por Johann Heyss
Os números estão presentes em tudo, e todos lidam com eles de maneira automática. Mesmo pesquisadores de esoterismo nem sempre vêem os símbolos que são inerentes aos numerais no cotidiano, ficando ligados demais aos métodos da cabala, numerologia ou tarô para lidar com os números.
Nossa sociedade considera os números apenas como uma ferramenta de organização; isto é o que aprendemos na escola. Lembro que, ao aprender os rudimentos básicos de matemática quando criança atribuía determinada personalidade a cada um dos números. Esta era minha maneira de defini-los diferenciá-los, mas isso só durou até cerca dos seis anos de idade: depois disso comecei, pouco a pouco, a ver os números como qualquer pessoa "normal" faria, ou seja, em termos de quantidade e orientação.
Aproximadamente dez anos depois, descobri a numerologia. Durante todo o período escolar, a exatidão e aparente rigidez da aritmética havia me apavorado como um trovão súbito num céu azul brilhante. Os monstros de meus pesadelos tinham a forma de números, ou talvez os cálculos nos quais eles estavam envolvidos me parecessem aterrorizantes. A numerologia então desvelou a mim o aspecto onírico dos números, sua essência e traços originais, fazendo-me relembrar a pálida memória que tinha deles como "seres" quando criança. A numerologia funcionou como um ponto de mutação.
A despeito de ser a numerologia um instrumento eficiente para entender personalidade e existências, os números não são a numerologia em si, bem como não são cabala e nem eneagrama. É isso que os estudantes de filosofias esotéricas nem sempre entendem, que os números são símbolos básicos para nossas mentes e almas, pois antecedem a tudo e todos, inclusive a todos estes cálculos nos quais os números são mais ou menos evidentes – seja uma das técnicas esotéricas citadas acima ou uma das disciplinas cientificas como matemática, física, química, etc.
De toda forma, a numerologia – que deriva da cabala, sendo uma versão ocidental da *gematria cabalística – fez-me ver os números de novo como energias distintas, quase como entidades, ainda que eu sempre tenha tido consciência de que os números não são seres de verdade, mas vibrações de arquétipos, ou seja, algo próximo da idéia de elementais, ainda que indo além dos quatro elementos ao sintetizar a vasta multiplicidade de fenômenos e seres.
Tome os doze números (0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 11, 22) como **arquétipos essenciais e comece a reparar como e quando eles aparecem no seu dia-a-dia, de maneira explicita ou implícita. Você sentirá despertar em si a consciência de que há uma voz silenciosa sussurrando mensagens através dos números, como se estes fossem a sinalização numa estrada.
Quando tomamos consciência dos símbolos nele contidos, é como abrir os ouvidos a uma nova língua, e fica mais fácil ver o mundo como um oráculo que tem sua base nos próprios números, ainda que inclua quaisquer outros elementos, pois os números são representações da totalidade das coisas e seres. Da mesma forma que as disciplinas cientificas não são um objetivo em si mesmas, mas uma forma de chegar a algo, nenhuma técnica esotérica deve ser tomada como objetivo final.
Quando percebi isto, entendi o que uma amiga me disse tempos atrás sobre seus métodos divinatórios. Ela é uma mulher que estuda os mistérios femininos da bruxaria, e fiquei impressionado com sua resposta quando a perguntei se costumava usar algum oráculo: "Prefiro ler edifícios, pássaros e nuvens que ler cartas ou mapas''. Confesso que não entendi completamente a idéia na época, mas à medida que me aprofundei em experimentações com o universo dos números e suas conexões com planetas, cores, mitos, aromas, elementos, etc., minha mente despertou para o fato de que todas as coisas são símbolos e oráculos em potencial, dependendo apenas da "moldura mental" do individuo.
Assim, o primeiro edifício que vemos ao olhar pela janela possui uma cor, um formato, um certo número de janelas e vários detalhes que formarão uma idéia – e esta idéia traz uma mensagem, a qual pode ser uma resposta para sua questão pessoal ou um conselho em momento de dúvida. O mesmo se aplica a uma nuvem e seu formato, sugerindo uma série de idéias, e assim por diante com todas as coisas no mundo.
