por Jocelem Salgado
O cérebro controla os pensamentos, as emoções, o humor, o funcionamento nervoso e muscular. A alimentação, necessária para o bom funcionamento do organismo como um todo, pode afetar as emoções de forma negativa.
A deficiência de algumas vitaminas do complexo B por exemplo, pode resultar em perda de memória e várias outras alterações mentais e emocionais.
Atualmente, graças à abundância de alimentos e ao enriquecimento de cereais nos países industrializados, esses distúrbios só são experimentados por pessoas com problemas nutricionais específicos, como os alcoólatras.
Os alimentos que melhoram o humor são mais difíceis de serem encontrados. Os neurônios se comunicam uns com os outros por meio de substâncias químicas chamadas neurotransmissores. Esses compostos só são sintetizados pelo organismo quando necessário, a partir de aminoácidos e outros componentes da dieta.
O aminoácido triptofano, encontrado em todas as proteínas completas, como a carne, o leite e os ovos, é usado pelo cérebro para produzir serotonina. Esse neurotransmissor regula o sono, a secreção hormonal e a percepção da dor. Os níveis cerebrais da serotonina são afetados pela ingestão de triptofano. Mas mesmo depois de uma refeição rica em proteínas, pouco triptofano atinge o cérebro, devido à competição com outros aminoácidos.
Por outro lado, depois de uma refeição rica em carboidratos, o hormônio insulina atua mais intensamente sobre os aminoácidos e uma quantidade maior de insulina passa a desempenhar um papel de maior destaque na distribuição dos aminoácidos. Uma quantidade maior de triptofano é desviada para o cérebro, onde é convertida em serotonina. Um efeito típico da serotonina é a sonolência que acompanha uma refeição com alto teor de carboidratos.
A colina e a lecitina, presentes nos ovos, no fígado e na soja, afetam de maneira favorável o funcionamento do cérebro em pessoas com certas doenças neurológicas que envolvem alterações do humor. Outra função importante dessas substâncias é a garantia da saúde cerebral e da boa memória durante o envelhecimento. A colina ajuda no tratamento de indivíduos com memória fraca e protege as células cerebrais durante o processo de oxidação natural do organismo quando a idade vem chegando. Além da colina, a lecitina de soja tem ainda uma quantidade considerável de fosfatídios, inositol e ácidos graxos polinsaturados, essenciais para o bom funcionamento do corpo humano.
Má alimentação e o humor
Não há evidências de que as alergias alimentares causem alterações de humor. Muitos pais sustentam que os filhos se tornam hiperativos depois da ingestão de alimentos açucarados. Entretanto, pelo menos um estudo científico mostrou efeito oposto: crianças que ingerem bebidas doces tornam-se menos ativas.
Componentes da dieta que alteram o humor
A cafeína, o estimulante mais conhecido e mais comum pode ser encontrada no café, no chá, em alguns refrigerantes e no chocolate. Embora uma xícara de café possa ser ótima para afastar o sono, a ingestão de altas doses de cafeína pode causar palpitações, insônia e ansiedade.
O álcool também pode alterar muito o humor, embora não tanto quanto a cafeína, às vezes tem efeito oposto ao pretendido. Na verdade o álcool é um sedativo, desacelerando certos processos fisiológicos, como a respiração, diminuindo o suprimento de oxigênio para o sistema nervoso central. Ele pode inclusive causar depressão. As pessoas que acordam deprimidas e irritadas poderiam se beneficiar se diminuíssem os drinques da noite anterior. Além disso, o álcool interfere no sono, podendo causar irritabilidade, ansiedade e depressão.
Como os carboidratos têm efeito sedativo, os alimentos ricos em proteínas são excelentes escolhas para o almoço se comparados aos alimentos ricos em amido e açúcar.
Determinados alimentos podem ou não estimular algumas substâncias no nosso organismo, que são responsáveis por regular o humor de cada um. Para deixar de lado esse mau-humor, vamos conhecer um pouco sobre cada alimento e seus mecanismos de ação.
Vegetais de folhas verdes
Os vegetais de folhas verdes e algumas leguminosas são fontes de ácido fólico, um potente antidepressivo. Esse nutriente, quando reduzido no organismo, pode baixar os níveis cerebrais de serotonina. Saber, no entanto, que quantidades exageradas desse nutriente são tóxicas. No entanto vale ressaltar que a melhor forma de obter esse nutriente é por meio de uma alimentação equilibrada e variada.
Evitar cafeína (em excesso), álcool e alimentos com alto teor de gordura, já que o estresse prejudica o funcionamento do sistema digestório.
Carnes, grãos integrais e levedo de cerveja são fontes de vitamina B6 que atuam no humor da mesma forma que o ácido fólico.
Frutos do mar e castanha-do-Pará
Apresentam altos teores de selênio em sua composição. Estudos clínicos mostram que quando o teor de selênio é baixo no plasma sanguíneo o organismo pode acusar depressão.
