Por Juliana Vannucchi
O ser humano é um ente cuja vida está sempre oscilando entre dualidades. Por vezes as pessoas encontram-se felizes, em outras ocasiões, tristes. Em alguns dias sentem-se completas, no outro dia, vazias, em alguns momentos sorriem, no outro choram. E claro, somos todos compostos por uma dualidade interior de luz e sombra, ou seja, carregamos dentro de nós um lado cheio de virtudes e de coisas que nos agradam e que agradam aos outros, e um lado negro, revestido pelo que tentamos evitar e/ou negar em nós mesmos.
Muitas vezes é difícil enfrentarmos esse nosso lado sombrio, uma vez que ele não representa aquilo que a maior parte das outras pessoas deseja ver em nós. Nossas sombras são formadas por um conjunto de sentimentos, emoções e imagens mentais que geralmente preferimos ocultar de nós próprios. Queremos conforto, almejamos a luz e, muitas vezes, para atingir tais objetivos, mentimos para nós mesmos, criando ilusões que podem proporcionar alívio, embora tendam a nos afastar da verdade.
É fácil mentir para si mesmo – geralmente é um hábito cotidiano e tão familiar, que pode passar despercebido. Porém, é muito nobre enfrentarmos nossa plenitude, desfazendo essas mentiras com as quais tentamos nos aliviar, e encarando as imperfeições e as sombras que existem dentro de nós. É preciso reconhecer que temos falhas, que não somos inteiramente luz e virtude, que somos compostos de misturas de sentimentos, emoções e pensamentos, que nem sempre consistem apenas em coisas belas e boas.
Voltar a atenção para nosso lado sombrio é um ato de nobreza, de coragem e ousadia. É uma ação necessária para romper com o autoengano, com as fraudes que cometemos ao nosso próprio espírito quando o enganamos. É preciso abandonar a zona de conforto e trocar esse conforto pela batalha e pela busca da verdade, ou seja, pela busca daquilo que somos integralmente, ainda que essa plenitude não seja formada apenas pelo que nos satisfaz.
"A mentira mais frequente é a que se conta para si mesmo; mentir para os outros é relativamente a exceção". – Friedrich Nietzsche.