por Renato Miranda
Imagine a seguinte situação: Um jogador de futebol profissional disputa apenas uma Copa do Mundo. Só isso! Não participa de nenhum outro torneio ou campeonato em toda sua carreira. Pois bem, vejam nas hipóteses abaixo o quanto é significativo uma Copa do Mundo para um jogador de futebol.
Imagine agora que esse mesmo jogador disputou os seis jogos necessários para chegar à final e, portanto, a decisão também. Agora imagine que tal jogador tenha feito gols em todos os jogos, inclusive a final e, em consequência, sua seleção foi campeã invicta. Pois bem, aí está um jogador que acabou de entrar para a história, mesmo que depois da final da Copa tenha se aposentado.
Em apenas sete jogos na carreira um atleta entra para o seleto rol dos grandes nomes do futebol. Desculpando-me pelo exagero, penso que é um bom exemplo do "peso" da importância de uma Copa para os jogadores de futebol.
Agora imagine outra situação: Um jogador reconhecido por milhares de torcedores e mídia internacional como um craque, artilheiro consagrado e tudo mais que tenha direito. Esse jogador chega à Copa, joga bem os primeiros jogos, faz gols, mas na final, não joga tão bem e para piorar perde um pênalti. Decerto entrará para a história como um jogador fracassado mesmo que depois em seu clube volte a ser o grande jogador de sempre. Assim é a Copa do Mundo. Por isso, tão dramaticamente espetacular!
Quem quer perceber esse verdadeiro drama assista aos filmes e programas sobre as Copas anteriores. Você só encontrará vilão e herói! Tensão e alegria. Não há possibilidade de relativizações!
E mais, se algum jogador de uma seleção considerada de pouca expressão se destacar e ajudar seu time chegar às quartas de finais e de preferência nas semifinais, estará também consagrado.
Exemplo, Romênia e Bulgária não são seleções de primeiro nível e tampouco conseguiram participar da maioria das Copas. No entanto, é fácil lembrar-se do romeno Hagi e de Stoitchikov da Bulgária, participantes da Copa de 1994 nos Estados Unidos. Afinal de contas, esses jogadores foram responsáveis em "deixar para trás" Argentina e Alemanha respectivamente.
Ademais, são muitas vezes, os lampejos individuais, jogadas recheadas de detalhes, momentos inesperados, falhas inacreditáveis ou algo parecido que definem os jogos. Quando os mesmos são jogos eliminatórios ou é a final, tudo isso se torna potencialmente devastador.
Em 1982, na Copa da Espanha, até as quartas de finais, para a Seleção Brasileira, a discussão entre torcedores e vários setores da mídia era se aquele time era melhor ou não do que a seleção de 1970. Depois da eliminação, quase não se falou no assunto.
De 1970, só ficaram na lembrança nossos belíssimos gols. As falhas da defesa e de nosso goleiro, caso o Brasil perdesse, entrariam para a história (dê uma olhada!).
Em 1978, no último minuto do segundo tempo da final entre Argentina e Holanda, o time holandês chutou uma bola na trave, em um gol inacreditavelmente perdido. Imagine se a bola entra?
Não esqueçamos que em 2002, na final contra Alemanha, quando o placar estava empatado, a trave nos salvou por um "triz". Ou o que dizer do craque italiano Baggio em 1994 que perdeu um pênalti decisivo. E quando Serginho atacante da Seleção Brasileira em 1982 entrou na frente de Zico na hora que esse iria marcar um gol salvador.
O mesmo Zico em 1986, no México, apesar de lesionado entrou em campo, com o jogo em andamento nas quartas de final contra a França. No primeiro toque na bola fez um lançamento primoroso para o lateral Branco que sofreu pênalti para em seguida o magistral camisa 10 perder a cobrança.
É por isso que cada vez mais o preparo psicológico do atleta pode fazer a grande diferença entre um detalhe e outro!
Enfim, poucos jogos, muita emoção e certo mistério fazem da Copa do Mundo um marco histórico na carreira de muitos atletas.