por Renato Miranda
No último texto (clique aqui e leia), abordei sobre como a crítica para o atleta pode ser um instrumento de preocupação que produz estresse negativo para o desempenho e em consequência, muitas vezes, não percebem as várias possibilidades de progresso em suas ações.
Por outro lado, foi dito que a crítica por si só nem sempre é um bom instrumento de valioso feedback e frequentemente pode ser vista como um exercício inútil.
A crítica é útil como feedback quando se aprende a interpretar a fonte (qualidade da informação e intenção) e a filtrar o(s) conteúdo (s) relevante (s).
Para que isso seja possível, o atleta necessita de muito esforço, dedicação e orientação de qualidade quando de sua formação esportiva e treinamento. Com o intuito de facilitar um roteiro inicial desse aprendizado proponho algumas diretrizes:
O passo-a-passo para transformar crítica num bom feedback
1) Relativize a crítica negativa:
O primeiro desafio é compreender como nos ensina *Jackson e Csikszentmihalyi, que no esporte (ou tudo aquilo que se deseja fazer em alto nível) é impossível ter sempre sucesso. Uma vez ou outra o fracasso baterá à porta. Portanto, é bom desde cedo aprender a equilibrar o desejo de fazer algo bem feito com a necessidade de precisão (isso traz sucesso).
Outro ponto importante a se considerar é a dificuldade de se manter uma atividade positiva frente às críticas (ou feedback) negativas. Isso se deve por que há uma tendência do atleta/pessoa perceber o feedback negativo com mais poder (força!) do que o feedback positivo.
2) Interagir com os companheiros de equipe de modo positivo:
É antes de tudo oferecer a cada companheiro tudo aquilo que se tem de melhor para se criar uma relação orientada ao êxito, tanto nos níveis de desempenho esportivo (ações técnicas e táticas) como nas relações interpessoais a fim de se estabelecer relações emocionais desejáveis. Lembre-se, a crítica produzida por aquele que não gosta do outro é difícil conter algo intencionalmente positivo.
3) Evitar distrações:
No esporte há muitas fontes de informações que geram distrações e, portanto, prejudicam a concentração. Tanto no treinamento quanto na competição é fundamental que o atleta não valorize as provocações, principalmente aquelas vindas dos adversários.
A torcida pode ser uma importante fonte de distração com seus comportamentos exacerbados e reações agudas. O atleta precisa aprender a conviver com essa característica e saber administrar suas atitudes e principalmente seu potencial de se manter atento às suas tarefas.
A mídia nas suas mais diversas possibilidades: jornal, rádio, televisão, internet e outras são fontes de distração para o atleta quando esse valoriza excessivamente a avaliação que os outros fazem de seus comportamentos. Nesse caso correm o risco de substituir o foco de seu desempenho que são as ações/tarefas específicas pela necessidade constante de se proteger (ego) da opinião externa.
4) Comunicação aberta:
O diálogo é um dos grandes instrumentos da educação e de treinamento. O diálogo é a matéria-prima da comunicação aberta – franca e sincera. A comunicação aberta favorece o feedback positivo. Aquele centrado na tarefa que ajuda toda a equipe e demonstra desejo claro de melhoria do desempenho profissional e pessoal.
Vale ressaltar que a crítica quando advinda de uma comunicação negativa prejudica o desempenho da equipe e enfraquece a motivação do atleta. É o tipo de crítica que é centrada no resultado e não na tarefa. Em poucas palavras, quando se vence está tudo ótimo, quando se perde está tudo errado.
Nesse sentido é fundamental relativizar imediatamente a fonte da crítica. Ou seja, se ela vem de alguém que realmente gosta do atleta e quer ajudar a melhorar o seu desempenho, ela tem um forte traço positivo (centrado na tarefa). Se a crítica parte de alguém que não tem afeto ao atleta e visa apenas o resultado, ela tem um forte traço negativo (centrado no resultado). Nesse caso a melhor dica é: simplesmente esqueça!
* Dois estudiosos sobre feedback no esporte