por Patricia Gebrim
Um dos maiores enganos que vejo as pessoas cometerem é o de delegar aos outros a responsabilidade pelas pelas próprias escolhas. Baseiam suas atitudes nas atitudes das outras pessoas e vivem em constante dependência do que o outro irá fazer. Ora, se "quem eu sou" existe sempre em função de como as "outras" pessoas agem, então onde está meu verdadeiro ser?
Como ser livre, se sou como uma máquina, reativa e condicionada?
É verdade que quando somos ainda muito jovens e imaturos, acabamos nos deixando levar pelos instintos e reagimos de forma mais impulsiva a tudo o que ocorre ao nosso redor. Mas na medida em que vamos amadurecendo e nos tornando sábios, passamos a compreender que é necessário acreditar mais em nós mesmos, fazer escolhas e nos responsabilizar por elas. Escolher de quem de fato desejamos ser. Escolher a qualidade de SER que desejamos manifestar no mundo, sem usar as falhas ou opiniões alheias para justificar nossas atitudes.
Talvez não pareça, mas a compreensão desse ponto é de extrema importância, não só na nossa vida pessoal, mas também para a sociedade como um todo. Eu poderia dizer que a noção de que podemos (e devemos!) nos apropriar de nossas escolhas é uma atitude política através da qual nos firmamos como agentes cocriadores da realidade que nos cerca.
Quando deixamos de expressar nosso verdadeiro ser, perdemos a chance de mudar a nós mesmos e o mundo ao nosso redor, pois é a liberdade de SER-QUEM-SOMOS-NAO-IMPORTA-QUEM-SEJAM-OS-OUTROS que nos faz agir com ética, mesmo em meio a tanta falta de ética, que nos permite respeitar, cuidar e amar, mesmo em meio a tanto desrespeito, falta de cuidado e desamor.
Pense por um instante na maravilhosa diversidade humana. As pessoas são tão diferentes… Possuem histórias diversas, desejos e aspirações únicos. Agora considere a possibilidade de que cada pessoa esteja constantemente criando sua própria vida a partir do seu nível de consciência. Assim como o espectro da luz possui diferentes frequências, cada um de nós percebe uma realidade diferente, de acordo com seu nível de consciência. Assim, posso afirmar que pessoas com níveis de consciência superior são capazes de expressar qualidades superiores do ser humano, como compaixão, generosidade e amor.
Já as pessoas que possuem um nível inferior de consciência talvez não consigam sequer compreender ou perceber a existência dessas qualidades, seja em si mesmas, seja nas pessoas com quem convivem. CADA UM DE NÓS VIVE EM UM MUNDO DIFERENTE A física quântica sugere a existência de universos paralelos, ou seja, várias possibilidades de desdobramentos de um mesmo evento acontecendo ao mesmo tempo. Brincando com essa ideia, podemos dizer que cada um de nós vive em um desses mundos possíveis, de acordo com nosso nível de consciência. Ou seja, mundo objetivo pode ser o mesmo, mas subjetivamente o mundo varia, de acordo com a nossa percepção. E a nossa percepção varia, de acordo com o nível de consciência. Mudar o nível de consciência seria, dessa forma, uma chave para saltarmos de uma realidade possível a outra, transformando não só a nossa vida, mas também a realidade ao nosso redor.
Sendo assim, fica claro o equívoco que leva tantos a acreditarem que possa existir uma verdade única que contemple a todas as pessoas. Isso é simplesmente impossível, como seria impossível escolher uma única atividade lúdica que divertisse tanto crianças de 5 anos quanto as de 10, os adolescentes de 15 ou os adultos de 30 ou 40 anos. Correr loucamente ao redor de uma mesa pode ser divertido e saudável aos 7 anos, mas tente fazer isso aos 80!
– Viva assim. Faça dessa forma. Não faça isso. Faça aquilo.
Essas tentativas de direcionar as pessoas invariavelmente se mostram injustas. O que pode ser saudável e verdadeiro para alguns, pode ser extremamente prejudicial para outros, dependendo de cada um e de seu nível de consciência.
Fico sonhando com um momento histórico em que tenhamos evoluído o suficiente para atingir, coletivamente, um nível superior de consciência no qual saibamos compreender e respeitar as diferenças, parando de exigir que todos sigam modelos pré-determinados, fadados a uma inevitável injustiça. Mas para que isso aconteça, para que as regras que engessam nossa alma possam ser abandonadas, será necessário que as pessoas consigam sutilizar e acessar a sua própria essência. Que consigam encontrar as respostas que procuram dentro de si mesmas e agir corajosamente de acordo com sua sabedoria, abandonando a promessa fácil de respostas externas e imediatas.
Escravos da boiada
Enquanto ainda formos incapazes de enxergar o direcionamento que vem de dentro de nós, continuaremos aprisionados às regras e mandamentos externos que nos dizem como agir, para onde ir e quem devemos ser, obrigando-nos a conviver com o efeito colateral que essa generalização nos traz: injustiça, incompreensão, preconceitos e ignorância.
Um dia, quando nos conhecermos e aceitarmos exatamente no ponto em que estamos, quando nos apropriarmos de nós mesmos, rasgarmos esse livro de regras e passarmos a caminhar por nossas próprias pernas; expandindo, a cada passo, nosso nível de consciência, colocaremos em ação nosso maravilhoso potencial de transformar a nós mesmos e o mundo ao nosso redor. A consequência será uma saudável aceitação das inevitáveis diferenças e a corajosa e luminosa expressão do nosso verdadeiro ser. Não consigo imaginar outro caminho que nos conduza em direção à tão desejada paz.