por Arlete Gavranic
A pornografia sempre gerou polêmica, seja por afrontar valores religiosos, morais… Mas é fato, nos últimos 10-15 anos vem tomando outro rumo.
No período anterior à internet, a pornografia era disponível em filmes exibidos em poucos cinemas, na região central das cidades: lugar malvisto e frequentado com receio. Outra forma de consumo eram as fitas VHS e posteriormente DVD.
Em meados da década de 1990, a popularização da internet trouxe para homens, mulheres e, principalmente o público adolescente, um acesso ilimitado a todo tipo de site e conteúdos sexuais, dos meramente sensuais, aos mais bizarros.
Mas essa exposição em massa a conteúdos pornográficos pode causar distúrbios de comportamento?
Segundo o grupo de pesquisadores multidisciplinar do The social cost of pornography: A statement of findings and recommendations, publicado pelo Instituto Witherspoon, pode haver um impacto negativo nas relações, na produtividade e na felicidade entre consumidores desses produtos.
"Os que veem pornografia acreditam que sua vida sexual vai ser melhor, mas tem ejaculação precoce, mais disfunções e problemas para se relacionar", afirma Mary Anne Layden, coautora e diretora do programa de traumas sexuais e psicopatologia da Universidade da Pensilvânia.
Esses estudos me remetem ao cuidado de diferenciar o internauta que esporadicamente navega nesses conteúdos, daquele que navega diariamente por várias horas. A busca por excitabilidade, prazer rápido, sensação ‘perigosa’ e ‘poderosa’ de transgressão – para aqueles que fazem às escondidas de marido, esposa, pais -; a grande facilidade de no mundo virtual não existir necessidade de conhecer o outro e seduzir para chegar à intimidade: é só chegar e usufruir. Nesse sentido o risco da banalização do sexo e das relações se torna presente numa intensidade maior.
Para algumas pessoas pode significar um estímulo para aumentar o desejo sexual, para outros pode se tornar um agravante que dificulta, por exemplo, o controle de ejaculação devido à rápida e intensa excitabilidade.
A pornografia em si não é um mal, desde que utilizada como possibilidade de incrementar os relacionamentos reais, ou como busca de prazer e autoconhecimento corporal através da masturbação. O problema está em restringir a sexualidade somente ao plano virtual.
O consumo de pornografia através de sites pornográficos ou salas de bate-papo traz para quem tem um relacionamento uma sensação de traição. Essa realidade é muito presente entre casais. Vários estudos, como o Romantic Partners Use of Pornography; Its significance for Women do médico A.J. Bridges, assinalam: a mulher ao saber que o marido consome pornografia, se sente traída e perde a confiança. Os custos psicológicos disso podem até levar ao divórcio.
Nesse sentido, casais chegam num nível insuportável na relação e buscam ajuda terapêutica para resolver essa dependência excessiva de sexo via internet.
Segundo dados da Sociedade Americana de Advogados Matrimoniais, 56% dos 350 casos atendidos em 2003, tinham relação com o interesse obsessivo de um dos parceiros por sites pornográficos.
Mas a internet não é o único vilão dessa cena. A busca constante por pornografia pode denunciar que a relação do casal já estava empobrecida no aspecto erótico. Em pessoas carentes ou mais impulsivas essa dependência em relação à pornografia pode-se tornar maior.
Essa impulsividade em relação ao sexo via internet vem sendo motivo de muita preocupação entre especialistas do comportamento humano e da sexualidade, pois a situação vem numa grande crescente, principalmente entre o público teen que passa de 2 a 10 horas navegando em sites de relacionamento como orkut, facebook, twitter… Esses acabam ficando mais vulneráveis ao assédio e à busca mais impulsiva em satisfazer sua libido e curiosidade. Tudo isso de forma rápida e anônima.
Minha maior preocupação é com os jovens, pois esses ainda estão estruturando seu psiquismo para pensar e viver um relacionamento afetivo-sexual, e a banalização do sexo ou “coisificação” do corpo pode ser um entrave a uma vida saudável do ponto de vista sexual e afetivo.
É preciso orientar e tentar impedir que a internet vire referência de prazer, pois assim eles fugirão muito mais da vida real e dos relacionamentos cara a cara. O relacionamento presencial repleto de conquistas e decepções exige estratégias, resistência, superação, adequação ao outro, autoestima, sedução, discussão… Não é só dar um ‘delete’ quando a coisa não estiver de seu agrado.
Pais, tios e educadores… é preciso conversar com essa moçada para que eles não se acomodem ou pior, viciem-se nas relações fáceis, superficiais e intensamente rápidas e erotizadas possibilitadas pela internet. Só um filtro de pornografia não resolve, os jovens conhecem muito de informática e os desbloqueiam facilmente.
A internet é um recurso maravilhoso e não deve se transformar em motivo de problemas para os relacionamentos psicoafetivos.