Costuma reclamar da vida? Relaxa…

Se você costuma reclamar da vida, conheça o pequeno manual para queixosos e veja como compartilhar suas reclamações com os amigos

Reclamar da vida é um comportamento recorrente no nosso dia a dia. Existem muitos tipos de queixas como a escolar, a de crime, a médica… Mas me interesso pela psicológica. Esta pode ser entendida como aquilo que o paciente apresenta como relato de seus sintomas ou do seu sofrimento e seus motivos.

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Reclamar da vida é uma característica do ser humano

O fato é que uma entre tantas características comuns dos seres humanos é a de queixar-se, lamentar-se. Costumamos nos queixar do tempo, do chefe, dos amigos enfim… De qualquer coisa ruim que nos aconteça. E nos queixamos até de coisas que não aconteceram conosco. Por exemplo, queixamo-nos do que assistimos na televisão, do que lemos online ou do que ficamos sabendo que as pessoas fizeram.

A queixa pode nos ajudar a descobrir que os outros concordam conosco, que nossas percepções e sentimentos são validados e que nossos sentimentos fazem sentido. E a queixa pode até mesmo nos ajudar a perceber que temos ligação com outras pessoas quando nos alternamos para ouvir as queixas delas.

Mas as queixas também podem se transformar em ruminação que podemos inadvertidamente despejar sobre os amigos e família. Obter apoio e fazer as pessoas ouvirem o que você diz, pode ser um equilíbrio difícil de encontrar, já que você não quer ser dominado pela negatividade quando está com os amigos. Mas é importante ser capaz de compartilhar os sentimentos, mesmo as queixas.

Dicas de como reclamar da vida com os amigos

Não gosto de dar conselhos, mas me permito dar algumas dicas sobre como compartilhar os sentimentos sem afastar as pessoas:

Edite o que você diz

Não se estenda. Caso contrário, a pessoa pode se sentir sobrecarregada e começar a se afastar. Limite o que diz em pequenos pedaços – dois minutos de cada vez, no máximo. Isso dará à outra pessoa a chance de participar do diálogo.

Dê a outra pessoa a chance de falar

Não a interrompa, não fale enquanto a pessoa estiver falando.

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Não ataque o ouvinte

Se quiser compartilhar os sentimentos com alguém, você tem de permitir que a pessoa concorde ou discorde. Se atacar quem o apoia, você comprometerá esse apoio.

Valide o validador

Permita que ele saiba que você valoriza seu apoio. Você pode dizer: “Sei que estou me queixando”; ou “Sei que isso pode soar negativo às vezes” e acrescentar: “Mas quero que você saiba que valorizo o seu apoio e sei que nem sempre é fácil apoiar alguém”.

Compartilhe as coisas positivas, assim como as negativas

Não foque apenas nas coisas negativas. Isso leva a duas coisas: rompe o fluxo de negatividade para que você não pareça consistentemente negativo e o faz pensar no positivo e colocar as coisas em perspectiva.

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Traga uma solução quando descrever um problema

Por exemplo, se você se queixa da solidão, também pode acrescentar, por exemplo, que está se inscrevendo em atividades com outras pessoas. Isso o coloca no modo de resolução de problemas, não apenas no modo de queixas.

Não pareça ser seu pior inimigo

Evite a autocritica continua, já que ela só irá se somar à baixa autoestima. Em vez de fazer afirmações gerais negativas sobre si mesmo (“Sou um perdedor”), você pode fazer afirmações especificas sobre um erro e, então, sobre o que aprendeu com ele: “Fiz a má escolha de passar algum tempo com ele, mas acho que aprendi alguma coisa sobre o que é bom para mim e o que não é.”

Respeite o conselho dado

Respeite o que as pessoas dizem, mesmo quando não gosta. Você pode dizer: “Vou pensar sobre o que disse, pois neste momento não estou certo se isso funciona para mim. Então, preciso recuar e dar um tempo. Mas agradeço o apoio porque sei que você está tentando ajudar”.

O fato é que ficamos tão focados nas coisas negativas que nos acontecem – ou no que pensamos sobre elas – que simplesmente não conseguimos parar. A outra pessoa tenta dar apoio, mas rejeitamos seus conselhos ou ajuda. Ela, então, acha que não queremos escutar seu ponto de vista e começa a se afastar.

Este é um dos caminhos que pode nos levar a ficar deprimidos porque nossa rede de apoio se desfaz. Esse padrão de queixa, rejeição de ajuda e afastamento do apoio social é um preditor importante de depressão, diz Joiner, Brown e Kistner em suas publicações de 2006.

Do mais, para encerrar recorro a Caetano Veloso que cantou “Você pensa que eu tenho tudo e vazio me deixa. Mas Deus não quer que eu fique mudo e eu te grito esta queixa”.

Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA