Coronavírus, globalização, dinheiro e os humanos

O novo coronavírus tornou-se uma epidemia mundial nesse início de 2020. O vírus originário na China espalhou-se por várias partes do mundo e não parece possível detê-lo. As recomendações dos especialistas em saúde resumem-se a tentar diminuir o ritmo de contaminação para não sobrecarregar os sistemas de saúde nacionais. Trata-se apenas de reduzir a velocidade de contágio. Estamos diante de uma autêntica pandemia, possivelmente jamais igualada antes na história em função da universalidade que ela deverá adquirir. Nenhuma parte do planeta poderá ficar imune ao vírus em função de um isolamento deliberado.

O dinheiro tem a capacidade de viajar livremente

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Já sabíamos que o dinheiro havia adquirido a capacidade de viajar livremente pela totalidade do planeta, aterrissando onde lhe parecesse melhor, segundo sua própria lógica. Essa última certamente não diz respeito à melhoria da vida das pessoas e sim à melhoria da possibilidade de expansão do próprio dinheiro. De fato, se algo pode ir para onde quiser de acordo com seus próprios interesses e sem prestar contas, é o dinheiro.

As diversas crises de refugiados, ligadas ao colapso de vários estados nacionais geralmente promovidos por guerras, indicam claramente que os seres humanos não são dotados da mesma universalidade de que goza o dinheiro. Os sistemas de contenção da movimentação de seres humanos, as fronteiras dos Estados, impedem que tenhamos a mesma condição de liberdade propiciada pelos fundos de investimento, sempre disponíveis e receptivos onde quer que estejam. Por isso, sabemos que a Declaração Universal dos Direitos do Homem não possui vigência plena, porque um ser humano depende de seu contexto imediato para existir. Ele é um ser particular.

O dinheiro é tão espiritualizado como uma divindade  

Claro que o dinheiro é volátil e um ser humano não. Seu corpo exige uma localização específica e alguns instantes de tempo que delimitam suas condições de existência. O dinheiro é tão espiritualizado como uma divindade e não possui tais limitações. O ser humano não.

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Coronavírus: estamos todos conectados

Com a pandemia do coronavírus começamos a notar que existe uma conexão específica ligando todo o gênero humano. Se a globalização se restringia ao capital, agora começamos a perceber que o mundo é mesmo um só e que todos nós partilhamos um destino comum. Embora isso pareça teoricamente muito óbvio, o coronavírus está demonstrando que isso vale na prática, na carne de cada um de nós.

Isso significa que a miséria de uns também é a miséria de outros, que o que acomete cada um, acomete aos demais, a despeito das diferenças que existem entre todos. A violência que se estabelece em um determinado ponto da superfície do planeta – e sua respectiva dor – atinge a todos os demais. Claro que é igualmente verdadeiro que uma pequena alegria aqui também é a alegria dos demais, que um pouco de amor localizado se dissipa como amor universal.

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Mas se isso é assim, então não faria nenhum sentido continuarmos a nos sentirmos e nos pensarmos como seres isolados, guiados fundamentalmente pelas necessidades que chamamos de próprias. Se o que nos é próprio é que somos humanos, então por que seguimos imaginando que somos eus – cada um válido por si mesmo? O coronavírus nos lembra que somos todos humanos, a despeito das barreiras que possamos construir à nossa volta.