por Danilo Baltieri
Resposta: Já em 2005, no Estado do Acre, a droga “oxi” tinha sido alardeada por jornais como mais letal do que o crack.
Similarmente ao processo de manufatura da “merla” (outra droga derivada da pasta de cocaína), querosene e óxido de cálcio (cal virgem) são mencionados como ingredientes constantes do “oxi”.
Entretanto, uma miríade de muitos outros ingredientes nocivos tem sido descritos na manufatura dessas drogas, como gasolina, ácido de baterias, acetona, etc.
A quantidade e diversidade dos ingredientes dependem de cada traficante. Algumas fontes têm chamado a “merla” de base e o “oxi” de pedra.
Até o momento, parece que quatro tipos diferentes de substâncias similares ao crack circulam pelo Brasil: as pedras de crack propriamente ditas (mistura de cocaína com bicarbonato de sódio), a pasta base de cocaína, merla (uma mistura de pasta base com alta concentração de solventes, especialmente ácido de baterias) e o “oxi”.
Pesquisadores da rede de Redução de Danos no Acre registraram que fumantes de “oxi” demonstram rápida e curta euforia após o uso. O tempo de duração de cada pedra de “oxi” é de menos de 15 minutos e o consumo de bebidas contendo diferentes tipos de álcoois é bastante comum, em um ritual de consumo que ultrapassa 6 horas. Relatos de vômitos e diarreias durante o ritual de consumo também têm sido feitos, mas atribuídos não apenas ao efeito do “oxi”, mas principalmente ao uso de bebidas contendo diferentes tipos de álcoois.
Merla, “oxi” e outras combinações são todas derivadas da pasta base de cocaína. Os ingredientes de cada tipo variam bastante, não apenas entre os tipos mencionados, mas muito amiúde dentro de um mesmo tipo.
O “atrativo” da droga “oxi” é o preço, que tem sido menor do que para outras drogas derivadas da pasta base de cocaína. Tendo em vista a combinação entre: efeito psicoativo da cocaína, uso comumente fumado, rápido efeito, existência de adulterantes altamente nocivos, associação com a utilização de outras substâncias psicoativas, a droga demonstra efeitos devastadores.
Até o momento, virtualmente nenhuma pesquisa científica tem sido publicada em jornais especializados especificamente sobre o “oxi”. Isso se deve provavelmente à recente disseminação da droga. No entanto, aliado às estratégias de prevenção do uso da droga e repressão ao tráfico, pesquisas sérias devem imediatamente ser conduzidas, não apenas as de cunho epidemiológico, mas em especial as de cunho terapêutico.
Dentre as perguntas que diariamente recebo dos leitores do Vya Estelar, as mais frequentes têm sido relacionadas ao consumo de crack. De fato, estamos diante de um grave problema que precisa ser manejado de maneira séria. O problema do consumo de drogas como o crack, merla, “oxi”, e outras ‘variações sobre o mesmo princípio ativo’, transcende a seara médica e ultrapassa barreiras culturais, geográficas e sócioeconômicas. Logo, a parceria saudável e equilibrada entre diferentes disciplinas deve estar acontecendo no sentido de tentar frear o problema.
A síndrome de dependência de crack é uma doença com raízes neurobiológicas cada vez mais claras. A perda do controle sobre o consumo da substância é um dos grandes marcadores do problema, aliada aos prejuízos sociais, à saúde, profissionais e familiares concomitantes. O tratamento deve ser sempre interdisciplinar, envolvendo médico especialista, psicólogo especialista, assistente social e uma rede de outros profissionais atuantes.
Os dependentes de crack constituem uma população bastante heterogênea. Isso significa que uma única fórmula terapêutica pode não ter a mesma efetividade para todos os pacientes.
Dessa forma, o tratamento deverá ser adequadamente individualizado, a partir das características intrínsecas e extrínsecas do usuário.
Por se tratar de uma doença crônica, adquirida a partir do consumo da droga, induzindo inúmeras alterações do funcionamento cerebral, caracterizada por recorrentes episódios de recaída e falha na adesão ao manejo psicossocial, a utilização de medicação com eficácia comprovada tem sido um importante foco de pesquisa ao redor do mundo.
No Brasil, pesquisas envolvendo a utilização de medicações para o tratamento desse grave problema de saúde pública devem ser continuamente incentivadas.