por Eliana Bussinger
Tratar as questões financeiras com excessiva reserva é um hábito bem enraizado na cultura brasileira e essa forma de agir acaba inevitavelmente infiltrando-se nas famílias e nos relacionamentos.
Algumas das prováveis razões para que isso ocorra são:
1º) Forte influência religiosa: envergonham-nos de ser ricos, porque afinal "é mais fácil um camelo cruzar o buraco da agulha do que um rico entrar no céu"
2º) Apavorados com assaltos e seqüestros, evitamos falar sobre a nossa real condição financeira. Ao contrário dos americanos que prezam aqueles que são bem-sucedidos, aqui escondemos o sucesso, achando que assim estamos protegidos contra a violência e os abusos.
3º) Impostos excessivos, que recaem especialmente sobre as empresas, criaram a figura do caixa dois. A corrupção e a mentira financeira acabou se alastrando pela sociedade e criando uma deturpação na forma como a sociedade vê o enriquecimento. A sociedade já não mais consegue enxergar as possibilidades de enriquecimento lícito e não reconhece ou valoriza o enriquecimento pela diligência, disciplina, educação e trabalho árduo.
4º) Um outro fator importante é o hábito crescente dos casais de manterem contas-correntes e cartões de crédito separados. Essa é uma tendência natural e inevitável, uma vez que as mulheres hoje já possuem seu próprio dinheiro.
Preservar a identidade financeira é importante porque as necessidades dos pares são diferentes.
É horrível ter que ficar justificando para o marido a depilação e o tratamento de pele. Ou para a esposa a compra do novo terno ou do aparelho de som.
Contas separadas também são importantes para que cada um assuma a responsabilidade pelos seus atos, sejam eles virtuosos ou não. Excesso de gastos no cartão de crédito? Bem, se ele não é dos dois, assumir essas despesas é responsabilidade do seu único titular.
Mas ainda que eu concorde que a independência financeira precise ser preservada, a falta de comunicação entre os parceiros nem sempre se justifica.
Se a intenção do casal é conquistar sucesso para a sua família e garantir segurança financeira futura, tanto a comunicação e quanto a confiança mútua precisam estar presentes.
Assim, ainda que essa decisão seja de cada um, conjugar esforços para objetivos maiores parece funcionar bem para a maioria das pessoas.
Grandes compras e grandes investimentos (como imóveis, aposentadoria, viagens) precisam do apoio moral e financeiro dos dois, tanto no traçado dos objetivos em si, quanto na determinação dos passos que serão necessários para que esses objetivos sejam alcançados.
Aonde o casal quer chegar é uma decisão para os dois. E como chegar também.