por Ceres Alves de Araujo
Por duas vezes, nessa coluna, escrevi sobre a necessidade de se ensinar ética às crianças. A primeira vez foi em agosto de 2007, quando tratei do porquê ensinar ética aos filhos. Considerei ser ética uma matéria importante, que faz parte do aprendizado de vida, no qual os pais devem ser os melhores professores.
Novamente tratei da ética, nesse espaço, em relação às crianças, em junho de 2014, frente às primeiras notícias sobre corrupção, mensalão, movimentos contra o gasto descabido na Copa do Mundo etc, que despertaram a curiosidade e depois o espanto das crianças.
Já era difícil na época explicar para os filhos que vários de nossos políticos, nossos representantes eleitos, são em muitos casos indignos, mentirosos ou corruptos, que o dinheiro público quando não é roubado, é desviado para fins eleitoreiros e que nosso País tem a educação e a saúde abandonadas.
Se já era difícil naquela época, atualmente chega a ser constrangedor. As crianças estão, muitas vezes, rodeadas de familiares, amigos, vizinhos, conhecidos que publicamente sofreram delações ou mesmo foram presos.
É cada vez mais difícil tratar dessas questões com as crianças em uma sociedade onde a desonestidade parece ser regra e numa época de mentiras e irresponsabilidades, na qual se lida com a ética como se ela fosse algo maleável e adaptável a cada contexto.
Sabemos que as crianças precisam sempre ser ensinadas à verdade e devem aprender a serem responsáveis por suas ações, desde os primeiros tempos de vida. Na relação com seus pais, modelos de identidade, elas vão, progressivamente, internalizando nas suas mentes, um código moral de regras, valores e princípios que dirigem a sua conduta.
Princípios e valores sempre foram e continuarão a ser o que caracteriza a humanidade no homem e continuarão imprescindíveis para nos manter civilizados. Posteriormente, com o crescimento, o ser humano adquire também um código ético, que é um conjunto de princípios a ser seguido de forma livre na vida de cada um. Ou seja, é aquilo que nos obrigamos a respeitar, porque livremente nós decidimos acatar.
Pois bem, vivemos uma fase de crise de todas as ordens, de crise moral e ética. Como, então, evitar que nossos filhos percam o patriotismo, o sentimento de orgulho, o amor e a devoção à Pátria e a solidariedade com seus compatriotas? Como dar-lhes a esperança de um futuro melhor? Onde, nós adultos, poderemos nos agarrar a essa esperança?
Estamos nos confrontando com uma situação de adversidade que parece sem limites e sem fim. Sabemos que crises, catástrofes, traumas ou perdas de ordens diferentes ocorrem desde o início até o fim da vida. Cyrulnik, é um dos maiores especialistas em resiliência e ele adverte que se deve atuar sobre todas e cada uma das fases das adversidades. Cabe aos adultos essa atuação.
Papel dos pais
Assim, há um momento político para lutar contra os crimes, há um momento filosófico para compreender e criticar as teorias que explicam os crimes, há um momento ético para buscar saídas e há um momento resiliente para retomar o curso da existência. Cabe aos pais fazer essa elaboração, para que possam, depois, tratar dessas questões com os filhos.
Será fundamentalmente com o nosso exemplo e não com pregações ou sermões, que poderemos ensinar às nossas crianças que fins não justificam os meios, que bens de consumo, liberdade, prazer e felicidade se conquistam com condutas éticas, com escolhas que tenham sentido e não buscando levar vantagem ou ganhar sempre a qualquer custo.
Enquanto pais e adultos responsáveis pelo desenvolvimento de crianças, urge manter nossa autoestima enquanto brasileiros, no meio da situação caótica que nos rodeia. Talvez, assim consigamos reagir com resiliência e eficácia, vislumbrando e criando oportunidades para transformar a trajetória de risco que segue nosso País em um caminho com possibilidade de um final mais feliz.
Oxalá esse conjunto de crises possa ter o sentido de encaminhar um processo de crescimento mais moral e mais ético para nosso País no futuro. Não podemos, desesperançosos, deixar que nossos filhos percam o patriotismo, o sentimento de orgulho, o amor e a devoção à Pátria e nem a solidariedade com seus compatriotas. Cumpre, sobre tudo, ensiná-los a serem os construtores de um País diferente, ético.