por Ricardo Arida
Desde a descoberta contra a tradicional visão de que a neurogênese (formação de novos neurônios) era limitada durante o estágio do desenvolvimento, isto é, embriogênese, várias pesquisas foram realizadas nesse sentido.
Essa visão tem sido grandemente transformada desde a descoberta da formação de novos neurônios em duas regiões do cérebro, o hipocampo e bulbo olfatório.
A neurogênese que ocorre no hipocampo, (região relacionada à memória e aprendizado) tem sido também relacionada a fisiopatologia das desordens do humor. Por exemplo, dados clínicos indicam que pessoas com depressão mostram diminuição no aprendizado e memória e funções cognitivas e estudos com neuroimagem mostram que essas pessoas apresentam um volume do hipocampo reduzido.
Portanto, os pesquisadores têm realizado uma associação entre perda de neurônios e suas conexões com uma diminuição do volume do hipocampo.
Entretanto, recentemente, pesquisadores têm atribuído à neurogênese como um papel importante para o efeito terapêutico de tratamentos antidepressivos.
Essas informações fortalecem a hipótese que a alteração da *plasticidade nessa região do cérebro pode ser importante com efeitos terapêuticos de tratamentos para depressão. Nesse sentido, qual é a relação entre as informações acima e o titulo deste artigo?
Semelhante aos tratamentos com antidepressivos, o aumento da neurogênese induzido pelo exercício físico parece contribuir para o efeito terapêutico no humor e cognição. Para entendermos melhor o efeito do exercício na formação de novos neurônios (neurogênese) voltarei a abordar rapidamente suas ações, já comentadas em textos anteriores.
Estudos com humanos e animais mostram que o exercício físico promove uma melhora no aprendizado e memória e reduz o declínio mental relacionado à idade. Tem sido observado que pessoas fisicamente ativas apresentam melhor rendimento nos testes de memória quando comparados com indivíduos sedentários e os melhores efeitos são observados com o exercício físico moderado. O exercício moderado é aquele realizado com intensidade baixa (moderada) por um período prolongado (atividade aeróbia). Os estudos revelam que jovens e idosos que participam de programas de exercício físico apresentam menores sintomas depressivos e menor susceptibilidade a desenvolverem depressão.
Neste sentido, o efeito do exercício no humor e cognição tem sido recentemente sugerido em ser mediado parcialmente por aumento da formação de novos neurônios no hipocampo. É importante lembrar que apesar de estarmos comentando a influência do exercício na neurogênese, diferentes tipos de plasticidade ocorrem não somente no hipocampo, mas em outras partes do sistema nervoso e não serão comentadas neste texto.
Por outro lado, o estresse apresenta uma regulação contrária a do exercício físico na plasticidade no sistema nervoso. Devido à extensa informação a respeito dos efeitos benéficos da atividade física regular sobre o estresse, não irei comentar sobre este tópico neste momento.
A exposição ao estresse crônico causa diversas alterações no hipocampo. Estudos clínicos mostram uma diminuição dessa região em pacientes com depressão.
É bom lembrar que essas alterações ocorrem devido ao estresse por período de tempo prolongado e não a um estresse agudo, como em situações habituais ou cotidianas. O estresse crônico diminui o processo de aprendizado e memória e aumenta a susceptibilidade a doenças afetivas; essas observações estão sempre associadas com uma diminuição da neurogênese hipocampal.
Concluindo, o exercício físico ou atividade física ou esportiva regular pode induzir a uma melhora do humor e da cognição.
Estudos recentes indicam que parte dessa melhora parece estar associada ao aumento de novos neurônios, mas é bom lembrar que outros mecanismos participam e estão envolvidos nesse processo.
Estas informações de trabalhos e revisões sobre este assunto fortalecem as indicações do exercício físico regular para a melhora da saúde cerebral.
Este assunto pode ser visualizado com detalhes na revista “Cell Transplantation – Adult hippocampal neurogenesis: a possible way how physical exercise counteracts stress”.
*Plasticidade é uma alteração da estrutura e função cerebral frente a um ou vários estímulos