Os antigos alquimistas entendiam as alegorias nas quais as fórmulas eram escritas, mas para o homem médio são apenas palavras estranhas. O mesmo se dá com as ilustrações alquímicas, que registravam formulas sem usar palavras, apenas símbolos. Tomando-se os números como ***glifos, aprendemos a decifrar as fórmulas que trazem, e finalmente usar estas fórmulas para nosso próprio crescimento.
'É número 11'
Vejamos um exemplo. Imagine que você está vivendo um momento de profunda dúvida em sua vida. Você tem um trabalho estável há dez anos e o destino lhe traz a chance de trabalhar em algo diferente. O desafio e a novidade lhe atraem, ainda que haja insegurança quanto a deixar o emprego ao qual você inevitavelmente se acostumou. Você então sai para uma caminhada, tentando clarear a mente e conseguir alguma resposta consigo mesmo. Ao caminhar pelas ruas, você passa pelas pessoas como se elas lá não estivessem, sentindo-se totalmente mergulhado nas interrogações de sua mente. Quando se encontra um tanto angustiado pela dúvida, pergunta a si mesmo de maneira consciente: "o que eu vou fazer?", e é então que escuta a conversa de duas pessoas pelas quais você vem a passar exatamente naquele momento. Uma delas diz: "é número 11".
O mesmo processo poderia ocorrer de outra maneira, digamos, você poderia formular uma pergunta de maneira consciente e de repente perceber um número 11 em um edifício, casa, ou seja, o que for. Ou alguém usando uma camiseta com o número 11 cruza seu caminho. Ou mesmo ainda o sino da igreja toca onze vezes. Não importa como o número vem, o importante é o número em si, pois ele traz uma mensagem.
Algo faz cair a ficha. De alguma maneira curiosa, você sente que esta é a resposta para sua pergunta. O que fazer? É número 11. Se você sabe o que significa este número, ou seja, se você tem uma impressão sobre o mesmo, a coisa soará como uma mensagem. Neste caso, lembremos que o número 11 implica excesso, pois está além da perfeição e finalização de 10.
Desta forma a mensagem começa a tomar corpo, sugerindo que a mudança de emprego seria melhor que manter uma condição de vida já estabelecida. Conclui-se que a sugestão é seguir adiante, então mudar de emprego seria melhor que manter uma condição de vida já estabelecida. Por outro lado, se o número fosse 10 ao invés de 11, a idéia seria continuar trabalhando no mesmo local – uma mudança seria até mesmo arriscada, já que 10 é a confirmação do que já existe. Ao contrario de 11, 10 não é o começo de um novo caminho.
Obviamente, extrair impressões de coisas e formular uma mensagem tomando por base tais pensamentos é algo próximo da superstição. Um dia um adepto de mente curta declarou que, sendo o triângulo a representação da divina trindade (a lei do triângulo), passar por debaixo de uma escada seria como adentrar o ser divino, Deus, o que seria então uma blasfêmia a ser punida pelo Criador com ondas de má sorte sobre o pecador. É assim que as superstições se formam. Porque cruzar a divindade – passar por debaixo da escada – seria algo necessariamente aziago? Para mim, pelo menos, adentrar a divindade seria equivalente a receber suas bênçãos.
A coisa toda não é aleatória, ao contrário do que possa parecer inicialmente. Há uma interpretação correta para o significado de cada número. Não se pode simplesmente ''achar" que um dado número tem uma certa característica, e ponto. Os números são emanações vivas a serem pesquisadas, levando os estudantes a um ponto de convergência entre os símbolos numéricos na natureza, na matemática e na filosofia.
Portanto, se o número 7 é considerado introspectivo e observador, é precisamente devido a seu comportamento matemático, que indica tais características. O conceito de seu arquétipo é o resultado da observação de sua dificuldade em co-operar com outros números na primeira década: para encontrar 7 como resultado de uma divisão, é necessário dividir 14 – que extrapola a década – por 2; além do que, o número 7 não deixa de quebrar a conexão do grupo em outros esquemas: [2 x 2 = 4;] e [3 x 3 = 9; 9 : 3 = 3); ou seja, todos os números da década participam de operações de divisão e multiplicação, com a exceção de 7.
Se você observou bem, há de ter reparado que o número 1 também quebra esta corrente, mas 1 não é um número, mas o número original, a unidade – todos os outros números são desenvolvidos a partir de 1. Desta forma, entre os números arquetípicos que formam a década, 7 é o primeiro e o único a tentar a individualidade em seu sentido mais acurado – isolamento intencional em oposição à natural liderança de 1.
