por Dulce Magalhães
Sempre há escolhas a serem feitas, de uma forma ou de outra, mesmo que seja para manter o que estamos vivendo ou aceitar aquilo que não gostamos. Tudo são escolhas. Com a vocação não funciona diferente, a questão é saber percorrer o campo decisório, esse espaço interno onde nossas escolhas ocorrem e eleger com coragem o desconhecido que pode nos levar ao novo e revelador.
Goethe, escritor e poeta alemão, foi também um filósofo do campo decisório, inspirou milhares de pessoas com seus textos e suas reflexões de alto impacto sobre a forma como escolhemos e vivemos nossas escolhas.
Disse ele: "Em relação a todos os atos de iniciativa e de criação, existe uma verdade fundamental, cujo desconhecimento mata inúmeras ideias e planos esplêndidos: a de que no momento em que nos comprometemos definitivamente, a *Providência move-se também. Toda uma corrente de acontecimentos brota da decisão, fazendo surgir a nosso favor toda sorte de incidentes, encontros e ajuda que nenhum homem sonharia que viesse em sua direção. Se você é capaz de sonhar, então já é capaz de realizar. A coragem contém em si mesma, genialidade, poder e magia. Comece agora".
Escolha constitui-se na ação coerente ao desejo
Para Goethe toda decisão só é verdadeira quando está atrelada a uma ação, quando leva a um movimento, do contrário ainda não é decisão, é apenas uma inspiração ou desejo. Outros filósofos reforçam a premissa do poeta alemão e nos convidam a uma ação coerente com o desejo, isso constitui uma escolha. A própria palavra decisão propõe uma cisão, um rompimento com o ambiente anterior, sair da dúvida para a escolha, sair da ambivalência para investir num determinado e único caminho, sair do passado para caminhar na direção do futuro.
Para encontrarmos e desenvolvermos nossa vocação somos convidados a tomar decisões diariamente, eleger entre possibilidades, escolher temas, estudar propósitos, entender como funcionamos, o que apreciamos, o que buscamos.
Abrir mão do que não foi escolhido pode gerar angústia: não avançamos sem escolha
Todo o processo vocacional passa pelo campo decisório e é fundamental entendermos que a angústia da decisão está em abrirmos mão de tudo aquilo que não foi escolhido. É preciso eleger um foco, definir um caminho. Poderemos mudar em qualquer tempo, mas não avançamos sem fazer escolhas.
A experiência com centenas de pessoas em busca da vocação me mostrou que quanto mais a pessoa exercita sua escolhas e elege suas prioridades, mais consciente ela se torna a respeito de suas próprias preferências e objetivos e mais facilmente reconhece sua trilha vocacional. Sem o exercício da tomada de decisão, ficamos sujeitos aos modelos da cultura e das expectativas exteriores. Assim como não dá pra mudar sem fazer mudanças, também não se pode avançar sem fazer escolhas.
Portanto, treinar o campo decisório, eleger entre possibilidades, investigar e investir em uma determinada trajetória até que esteja pronto para aprofundar ou mudar, ser capaz de abrir mão de alguns benefícios em prol de outros, assumir riscos, compreender que as perdas e renúncias são parte integrante das conquistas e vitórias. Enfim, tornar-se uma pessoa capaz de fazer escolhas cada vez mais competentes é tarefa obrigatória para quem deseja encontrar, desenvolver e realizar sua vocação. Continuaremos o assunto no próximo artigo. Por enquanto vai refletindo sobre isso. Suerte!
* Para Goethe a Providência é o conjunto de leis que rege a harmonia cósmica, aquilo que permite que tudo flua sem acidentes entre os planetas, nos sistemas solares e galáxias: tudo infinitamente equilibrado. Ele considerava que toda essa concepção harmoniosa era como um organismo funcionando bem e que uma intenção coerente (ou seja, que não afete negativamente a nada e nem ninguém) é uma forma de entrar nessa harmonia que, dessa forma, agirá a seu favor. A ideia é mais que poética: é física e mecânica quântica. Porém, ele percebeu isso 300 anos antes da ciência atual.