Crise econômica pode afetar nossa saúde e bem-estar?

por Eliana Bussinger

Por que deveríamos estar mais preocupados dessa vez? Afinal, uma dezena de crises já nos assolou nos últimos 50 anos. Os brasileiros, especialmente os mais velhos, sabem muito bem o que é uma crise econômica.

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A meu ver, no entanto, há algo inusitado a respeito dessa nova crise. Algo como uma nova dimensão psicológica que está associada com novos valores e crenças que foram introduzidas na sociedade brasileira.

Individualismo econômico

O nome dessa nova dimensão? Individualismo econômico.

Em períodos assim as pessoas passam a ter a certeza de que o fluxo de caixa – que é o dinheiro que entra no bolso de cada um – é cada vez mais variável e cada vez mais dependente do indivíduo. Ora, em épocas de crise econômica essa variação é ainda maior e, não raro, bastante assustadora.

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Simplesmente não saberemos como ela irá nos afetar e muito menos saberemos como agir. Os economistas encontrarão algo, certamente, tanto para justificar quanto para solucionar os problemas macroeconômicos que venham a surgir. Mas sob o ponto de vista individual (que é micro), creio que dessa vez teremos que requisitar o trabalho de psicólogos também.

Sim, porque essa nova consciência atuou não apenas nas relações sociais, mas no inconsciente das pessoas, direcionando-as para a individualidade, à aversão ao convívio social, a dificuldades nos relacionamentos, à ojeriza da dependência financeira.

Então, acabamos ficando sem ação e a habilidade do coletivo, do grupo, das associações. Passamos a temer os impostos que corroem os nossos ganhos. E a temer mais ainda a falta de opções para investir e garantir o nosso futuro. Os juros caem, os índices das bolsas de valores derretem… e agora, e agora? Onde investir e garantir o futuro que está sob meus ombros?

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Além da crise, surge a possibilidade da inconveniência de depender de alguém. Sim, mas nos indagamos, depender de quem? Governo, filhos, empresas? Talvez as ONGs? Não, elas não protegem a classe média.

Afinal, nunca antes vivemos um período assim. Ao contrário. No passado redes de proteção estavam por todos os lados, desde a segurança da previdência pública até aumentos salariais que compensavam as perdas inflacionárias, por exemplo.

Mas, hoje, se a crise pegar você em algum tipo de trapézio, pode apostar que ao olhar lá para baixo você verá apenas o chão duro. E isso vale, especialmente, para a classe média.

Passado

No passado, mesmo com crises, até era possível construir um futuro interessante, bastava administrar bem o dinheiro, caminhar passos lentos, mas contínuos, em direção aos nossos objetivos e – voilá – conseguíamos atingir muitos deles ao longo da vida. Havia uma forte certeza de que os salários e a correção monetária estariam lá no fim do mês. Em muitas das crises que citei no início, podia faltar dinheiro no bolso, mas certas coisas estariam disponíveis, porque não eram da responsabilidade de cada um, mas sim de todos. Sim, porque o dinheiro público não é de ninguém, como gostam de pensar alguns, o dinheiro público tem dono: pertence ao contribuinte.

Dessa vez se a crise vier e o dinheiro faltar, não será apenas moradia, vestuário e alimentação que serão afetadas. Outras coisas, cuja responsabilidade deveria ser de quem recebe nossos impostos, mas que recaíram sobre nossos ombros, também sofrerão um baque: a nossa saúde poderá ser afetada, porque pode faltar dinheiro para o seguro de saúde privado; a educação pode ir para o brejo junto com a falta de pagamento das escolas privadas; locomover-se de um canto a outro pode se tornar insuportável se não pudermos manter nossos carros; poderemos nos sentir ainda mais inseguros se a crise afetar a nossa capacidade de pagar nossos seguros de furtos e de vida.

Nosso futuro ficará ao Deus dará se não pudermos arcar com as mensalidades das nossas previdências privadas.

Sem dúvida “como nossas mães nunca mais”, como diria o subtítulo do meu livro “As leis do dinheiro para Mulheres”. Ao menos em se tratando de crises, não mais passaremos por elas da forma como passaram nossos pais, afinal, “como nossos pais também nunca mais”.