Por Roberto Goldkorn
Um dia destes minha filha mais nova chegou em casa furiosa. Não precisei nem perguntar o motivo de tanta zanga, ela foi logo dizendo:
"Pai você acredita que colocaram uma máquina de doces lá na escola". Antes que eu pudesse começar a desfiar as minhas críticas em relação aos doces e ao "veneno" do açúcar, ela emendou:
"O dono da máquina foi lá recolher as moedas, e estava nos contando que pelo menos 30 a 40 % das moedas que estavam na máquina eram velhas! Moedas antigas pai, sem valor de compra. Você precisava ver a cara dele, estava arrasado. Ele nos disse, que ia parar com as máquinas porque até em empresas multinacionais onde ele havia colocado estavam aparecendo as moedas falsas. Não é um absurdo pai?"
Compreendi imediatamente a revolta da minha filha, educada de acordo com valores morais hoje relativizados. Pensei logo, que esse caso é muito mais do que um mero episódio da nossa incivilidade, da doença da corrupção, da doença de "levar vantagem". Algumas pessoas que conheço vão dizer: você está supervalorizando esse caso, existem coisas mais sérias, como os coronéis do nordeste que roubam a merenda escolar para depois revendê-la nos seus armazéns, existem os fiscais corruptos, os policiais achacadores etc, etc.
Sei de tudo isso, e é justamente por isso, por ser banal, por ser um crime praticado por alunos de classe média alta, e funcionários de empresas supostamente com um bom nível, que este caso se reveste de interesse pelo menos para mim. São estas pessoas, somos nós, que com os nossos desvios, taras e maus hábitos, que estamos novamente na posição de julgar alguém apto para governar-nos.
Isso mesmo esse é um texto sobre eleições. É constrangedor para alguém que conhece os mecanismos da política, assistir ao circo eleitoral, e ver como as pessoas se deixam enganar, como disse alguém "elas praticamente pedem para serem enganadas", por encenações pobres, mas eficientes.
Do ponto de vista espiritual a explicação é simples, as pessoas se deixam iludir, porque elas também são falsificadoras, elas também, cada uma a sua moda, colocam moedas falsas nas máquinas da vida, achando que assim ganham alguma coisa, tiram vantagem.
De que forma atua o lado corruptível e negligente das pessoas
Assim elas avançam o sinal vermelho, se não tiver foto, para flagrá-las.
Furam embalagens de supermercado para comer o conteúdo, e se forem pilhadas dizem que os donos dos supermercados já ganham o suficiente.
Compram cds pirata, dizem que as gravadoras e os artistas já estão suficientemente ricos.
Contaminam seus parceiros com doenças sexualmente transmissíveis.
Levam os seus cachorros para fazer cocô nas ruas etc. A lista é longa, e poucos de nós escapam.
Do ponto de vista espiritual, isso cria um conceito energético, algo quase como um fantasma psíquico coletivo, ávido de se alimentar de pequenas e grandes falcatruas. Como elegermos alguém que seja correto, honesto, que esteja só buscando servir ao seu país, como um soldado, ou um mártir?
Enquanto não evoluirmos espiritualmente e moralmente, enquanto não deixarmos os crimes só para os criminosos de verdade, teremos os políticos que merecemos, a não ser que pudéssemos importá-los de outro planeta.
Falsos moedeiros, somos nós, contraventores de ocasião, loucos para metermos a mão na cumbuca. Somos é muito tolos, néscios, ingênuos, criando um demônio cada dia mais poderoso, o demônio da iniqüidade, um demônio punguista, como se já não bastasse, os grandes que estão já há muitos séculos por aí, bebendo o sangue inocente, mas isso já é outra história, outra eleição.