por Cristina Balieiro
"O mito também leva a movimentos práticos. O mais prático de todos é encarar sua biografia segundo as ideias sugeridas nos mitos – ideias de vocação, alma e destino"
James Hillman
Ver nossa própria história de vida utilizando essas dimensões – vocação, alma, destino – que o grande psicólogo James Hillman sugere, pode dar a nós mesmos outra identidade, outro sentido.
Reinterpretando nossa vida, podemos rearranjar acontecimentos, dando a eles novos significados.
Ao “nos contar”, especialmente para nós mesmos, precisamos juntar a nossa história familiar passada, nossa origem; a nossa gama de experiências pessoais e a compreensão e transformação que obtivemos a partir delas e o nosso projetar no futuro; a busca incessante daquilo que fala à nossa alma. E tudo junto, ao mesmo tempo.
Uma nova dimensão simbólica pode surgir e o que foi vivido adquire um novo patamar de compreensão.
É ao conseguir ver nossa biografia dentro de uma dimensão ao mesmo tempo histórica e mítica é que damos a ela a honra que merece!
Isso é claro, desde que tenhamos tido a coragem de seguir o que nossa alma pediu e nos tornamos nós mesmos e não um ser amorfo e coletivo.
É por isso também que ouvir a história de vida de alguém que foi fiel a si mesma é algo que nos traz alento, coragem, estímulo para construirmos a nossa própria história.
Escutar outra pessoa com arte nos amplia, enriquece, alarga, instrui, diversifica, matiza, ilumina e, num aparente paradoxo, nos traz para mais perto de nós mesmos.
Precisamos abrir espaço em nossas vidas tão cheias de afazeres e pobre de sentido para essa escuta curadora.
Escutar uma história de vida, contada por quem a está vivendo é uma benção para os dois lados.
Para quem conta é a oportunidade de ver os acontecimentos sob outra perspectiva e dar outro significado, mais amplo, mais generoso e mais completo.
Para quem escuta é a oportunidade de através das experiências do outro, poder ampliar a visão de possíveis experiências a serem vividas, além de ser um momento em que podemos nos maravilhar com a “construção” de uma individualidade.
Recontar a vida pode trazer à biografia a estética e a grandeza que uma vida bem vivida sempre possui.
A história de uma vida vivida com plenitude, com tudo de luminoso e sombrio que contém, é uma entidade viva que pode nos ajudar a viver.
Por isso, contar e ouvir histórias é remédio, é cura! É um compartilhar que nos fortalece e nos humaniza.