Copa do Mundo: qual foi o erro do Neymar? Quem mais errou?

Por Renato Miranda

É inevitável que toda Copa do Mundo de futebol tenha possibilidades de fomentar discussões sob diversos aspectos associados às várias manifestações do ser humano tanto no aspecto físico como no psicológico, especialmente no que se refere ao desempenho esportivo. Ou seja, técnica, tática e preparo físico são assuntos recorrentes atrelados às questões comportamentais e emocionais do atleta que preenchem um rico campo de estudos e debates.

Continua após publicidade

A Copa na Rússia trouxe uma discussão peculiar a respeito do atleta brasileiro Neymar. Um excelente atacante reconhecido como um dos melhores do mundo, Neymar, participou da Copa depois de uma dura jornada de reabilitação física, em função de uma cirurgia realizada cerca de três meses antes da competição.

É notório que um atleta após um período de reabilitação dificilmente jogará em alto nível rapidamente. Especialmente no aspecto psicológico há um período variável para se adquirir novamente a autoconfiança que um atleta necessita.

Tal período depende entre outros fatores, da habilidade de resiliência do atleta, ou seja, sua capacidade especial de se restabelecer o mais rápido e primorosamente possível em relação ao seu padrão anterior à experiência estressora (no caso de Neymar, a lesão).

Aparentemente, Neymar se recuperou ao menos em níveis aceitáveis para jogar a Copa do Mundo. No entanto, talvez lhe faltasse uma boa estratégia psicológica para aplicar um comportamento que o fizesse adquirir melhor autoconfiança a cada jogo disputado. Ou seja, se expor menos possível ao jogo de contato com o adversário (proteção física) e ser mais comedido nas atitudes em relação à sua figura social (ser o centro das atenções e polêmicas).

Continua após publicidade

Não é uma tarefa fácil criar uma estratégia para que um dos melhores jogadores do mundo não seja alvo das atenções do adversário, árbitros, mídia e torcida, mas é possível administrar bem tal situação.

Ou seja, com relação ao adversário evitar: exagerar no jogo individual e, por conseguinte nas simulações das consequências (dores, gravidade da falta, gritos, gemidos etc.) das faltas sofridas (elas podem existir em grande parte).
 
Com relação aos árbitros evitar: jogo provocativo (atrair faltas desnecessárias para irritar o adversário e induzi-lo ser punido, reclamações, xingamentos, ironias e outros) que induz os árbitros ao erro ou ainda “jogar” o árbitro contra o adversário e a torcida.

Com relação à mídia evitar: as mídias sociais (aumenta muito a ansiedade e na maioria das vezes é perda de tempo); relação hostil com os profissionais de imprensa em geral, exemplo: se recusar a responder perguntas elementares e relacionadas ao evento esportivo e desempenho.

Continua após publicidade

Com relação à torcida, evitar: chamar muita atenção com sua figura social e vicissitudes dentro e fora de campo. Em exemplo, ficar “rolando” demasiadamente no gramado, cria uma antipatia gratuita com os torcedores, ou ainda, exacerbar as emoções como se fosse o único a se sacrificar para estar ali.

Será que seria difícil para Neymar; em campo, ser vigoroso, mas leal. Agir para o benefício da equipe e abrir mão de ser o único alvo das atenções. Vibrar com os gols dos companheiros como se fosse dele próprio. Deixar as “ameaças sociais” (críticas gerais!) de lado e controlar as emoções, lembre-se: emoções podem ser legítimas, mas a exacerbação das mesmas é inoportuna, pois prejudica a capacidade de concentração ótima, já que a aflição provocada pela emoção exagerada invade a mente e prejudica a capacidade de pensar.

Em resumo, Neymar é um grande jogador, precisa se tornar um grande atleta. Creio que o mesmo poderia agir perfeitamente como foi dito no parágrafo acima, mas escolheu a estratégia errada.

Ele exagerou em tudo! Deveria ter sido simples em tudo! Resultado: adversários, árbitros, mídia e torcida exageraram (e continuam!) com ele. Adversários foram muito duros desnecessariamente em vários lances (como uma vingança pelas simulações de dores!), árbitros exageraram na complacência nas punições e das faltas dos adversários, parte da mídia exagerou nas críticas e o culpou por quase tudo e a torcida exagerou e ainda o faz ao se sentir exageradamente traída, pois queriam ver seus gols e não seu teatro de simulações.

Em ultima análise, Neymar errou na estratégia psicológica de comportamento e faltou treinamento das habilidades mentais e emocionais. Em uma Copa do Mundo de futebol o atleta precisa estar preparado para as surpresas e atuar no “fio da navalha” do desempenho. No esporte, não há mais espaço para venerações. O jogo é pesado!