e dividir brinquedos ao invés de comprar. Assim, não é só na imaginação que a criança pode ter acesso a diversos tipos de brinquedo. De fato, existe um mundo onde o consumo colaborativo permite o acesso a brinquedos sem ter que comprar.
Dizer "não", colocar limites aos inúmeros e constantes pedidos dos filhos para consumir pode ser difícil, mas é, com certeza, uma enorme prova de amor que os pais podem dar a seus filhos. Estimular a criança a inibir o consumismo é ensiná-la a ter atitudes sustentáveis nesse mundo tão carente de fraternidade, solidariedade e responsabilidade social. Incentivar o consumo colaborativo é ensinar à criança a partilhar alegria e a ser cidadã.