por Lilian Graziano
No início do atendimento em psicoterapia ou coaching positivos que oferecemos no IPPC, aplicamos no cliente uma versão do VIA, inventário desenvolvido por Peterson & Seligman para a identificação das chamadas forças pessoais, ou seja, qualidades que o mesmo possui e que correspodem àquilo que de melhor ele tem a oferecer como ser humano.
Essas características, como já dito e repetido aqui, são nossos recursos para o enfrentamento da vida, e a evolução do indivíduo ocorre, na Psicologia Positiva, tanto com base no aprimoramento de forças listadas em sua assinatura pessoal (as cinco primeiras forças do ranking gerado pelo inventário), quanto no desenvolvimento de suas forças menos utilizadas, dentre outras estratégias que podem ser aplicadas. O foco principal, no entanto, nunca são os déficits. E isso tem uma razão de ser.
Pesquisas demonstram que algumas forças “adormecidas”, que aparecem lá no fim do ranking, podem se desenvolver quando nos aplicamos em exercitar nossas forças principais em um nível de excelência. Que, ao repetir o teste VIA, depois de um tempo, o indivíduo pode se surpreender com esse tipo de resultado, verificando um reposicionamento de forças no ranking. Pode acontecer de, ainda, as forças pouco usadas no ranking terem as consequências negativas de seu seu pouco uso completamente neutralizadas com o exercício e o uso intenso da assinatura pessoal.
Isso ocorre porque um comportamento de excelência num determinado campo, muitas vezes, pode influenciar nossas ações de maneira geral, o que, por sua vez, alimenta a crítica que se faz quando, em desenvolvimento humano, trabalha-se apenas com superação de déficits.
Algo assim me chamou a atenção em uma newsletter que recebo semanalmente (ou quinzenalmente, já não sei), do próprio Via Institute, entidade que disponibiliza o inventário de Peterson & Seligman. A interlocutora, cuja narrativa descrevia uma tentativa de “calibragem de forças”, partiu em uma missão pessoal que envolveu dias de peregrinação, jejum e oração pela Humanidade, cujo objetivo, além de promover boas energias para nosso povo, era desenvolver ainda mais a sua espiritualidade, uma das forças de sua assinatura. Com isso, esperava também desenvolver suas forças menos utilizadas, como humildade e autocontrole.
Qual não foi sua surpresa ao ver que, mesmo resistindo ao jejum, às duras posições de oração, horas a fio, seu autocontrole diminuiu no ranking. Mas a espiritualidade e a perspectiva subiram na lista, e ficou óbvio que o engajamento nessas forças neutralizou qualquer problema de controle do corpo e da mente que pudesse atrapalhar sua missão.
Engajar-se em projetos que envolvam seus melhores recursos é gratificante, o foco e o empenho são mantidos mais facilmente e com mais prazer, ao passo que exercitar características que não nos são familiares geram estresse, fugas, distrações…
Assim sendo, vale aqui fazer a apologia da excelência: seus melhores recursos ainda podem ser aprimorados. A cultura de excelência pode ser incorporada em todos os aspectos de sua vida sob esse processo. Ainda, você pode descobrir que, para exercer os seus melhores recursos, o que lhe dá muito prazer, é preciso desenvolver aqueles recursos “adormecidos” – e você o fará de forma motivada e feliz!