Consumo de bebidas energéticas com cafeína propiciam alcoolismo?

por Danilo Baltieri

Resposta: “Energy Drinks” são bebidas que contêm altos níveis de cafeína, variando de 50 a 500 mg ou mais por lata ou frasco.

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A avalanche de vendas destas bebidas nos últimos anos tem preocupado profissionais da saúde, devido tanto à possibilidade dos efeitos adversos associados com o uso de altas doses de cafeína e alto teor calórico dessas bebidas quanto ao estreito relacionamento entre o uso das “energy drinks” e o consumo de bebidas alcoólicas.

Adultos jovens e estudantes constituem o grupo mais exposto ao consumo de “energy drinks”. Também, vários estudos apontam que essa população jovem mostra altas taxas de problemas relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas. Mais uma vez essa população tem sido o principal foco de venda das ‘bebidas energéticas’.

Assim, não surpreendentemente, estudos americanos recentes sobre o padrão de ingestão de bebidas alcoólicas entre jovens estudantes têm apontado taxas entre 40 e 60% de jovens consumidores de “energy drinks”.

Vários mecanismos têm sido aventados para explicar o relacionamento estreito entre o consumo das chamadas ‘bebidas energéticas’, consumo de bebidas alcoólicas e problemas decorrentes. Por exemplo, o consumo de cafeína antes de dormir, ou em grandes quantidades durante o dia, comumente tem as seguintes consequências sobre o sono:

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a) retardo do início;

b) redução da quantidade total;

c) alteração das fases normais do sono;

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d) diminuição da qualidade.

Assim, a cafeína pode prolongar os episódios de ingestão de bebidas alcoólicas, uma vez que retarda o início do sono normal e a sensação de cansaço. Também, o excesso de cafeína reduz a sensação subjetiva de “estar alto”, sem, no entanto, diminuir os prejuízos cognitivos e motores que o álcool provoca.

Dessa forma, reduzindo a sensação subjetiva de “estar bêbado”, as bebidas energéticas podem colaborar no escalonamento progressivo do consumo de álcool. Isso significa que ingerir “energy drinks” propicia um consumo de álcool significativamente maior do que não ingerir as bebidas energéticas.

Essa sensação subjetiva de não estar alto pode de fato comprometer a capacidade de julgamento do bebedor e expô-lo a situações arriscadas dos mais diferentes tipos.

*No estudo que serviu de tema para este artigo envolvendo 1.097 estudantes universitários, os consumidores frequentes de “energy drinks” (ou seja, aqueles que consumiam pelo menos semanalmente) revelaram consumo pesado de álcool (incluindo beber mais nos dias de bebedeira), mais prejuízos associados (como dirigir embriagado), e maior risco de apresentar critérios diagnósticos de dependência de álcool, mesmo após a adequada análise de outros fatores que poderiam confundir essas associações (como por exemplo, dados sóciodemográficos, problemas de conduta na infância, história familiar de problemas com álcool e drogas).

Também os usuários menos frequentes de bebidas energéticas apresentaram mais problemas com o consumo de bebidas alcoólicas do que os não usuários de “energy drinks”, embora sem associação com maior risco de dependência.

Apesar de dados bastante preocupantes, o estudo em questão tem as suas limitações. Devido ao desenho do mesmo (tipo transversal), não é possível aventar qualquer relação de causalidade entre o uso de energéticos e a dependência alcoólica. É possível dizer que existe uma correlação forte entre os dois consumos (energéticos e bebidas alcoólicas). Também, o estudo baseou-se no autorregistro dos próprios entrevistados, o que sempre é susceptível ao viés. No entanto, o estudo utilizou uma amostra grande e avaliou múltiplas variáveis associadas com o consumo inadequado de bebidas alcoólicas.

*Abaixo, forneço a referência do estudo em questão:

Arria AM, Caldeira KM, Kasperski SJ, Vincent KB, Griffiths RR, O'Grady KE. Energy Drink Consumption and Increased Risk for Alcohol Dependence. Alcoholism: clinical and experimental research. Nov 12. (in press).