por Antônio Carlos Amador
Quando falamos do tempo psicológico estamos nos referindo à estimativa ou experiência subjetiva do tempo. Nós somos capazes de refletir sobre nosso passado e de projetar nosso futuro.
Em cada uma das épocas de nosso ciclo vital predomina um sentido de tempo. Na infância e na juventude nosso pensamento se dirige sobretudo para o futuro: desejamos, realizamos projetos, vivemos considerando o que virá.
Na maturidade oscilamos entre o vivido (fonte de experiência) e o que ainda, tendo em conta o tempo e as circunstâncias presentes, poderíamos alcançar. Por fim, na última etapa de nossa existência nosso olhar se volta, mais nostálgico em uns casos e menos em outros, para o que já acarretou o tempo.
Apesar dessas generalizações, em todas as épocas nossa mente flutua entre passado, presente e futuro. No equilíbrio dessas três temporalidades se encontra a chave da tranquilidade e da estabilidade mental. O depressivo vive predominantemente no passado, triste pelo que perdeu ou por quem já não está mais presente. O ansioso só leva em conta os problemas ou possíveis perigos futuros. Ambos são incapazes de vivenciar integralmente o presente. Uma pessoa equilibrada aprende com seu passado, mas não se enclausura nele; olha o futuro, mesmo que existam incertezas com as quais não se preocupa e trata de gozar também o instante presente, sem que sua mente se distraia do que vive nesse momento.
Vivemos numa época em que nossa sociedade supervaloriza a juventude. O jovem é bonito; o maduro a deterioração dessa beleza. Portanto, ninguém mais velho pode ser considerado atraente se não mantiver os atributos da juventude. Ao mesmo tempo, uma "regra social", implicitamente assumida, diz que cada qual deve aceitar a idade que tem e não desejar aparentar o que já não é. É por isso que causam estranheza aquelas pessoas que, devido à sua falta de aceitação da passagem do tempo, fazem o possível para alterar seu aspecto físico, a fim de aparentar a todo custo uma juventude que já os abandonou. É claro que não há mal nenhum em cuidar-se e tentar apresentar um bom aspecto, até mesmo porque isso também é promovido pela cultura. Mas quando, por intolerância frente ao envelhecimento natural alguém se veste, se arruma, se junta com pessoas que têm vinte anos menos, ou passa diversas vezes por cirurgias plásticas, tudo para não parecer quem realmente é, essa pessoa cai no ridículo. A contradição entre as injunções sociais: "só os jovens têm capacidade" e "aceite a passagem do tempo" situa muitos homens e mulheres em uma situação extremamente delicada.
Algumas pessoas têm dificuldades em deixar para trás a época juvenil, talvez pelo desejo de permanecerem livres das responsabilidades e encargos demandados para o desenvolvimento da vida adulta: o rompimento da dependência parental, o desenvolvimento de uma ocupação produtiva e responsável e o estabelecimento de relações de amizade e de intimidade comprometidas e maduras.
No núcleo dessa concepção se encontra o rechaço a qualquer tipo de autoridade, ou ainda a mudança constante como valor e uma postura contrária a qualquer hierarquia. Como consequência, se questiona a utilidade do esforço (já que tudo pode variar) e do compromisso, a direção da vida para uma realização concreta ou a aquisição de alguns conhecimentos (laborais ou pessoais) "seguros". Em geral, tudo que pareça ser "jovem" é considerado divertido, enquanto que o "adulto" ou "maduro" é tachado de aborrecido, desagradável e pesado.
O fato importante é que nosso tempo é breve e passará, independentemente daquilo que possamos fazer. Então devemos ter um propósito que o torne importante para nós e para aqueles com os quais nos relacionamos.
Onde podemos encontrar um propósito? No presente. E devemos lutar para mantê-lo no futuro. O importante é lutar por algo.