Contei ao meu marido que fiquei com um cara casado quando era solteira

por Anette Lewin

“A partir daí, ele passou a me agredir de todas as formas possíveis. O que faço?”  

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Resposta: As verdades, ditas em momentos inadequados, podem trazer consequências tão ou mais graves do que mentiras ditas em momentos adequados.

Embora muitos defendam ferrenhamente a verdade e abominam a mentira, não podemos esquecer que a forma e o momento em que os relatos são feitos pesam muito mais nas consequências do que os fatos em si. Explico. Se um diagnóstico de doença grave for dado a um paciente de qualquer jeito, e num momento em que ele não está preparado para aceitá-lo, mesmo sendo verdadeiro pode causar sérios danos emocionais ao paciente.

No seu caso, você omitiu ao seu marido um fato ocorrido quando era solteira e resolveu contar para ele depois de casada.

A primeira pergunta que se faz é: por que você resolveu contar? Acredita que suas vivências amorosas da fase anterior ao casamento são da conta se seu marido?

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De que forma e em que momento contou?

Pensou que esse fato poderia trazer à tona a questão confiança?

Provavelmente… não.

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Mas pelo que se pode perceber, esse relato caiu para ele como uma bomba. Não sabemos o que aconteceu na cabeça dele,  mas pela forma como passou a tratá-la, provavelmente ele se sentiu extremamente agredido com a sua verdade. Talvez ele sinta que, se você desrespeitou o casamento da pessoa com que ficou quando solteira, você poderá desrespeitá-lo também como marido; talvez pense que, se você contou isso para ele só agora, possa ter outros "segredos" guardados, enfim, o ponto em questão é a confiança. E confiança, uma vez abalada, requer um trabalho imenso para ser recuperada. E é nesse trabalho que você precisa se empenhar agora.

Passo a passo para resgatar a confiança:

Primeiro passo: converse com seu marido sobre essa mudança de comportamento dele. Tente ouvi-lo, mais do que falar. Deixe que ele expresse com suas próprias palavras o que ele sente para agredi-la da forma como vem fazendo.

Segundo passo: pergunte a ele o que ele acha que pode ser feito para melhorar a situação entre vocês. Ouça e pense sobre as sugestões, se elas vierem. Evite ficar conversando sobre o episódio de traição do passado. Se ele insistir, diga que não é possível fazer mudanças no que já passou e tente trazê-lo para o presente e trabalhar com ele na construção de um vínculo amoroso mais adequado daqui para frente. O resto, depende das respostas que ele der e da sua sensibilidade.

Terceiro passo: quanto a você, tente desenvolver sua sensibilidade colocando-se no lugar do outro. O que você sentiria se ele contasse sobre vínculos amorosos que ele teve no passado? Você ficaria confortável? Pois é…. Às vezes existem partes da nossa vida que só pertencem a nós. Os comportamentos não convencionais que resolvemos assumir devem correr por nossa conta e risco. Não é sensato arriscar e depois querer dividir a culpa com terceiros.

Talvez seu marido sinta que você o envolveu em uma história com a qual ele nada tem a ver. Caso precise comentar com alguém sobre atitudes suas que lhe trazem desconforto culposo, procure uma terapia. Ali você terá quem a escute sem julgá-la.

Quarto passo:  finalmente, tente respeitar sua história de vida pessoal e assumir suas escolhas com garra. Certamente, em cada momento de sua vida você fez aquilo que, naquela ocasião, achou melhor. Encare as consequências, mesmo as que deram errado, como uma lição de vida que pode ajudá-la em momentos futuros. Apenas reflita, avalie, conclua e passe para frente. E escolha com critério com quem, como e quando vai dividir suas experiências. Elas são seu bem mais precioso.

Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracterizam como sendo um atendimento.