Por Tomas Chamorro-Premuzic
Poucos traços psicológicos são tão desejados quanto a criatividade – que nada mais é do que a habilidade para gerar ideias novas e úteis. Contudo, também é verdade que a criatividade está relacionada a uma série de qualidades prejudiciais e negativas. Estar atento a essas tendências contraproducentes é importante para qualquer indivíduo que deseja entender melhor a própria criatividade ou a de outras pessoas.
Pesquisas indicam que há uma ligação entre a criatividade e a ‘emocionalidade’ negativa. É claro que você não precisa ser uma pessoa depressiva para ser criativa, mas é verdade que há algum apoio empírico no estereótipo de artistas que tendem a ser depressivos ou sofrem com mudanças de comportamento. Em média, pessoas que são emocionalmente estáveis podem ser felizes o suficiente para não acreditar que precisam criar novas ideias. Afinal de contas, se o status quo é bom, por que mudar?
O padrão de pensamentos que define o processo criativo e conduz a ideias originais também pode ter um lado inadequado. Por exemplo, a criatividade exige a inabilidade para suprimir pensamentos à primeira vista irrelevantes e ideias aparentemente inapropriadas – e pensadores criativos também tendem a ter um controle ruim de seus impulsos.
Mais recentemente, a criatividade foi associada a comportamentos desonestos, porque presumivelmente permite que indivíduos distorçam de maneira criativa a realidade. Isso para não falar com todas as letras que pessoas criativas são antiéticas. A verdade é que a tolerância baixa desses indivíduos com o tédio e convenções sociais, junto com a imaginação vívida que possuem, torna-os equipados com ferramentas sofisticadas para enganar outras pessoas.
Pesquisas também descobriram que indivíduos criativos com frequência são mais narcisistas, e que o narcisismo pode impulsionar conquistas criativas. Uma pessoa narcisista geralmente está concentrada em si própria, desenvolvendo suas próprias ideias e pouco preocupando-se em agradar aos outros. No entanto, é importante notar que os narcisistas também acreditam que são mais criativos do que realmente são. Mas de uma maneira geral, as pessoas não conseguem avaliar corretamente o nível de criatividade de um indivíduo – pode ser que os observadores sejam levados a acreditar que um indivíduo seja mais criativo apenas por apresentar mais confiança e entusiasmo.
É claro que o lado bom da criatividade ofusca o lado negro. A criatividade está relacionada a uma ampla variedade de emoções positivas, como o engajamento e o bem-estar. Quando as pessoas são encarregadas de funções significativas e ganham autonomia sobre seu trabalho, acabam por liberar sua criatividade, usufruindo ao máximo os benefícios. No nível organizacional, a criatividade também providencia o desejo de mudança e progresso. Sem ela, provavelmente ainda estaríamos vivendo na idade das trevas.
Fonte: www.revistadorh.com.br