Resposta: A exposição pública da vida de uma pessoa com quem se teve um relacionamento amoroso não passa de um ato questionável, em geral, uma traição. A não ser que essa exposição tenha sido autorizada, claro. Mesmo que o par amoroso tenha cometido atrocidades, existem locais corretos para que denúncias sejam feitas: delegacias de polícia, varas criminais etc. Talvez até desabafar com uma amiga mais íntima. Uma. Não duas, três, todos os amigos da rede social…
Muitos, porém justificam essa exposição com os mais diversos argumentos, todos questionáveis: proteger possíveis novas vítimas, fazer justiça, ou mesmo acabar com a tendência a ficar perdoando eternamente, esse último, baseado na “ vergonha” que a denunciante sentiria de se relacionar com alguém que sabidamente é um canalha.
Por que contar os podres do ex não resolve?
Não, a exposição raramente resolve o problema, seja para quem denunciou, seja para quem foi denunciado. Agressores raramente deixarão de ser agressores e “vítimas” tenderão a usar a vitimização e a ingenuidade como justificativa. Mas nem um nem outro mudarão a não ser que haja um desejo consciente de mudar. E mesmo assim, será difícil.
Em geral, o que acontece é que quem expõe as “torturas” sofridas junto ao par amoroso, transforma momentos íntimos em um show de horrores que, diga-se de passagem, sempre alcança ótimas “audiências”.
Certamente existem pessoas ardilosas, lobos em pele de cordeiro, que enganam seu par amoroso no início da relação e depois mostram suas verdadeiras garras; pessoas que conseguem convencer seu par amoroso que irão mudar, e não mudam; pessoas que usam fraquezas do par amoroso para enredá-los em uma teia difícil de escapar. Difícil. Mas não impossível.
Então por que tantas pessoas, principalmente mulheres, envolvem-se com pares cruéis uma, duas, três vezes seguidas? Existem vários motivos: baixa autoestima, depressão, necessidade de risco etc. Mas ninguém é obrigado a ficar eternamente nessa situação. Aos primeiros sintomas desse lado cruel, a pessoa ainda pode escapar. Depois, fica mais difícil. Como em qualquer doença, se o tratamento é feito precocemente a possibilidade de cura é maior. No entanto, a melhor forma de escapar da crueldade amorosa se dá no ato da escolha. E qualquer pessoa que reflita com um mínimo de lógica, saberá que grandes paixões irracionais podem levar a grandes tragédias, enormes sofrimentos. Cabe assim a cada um entender a fundo cada escolha que faz.
Mas haveria algum aspecto positivo em contar os podres do par?
Talvez o único ganho no relato de crueldades amorosas para pessoas próximas seja um alívio catártico, a sensação de se livrar de um conteúdo perturbador ou dividi-lo com alguém. Mas a catarse, por si só, não é transformadora. O que realmente transforma é uma reflexão mais profunda feita com o auxílio de um profissional que possa ajudar a pessoa a entender melhor suas necessidades, suas escolhas e a consequência dessas escolhas. As amigas, ou os amigos, embora possam ser bons ouvintes, tendem a ser parciais. E quem costuma fazer escolhas impulsivas e neuróticas não será brecado por uma vergonha do julgamento alheio.
Uma vida a dois bem-sucedida deve permanecer no âmbito dos dois envolvidos: nas alegrias, nas tristezas, nos “olá” e nos “adeus”. Em qualquer fase, colocar terceiros quartos ou quintos na relação tende a enfraquecê-la; sinaliza que ela não se sustenta sem muletas; é um sinal vermelho que aponta para a necessidade de encontrar soluções mais eficazes do que as que estão em uso. E se isso for urgente, a ajuda profissional pode trazer ganhos.
Atenção!
Esta resposta não substitui uma consulta ou acompanhamento de uma psicóloga e não se caracteriza como sendo um atendimento.