Após brincar com os números através de cálculos e associação, suas personalidade aparecem claramente, e assim seu sentido se torna bastante compreensível, ajudando-nos a conectar com nossas intuições mais elevadas e mais profundas. É uma experiência iluminadora, ainda que às vezes o desvelar da teia densa e invisível que nos envolve possa ser chocante para pessoas excessivamente presas a noções preconcebidas. Afinal, a natureza é dinâmica, e mudança é a única certeza.
Mensagens dos números
Mesmo se você não tiver nenhuma atração em particular pelos números como símbolos, mesmo assim é possível entender a mensagem que eles sussurram ao associar números e planetas, mitos, oráculos, seja o que for. A mensagem do número 1 é sempre solar e masculina, enquanto 2 se apresenta como uma delicada gota lunar. O número 3 fala pela boca da criança, e 4 é o trabalho do operário. 5 é o impulso flamejante da mudança, 6 é a conservação emocional. O número 7 observa à distancia e 8 é a emanação de Ma'at – deusa egípcia da justiça.
9 se aproxima do excesso, mas apenas 11 completa o trabalho de alargar fronteiras. 22 é a parte mais transcendente da matéria.
Claro que estas são pequenas sugestões dos arquétipos dos números. O aprendizado sobre o que eles têm a transmitir é imenso, pois os números são simbolismo do começo, do fim e mesmo dos períodos antes do começo e depois do fim. O número 0 apreende qual pré ou pós-abstração. Como a árvore da vida cabalística representa muito bem, antes do mundo como o conhecemos não havia nada, ou seja, 0. O primeiro ser estava implícito neste nada, e quando veio a aparecer, continha em si o potencial de ser dividido, criando assim o número 2, que por sua vez adiciona-se a 1 para gerar 3, e assim por diante.
Indo mais fundo nesta observação, vamos pensar sobre nossa sociedade e o modo que ela reflete sua atmosfera em números oficiais, como datas.
A relação entre as quatro últimas décadas e os números
Década de 60
A década de 60 está marcada na historia como a época do flower power, o movimento paz e amor como uma forte reação contra a guerra. 6 é o número do amor em si mesmo, não só o amor de amantes, mas da família, amor social – o número de Adonai, o Cristo/Buda interno, o anjo guardião.
Década de 70
Os anos 70 trouxeram criticas ao sonho da geração paz e amor, mas foi também uma época na qual experiências com misticismo e esoterismo tomaram mais corpo, quando a juventude ocidental começou a buscar várias formas de manifestação espiritual, dando base ao fenômeno nascente da new age.
Década de 80
Os anos 80, por outro lado, foram bastante materialistas; um período duro com o aparecimento da aids e a atmosfera de guerra fria. As causas e efeitos das décadas anteriores se cristalizaram nesta década.
Década de 90
Nos anos 90 havia uma sensação de libertação e também os saltos tecnológicos, ainda que houvesse também muito estresse, dada a urgência e pressa do número 9. Agora estamos vivendo um período 0, que implica várias coisas sobre as quais devemos meditar.
Não se deve esquecer que as classificações numéricas de ano, mês, etc., são puramente arbitrárias. Não estamos efetivamente vivendo no ano 2004, como se sabe. Ainda assim, isso não invalida o fato de que convenções numéricas como essas refletem a organização coletiva de nosso tempo, e é a base na qual se pode trabalhar para analisar um mapa e, mais que tudo, entender o mundo como sendo o oráculo de cada individuo, e os números como seus principais glifos.
*Gematria é uma técnica pela qual se soma as letras de uma palavra ou nome (o que é possível por serem as letras também números no alfabeto hebraico) para se extrair um número que a represente.
**Arquétipo segundo o Dicionário Houaiss: "para C.G. Jung (1875-1961), conteúdo imagístico e simbólico do inconsciente coletivo, compartilhado por toda a humanidade, evidenciável nos mitos e lendas de um povo ou no imaginário individual, esp. em sonhos, delírios, manifestações artísticas etc.; imagem primordial"
***Glifos segundo o Dicionário Houaiss desenho ou caráter simbólico freq. gravado ou cinzelado em relevo