por Ceres Alves Araujo
"Ficar por fora da onda eletrônica é perder a comunicação com o futuro"
Isabela Frade
Nos dias de hoje, nos encontramos frente à necessidade de lidar com novas formas de grafias. O pensamento infográfico está substituindo a escrita. O processamento do estímulo visual tem primazia sobre o processamento do estímulo verbal. Como o cérebro é dependente da estimulação e do uso, com certeza, redes neurais diferentes estão sendo construídas.
O cérebro das crianças e dos adolescentes da atualidade está sendo construído de forma diferente. Eles têm acesso rápido às informações de ordens diferentes e constroem conhecimento interagindo com muitas fontes ao mesmo tempo. Suas competências para focar, partilhar e sustentar a atenção estão sendo altamente treinadas. Suas mentes são cada vez mais velozes no processamento de todos os estímulos e cada vez mais capacitado para uma eficiente memória de trabalho. Linguagens diferentes são facilmente integradas por elas.
Hoje tudo se faz em interfaces, no trabalho e no lazer. Convive-se nos espaços criados pelos meios eletrônicos, podendo desenvolver cocriações. São os espaços novos para inter-relações, não importam as distâncias no espaço, não importam os fusos horários. Existe um campo sem-fim para a sociabilidade. Para muitas pessoas, a dor da solidão foi diminuída.
A complexidade maior dos meios eletrônicos da contemporaneidade fascina os mais jovens. Porém, pode assustar os idosos. Eles usualmente têm mais dificuldade com a nova linguagem infográfica e sofrem, por exemplo, no preenchimento de formulários eletrônicos. Pertencem a uma época onde a interação com as pessoas era presencial, os livros eram de papel. São de um tempo, no qual se escrevia cartas e se esperava respostas pacientemente.
As mudanças foram muito grandes, mas é perfeitamente possível uma educação tecnológica para essas pessoas, que garantirá a independência e a autoestima, além de se constituir em um exercício cognitivo novo, indispensável à mente que precisa se manter ativa e ágil. Preconceitos podem ser afastados e o prazer dos e-books e e-magazines pode ser descoberto. A navegação em sites de interesses específicos pode ser uma aventura para pessoas que podem até ter abdicado das novas aventuras. O reencontro de amigos antigos nos sites de relacionamento pode nutrir a alma.
Vale relatar um exemplo de inclusão via internet: o projeto SOLE (Self Organized Learning Environments – ambientes de aprendizagem auto-organizadores) mais conhecido como "Vovó nas Nuvens", criado por Sugata Mitra, professor em Nova Deli.
As vovós inglesas ou e-mediadoras, do projeto SOLE, não são professoras, elas leem histórias para as crianças indianas e falam sobre temas relevantes para elas. As vovós virtuais compartilham com suas crianças a sua cultura, envolvendo os "netos" desde as primeiras etapas do processo de aprendizado, via Skype. Cria-se uma família psicológica, via web.
Esse projeto está atualmente já expandido para cidades na Inglaterra e na Colômbia, para crianças culturalmente menos privilegiadas. Segundo Mitra, esse projeto e seus resultados mostram os benefícios inequívocos que essas pessoas à distância podem trazer para populações menos favorecidas, mas evidenciam também a forma inadequada como os mais idosos são vistos. Ou seja, sempre pensamos o que poderemos fazer pelos mais idosos, mas quando esses estão capacitados para fazer uso das novas tecnologias da informação, vemos o quanto eles podem ajudar a sociedade com a sua sabedoria.
Ao invés de perguntarmos o que poderemos fazer por eles, idosos, devemos perguntar o que eles, os mais vividos, podem fazer por nós.