por Roberto Santos
“Estou muito preocupado porque fui desligado da empresa onde trabalhei por 15 anos faz uma semana. Tenho filhos que dependem de mim e não posso ficar desempregado. Tenho nível superior, já atuei como gerente e outras funções como coordenador, analista de suprimentos etc. Como pode me aconselhar, tenho 57 anos.”
Resposta: Acho que você deve abordar sua questão por duas perspectivas básicas — sua vida e seus filhos — obviamente, elas estão interconectadas, mas encará-las separadamente poderá ajudá-lo a encontrar sua solução.
Começando por sua vida e sua atual condição de desempregado, provavelmente decorrente da crise que o país atravessa, há uma má e uma boa notícia. A má notícia é que, segundo o IBGE, em 2016 foram registrados 4,5 milhões de idosos desempregados, isto é, há uma forte concorrência no mercado — para quem ainda quer trabalhar, como você. A boa notícia é que, apesar do número crescente de idosos estar entrando nesta triste estatística, segundo matéria do jornal O Estado de SP, de março deste ano, empresas começam a mirar nessa população para compor sua força de trabalho. Por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar tem incentivado a contratação de profissionais com mais de 55 anos, como forma de promover a inclusão social desse setor da sociedade. Ainda que possa soar como uma iniciativa altruísta apenas, as empresas enxergam outros motivos desse interesse, como cita a assessoria de empresa do GPA: “… entre os benefícios que o idoso traz para o grupo estão a motivação, que estimula outros membros da equipe, e a troca de experiências com os mais jovens.”
Motivação no cinema
Uma visão que transcende nosso país e época, foi retratada no simpático filme americano de 2015, lançado aqui como “O Senhor Estagiário”, com o grande Robert De Niro e a doce Anne Hathaway. Neste filme dirigido por Nancy Meyers, o septuagenário, recém-enviuvado, de mais de 40 anos de experiência profissional, resolve responder a um anúncio de uma “start-up” para vaga de estagiário e consegue. Vale a pena assistir ao filme como um gatilho para energizar sua motivação e disposição para ir à busca de um trabalho (não necessariamente um emprego tradicional), pois com apenas 57 anos e a crescente expectativa de vida, você poderá ter mais uma “nova carreira” para seus próximos 15 a 20 anos.
Dito isso, algumas considerações:
(1) é importante estar aberto para formas alternativas de contratação que não o emprego tradicional de carteira assinada — você deve quebrar esse paradigma em sua busca. Trabalhos com jornadas diferentes e irregulares, “free-lance” e atuação em posições interinas, trabalho à distância, terceirizações etc são possibilidades a serem contempladas para uma reentrada no mercado que pode até lhe interessar para o longo prazo;
(2) o ciclo da vida faz de fato que as organizações reciclem sua força de trabalho pela substituição de pessoas experientes por mais jovens, muitas vezes, com interesse de redução do custo de Folha de Pagamento — desta tendência, duas sugestões: abaixar a expectativa quanto à remuneração inicial ou de ganhos, seja qual for a modalidade de contrato e adotar uma postura condescendente e positiva com eventuais demonstrações de preconceito com a idade. Uma atitude cooperativa humilde nas sugestões para ajudar a resolver os problemas dos jovens poderá servir de antídoto àquele desprezo inicial;
(3) reciclar-se no seu campo de experiência e na tecnologia em geral é fundamental. É compreensível que quando estamos há 15 anos numa mesma empresa, nos acomodemos com as habilidades e conhecimentos que conhecemos e as tecnologias que dominamos. Hoje em dia, há uma infinidade de cursos online, muitos deles gratuitos, nos mais variados campos relacionados com sua atividade profissional. Veja o que lhe falta e corra atrás;
(4) depois de considerar os pontos anteriores, para ir à luta, você precisa definir como irá se apresentar — seu CV, seu perfil no Linked-In, como vai se comportar em entrevistas, onde e o que vai buscar. Para tal, uma retrospectiva e reflexão sobre sua carreira como um todo é importante: quais as realizações educacionais e profissionais, quais suas habilidades e suas motivações, em que pode contribuir para os possíveis contratantes/compradores de seu trabalho e experiência de tantos anos. Um tom positivo e realista, assertivo, mas humilde, e superimportante, numa redação clara, objetiva e com o uso correto de nosso idioma — tudo em uma página ou no máximo duas. O CV não o substitui, ele deve ser um motivador para o potencial contratante querer conhecê-lo.
Voltando ao início de minha resposta, a perspectiva relativa a seus filhos, sobre quem não sei a idade e o que estudam, mas este momento difícil que a família está passando com seu desemprego pode ser apropriado para reverem em sua estrutura familiar como todos podem contribuir para sua família — a proteção bem intencionada de permitir que seus filhos apenas estudem, podem não caber neste momento. Este poderá ser um bom momento para que eles também vejam formas de ingressarem na vida profissional para ajudá-lo.
Volto à sugestão do filme citado, não apenas como divertimento, mas como injeção de ânimo para o início de seu novo ciclo de sua vida profissional.
Boa sorte!