De A a Z: o significado do que sentimos ao amar: raiva

Sentimento – verbete – explicado a partir do e-mail enviado por esta leitora:  

“Boa tarde. Eu e meu marido brigamos por qualquer besteira. Estamos juntos há sete 7 anos e temos uma filha de dois anos. Quando discutimos, ele quebra tudo dentro de casa. E o pior: sou eu quem dou um jeito de comprar. Ele me manda embora, terminamos muitas vezes e ele finge que  não me conhece, me ignora e sou eu quem peço para voltar. Ele é trabalhador, sempre está comigo e com nossa filha no seu tempo livre. Nunca vi nada de errado nele. Ele fala que a culpa é minha e que não consegue viver ao meu lado. Eu sofro muito e gosto muito dele. Já não sei o que fazer… me ajudem?”

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Por Anette Lewin

Você está falando de explosões de raiva do seu marido que acontecem em decorrência das brigas de vocês.

Todos nós, em algum momento ou outro, sentimos raiva: raiva por uma frustração , porque alguém nos prejudicou, por estarmos passando por uma situação difícil. Ter raiva, portanto, não é anormal. O problema é como lidamos com essa raiva.

Um dos princípios básicos de uma sociedade civilizada é controlar as emoções, principalmente as negativas, de forma a evitar a agressão física. Agressão física é a reação mais primitiva para externar uma emoção.

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No seu relato, seu marido, ao sentir raiva de você, quebra as coisas dentro de casa. É uma forma de agredi-la. Principalmente porque são coisas que você compra e depois repõe. Talvez, se pensarmos nos danos que a agressão física pode causar, quebrar coisas é melhor do que quebrar você. Com a atual onda de agressões contra mulheres e feminicídios, você ainda, de certa forma, acaba sendo poupada em sua integridade física. Por enquanto. Mas, de qualquer forma, certamente, esse tipo de violência não é aceitável.

Você diz que também é de briga, também põe sua raiva para fora. De outra forma, talvez. Mulheres, em geral, agridem mais verbalmente, são mais ardilosas. Quando ficam com raiva provocam com palavras. Diferente dos homens que partem para o ataque físico. Portanto, não podemos dizer que num relacionamento em que ambos têm dificuldades de controlar sua raiva existem mocinhos e bandidos. O que existem são duas pessoas que resolveram conviver e fazem isso visceralmente, expondo abertamente suas emoções, tocando nas feridas alheias e brigando muito.

É impossível esse convívio?

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Bem, vocês já convivem assim há seteanos e, pelo que você diz, quem pede para voltar depois das agressões é você. Parece que para você, a raiva passa logo; para ele não. Ou sua autoestima está tão rebaixada a ponto de achar que não consegue levar sua vida sem ele. Cabe então a você pensar por que insiste num relacionamento que, olhado de fora, é tão agressivo.

Embora cada um tenha seus motivos para manter relacionamentos, é importante que cada um saiba os riscos e as vantagens que esse relacionamento proporciona. Uma pessoa que não controla sua raiva e parte para a violência, certamente, representa um risco. Se hoje ele quebra coisas, amanhã pode agredir você. Então vale a pena repensar se, quando ele, explicitamente, diz que não quer mais ficar com você, não é mais lógico você aceitar a realidade e refazer sua vida. Porque na maioria dos casos de agressões violentas ou feminicídios, é a mulher que quer ir embora e o homem não quer.

Você ainda tem a chance de evitar chegar ao ponto em que a raiva seja tanta, que dela nasça a necessidade de manter a pessoa por perto só para agredi-la ou até matá-la. Os casos estão na mídia para confirmar.

Se você, como diz, ainda gosta dele e não está decidida a sair do relacionamento, mesmo com essas brigas todas, talvez valha a pena procurar uma terapia de casal como uma tentativa mais racional para tentar melhorar esse relacionamento.

Às vezes tomar consciência do que gera essa raiva toda entre vocês, possa ajudar a buscar soluções menos destrutivas para vocês e para a criança que acaba presenciando tudo sem poder fazer nada. Enfim, tente fazer alguma coisa para não deixar que, em algum momento, você se encontre numa situação em que, assim como uma criança indefesa, nada mais possa fazer.
 

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.