Nutrientes superpoderosos
Omega 3
Uma meta-análise dos efeitos do ácido eicosapentaenóico (EPA) presentes em peixes de água marinha como arenque, cavala, sardinha, salmão, etc. em ensaios clínicos na depressão, publicada recentemente em 2011 no J. Clin Psychiatry mostrou que suplementos contendo EPA = 60% do total EPA + DHA, em um intervalo de dose de 200 a 2.200 mg/d de EPA em excesso de DHA, foram eficazes contra a depressão. No entanto, os pesquisadores afirmam que mais estudos translacionais são necessários para determinar os mecanismos de benefício terapêutico da EPA.
Um outro estudo publicado no J Psychopharmacol, 2011, sobre os efeitos da suplementação com ômega-3 ácidos graxos sobre o humor e processamento de informação emocional em indivíduos deprimidos. Os resultados encontarados indicam que a suplementação de ômega-3 tem efeitos seletivos sobre a cognição emocional e humor em recuperar participantes desse estudo que eram deprimidos
Triptofano e tirosina
Pesquisas têm apontado o efeito da ingestão de doses de triptofano sobre a cognição humana, o humor e o sono. Os resultados dessa pesquisa mostraram que o triptofano parece ser mais eficiente para melhorar o humor em indivíduos vulneráveis, e melhorar o sono em adultos com alguns distúrbios do sono. (Neurosci Biobehav Rev. 2010 Mar; 34(3):387-407)
Os autores concluem que a deficiência de triptofano aguda continua a fornecer uma ferramenta de pesquisa para investigar a relevância do neurotransmissor serotonina para o início da depressão. No entanto, segundo eles, não há evidências suficientes para afirmar que uma carga de triptofano é eficaz como tratamento para a depressão por meio de sua ação em aumentar a produção de serotonina. A maioria dos estudos clínicos são feitos em periodo de tempo curto, envolvem pequeno número de amostra e/ou não foram controlados com placebo. O desenvolvimento das novas drogas inibidoras da recaptação da serotonina aparentemente sinalizou um fim a prosseguir tais meios de promover a serotonina como um tratamento para a depressão.
Flavonoides do cacau
Estudo realizado no Centro de Estudos Epidemiológicos (CES-D) nos Estados Unidos, verificou níveis mais altos de depressão associados a um maior consumo de chocolate (Arch Intern Med. 2010, Apr. 26;170(8):699-703). Os pesquisadores examinaram eventuais relações entre o consumo de chocolate e o humor em 1 mil adultos que não tomavam medicamentos antidepressivos e que tinham problemas cardiovasculares ou diabetes. Os participantes foram submetidos a testes e avaliados de acordo com a escala de depressão (CES-D).
Os autores do estudo observaram que homens e mulheres que apresentaram níveis mais elevados na escala consumiram em média 12 porções de chocolate por mês, enquanto que aqueles sem depressão ingeriram menos de cinco porções no mesmo período. Não houve diferenciação entre chocolate com leite ou com mais cacau. A porção considerada foi de cerca de 30 gramas. Não houve diferença, no período, no consumo de outros alimentos ricos em antioxidantes, como peixes, café, frutas e vegetais entre os participantes.
Segundo os pesquisadores, novos estudos serão necessários para tentar determinar a base da associação, bem como o papel do chocolate na depressão, seja ele positivo ou negativo.
Complexos vitamínicos funcionam?
Sim. Sabe-se que a carência de vitamina B6 e/ou ácido fólico pode levar a redução da síntese de serotonina. Nesse caso a suplementação agiria sobre o humor. Carnes, grãos integrais e levedo de cerveja são fontes de vitamina B6 que atuam no humor da mesma forma que o acido fólico. Quando os níveis de vitamina B6 estão reduzidos no plasma sanguíneo, os níveis do neurotransmissor serotonina também se apresentam reduzidos.
Coma bastante
– Carboidratos complexos para suprir o cérebro de aminoácidos.
– Frutos do mar, hortaliças verde-escuras, pães, cereais e massas integrais para obter vitaminas do complexo B.
Reduza o consumo de:
– Cafeína e álcool, pois podem causar insônia e ansiedade.
– Carboidratos, especialmente açúcar, na hora do almoço, para ficar alerta à tarde.
Considerações finais
Entendo que o humor pode ser simplesmente um estado de ânimo, ou seja, um estado cuja intensidade representa o grau de disposição e bem-estar psicológico e emocional de uma pessoa. No entanto, existem distúrbios patológicos de humor, como a depressão, transtorno bipolar, ansiedade, etc., que não tem nada a ver com o estado de ânimo que nos encontramos hoje ou amanhã.
Portanto, quando falamos de um estado de ânimo simples, vejo vários aspectos envolvidos que devem ser levados em conta como alimentar-se equilibradamente, comer fibras para que o intestino funcione bem, evitar alimentos gordurosos, ter uma vida regrada, não cometer exageros e excessos, assim como é abordado no texto acima.