por Cybele Russi
Tempos atrás circulou pela televisão um anúncio muito interessante em que uma turma de alunos entregava à professora um trabalho de pesquisa feito pela Internet, e um único aluno, que não tinha Internet em casa, aparecia vestido como um homem das cavernas e entregava à professora um bloco de pedra com caracteres esculpidos. A voz do locutor em off dizia "Tire seu filho da Idade da Pedra e instale o produto tal em seu computador. Com ele as pesquisas ficarão muito mais fáceis e rápidas."
Verdade. Com a Internet, nossas pesquisas parecem brincadeira de criança: bastam alguns cliques e temos o mundo em nossas mãos. Entramos e visitamos o acervo de qualquer museu em qualquer parte do mundo, passeamos por galerias de arte, pesquisamos documentos históricos em arquivos e em bibliotecas, encontramos fotos em bancos de imagens, entramos em sites de medicina para ter as informações mais recentes em ciências e biotecnologia e temos acesso a uma quantidade infinda de informações.
Nada poderia ser mais útil para as escolas e universidades. É possível frequentar cursos, o chamado e-learning – ensino à distância, que veio permitir a continuação dos estudos sem sair de casa. Resumindo: a Internet é uma das mais fabulosas invenções que o homem poderia ter imaginado para ter acesso ao conhecimento. Como se todos os benefícios citados acima não bastassem, com um simples toque dos dedos ela faz a mágica de unir e de aproximar pessoas dos mais distantes pontos do planeta em questão de segundos, permitindo que possam conversar e trocar informações em tempo real por videoconferências ou simplesmente em salas de bate-papo. Nada pode ser mais fascinante do que isto. A Internet é hoje uma ferramenta indispensável em qualquer ambiente.
Entretanto, como quase tudo na vida, há que se fazer ressalvas: é preciso saber usar a Internet, caso contrário, poderá sim, trazer grandes danos para a criança, sobretudo para aquelas que estão em fase de construção do raciocínio. Trocando em miúdos: dependendo da maneira como é utilizada, pode trazer mais prejuízos do que benefícios.
Como a Internet permite o acesso muito rápido a vários tipos de informações diferentes, temos observado nas escolas que as crianças e os adolescentes não têm critérios de seleção para fazer pesquisas e acabam, simplesmente, colando e copiando qualquer coisa que encontrem relativa ao tema da pesquisa, isso sem dizer que, na grande maioria das vezes, não é feita nem sequer uma leitura prévia do material copiado. Apenas imprimem e entregam para o professor. O fato de trazerem um material qualquer, de boa ou de má qualidade, é o de menor importância. O grande problema, e é sobre esse aspecto que nos preocupamos, é que o simples "copiar e colar" está eliminando uma série de etapas fundamentais para o desenvolvimento do raciocínio, que só são possíveis com a leitura e a escrita.
Quando a escola solicita um trabalho de pesquisa, que pode ser feito tanto na Internet ou em livros, revistas e jornais, o que se espera é que o aluno tenha a preocupação de ler, compreender e sempre que possível, sintetizar o produto da leitura em uma redação ou num pequeno texto. Essa "trabalheira" toda não é à toa.
Não é por mero capricho da escola ou do professor, é porque essas são etapas fundamentais para a construção do pensamento e do conhecimento. Quando a pessoa lê, involuntariamente, estabelece relações e confronta o que lê com seus conhecimentos prévios, que é um primeiro movimento do raciocínio: estabelecer relações. Em seguida, há uma tentativa de atribuição de significados ao que foi lido, ou seja, dar um sentido à leitura, compreender de fato o que se leu. E na seqüência, fazer uma síntese da leitura. A síntese é o bom e velho resumo. É considerada a etapa mais elaborada do raciocínio e ela geralmente ocorre no momento da escrita, que é quando verdadeiramente nos apropriamos do conhecimento. É quando transformamos a leitura em algo nosso, transformado em palavras nossas. É por essa razão que dizemos "apropriação do conhecimento" porque, concretamente, ele passa a nos pertencer.
Portanto, para o professor, receber uma pesquisa linda e maravilhosa, bem impressa, bem formatada, repleta de imagens literalmente "recortadas e copiadas" da Internet é absolutamente inútil. O objetivo da pesquisa não é saber se o aluno sabe usar bem as ferramentas da informática, mas fazer com que ele aprenda sobre determinado assunto e principalmente, que desenvolva seu potencial para aprender.
Aprender a aprender
Na nova escola o que se ensina hoje é o aprender a aprender, por isso a grande quantidade de pesquisas e de trabalhos para se fazer em casa. Mas para, através do computador, aprender a pesquisar e transformar todo o conhecimento que ele põe à nossa disposição em algo útil para nossa formação como pessoas e profissionais do futuro, com raciocínio cada vez mais rápido e sofisticado. Isto, é claro, se não quisermos nos transformar em meros condutores de mouses. Fora isso, o uso do computador está liberado para todas as idades, principalmente para jogar, pois, além de treinar o processo decisório desenvolve uma infinidade de habilidades cognitivas. E cá entre nós, é verdadeiramente uma delícia.