por Antônio Carlos Amador
A inveja pode ser definida como o desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem.
Há situações que se assemelham ou têm alguma conexão com a inveja, mas que pertencem a ordens distintas.
Muitas vezes dizemos sentir inveja de uma pessoa, porque admiramos suas qualidades, ou por que ela sabe fazer algo muito bem. Gostaríamos de ser nisso como ela. Não se trata aqui de inveja, senão de um desejo de superação, que se concretiza em alguma pessoa. Outras vezes podem surgir sentimentos que refletem indignação pelo triunfo de uma determinada pessoa, que nos parece imerecido, ou por que acreditamos que ela não está suficientemente preparada para desenvolver a função que lhe foi designada. Nem sempre se pode atribuir isso a uma inveja mais ou menos encoberta, porque às vezes há razões objetivas para fazer essa apreciação, sobretudo se não se trata de pessoas próximas a nós, ou se seu êxito ou cargo está enquadrado num âmbito de atuação distinto do nosso. Noutras ocasiões se trata mais de ciúmes do que inveja. Sofremos quando outros conseguem o carinho e a admiração que gostaríamos que certas pessoas tivessem por nós de forma exclusiva.
A inveja é um sentimento (ou paixão, se for muito intensa) de desconforto que surge em alguém ao considerar o que outra pessoa possui ou conseguiu. Etimologicamente procede de invidere, que significa “ver com maus olhos”. O invejoso “olha com maus olhos” as qualidades, êxitos ou posses dos demais; que constituem para ele uma fonte de sentimentos desconfortáveis e de profunda insatisfação.
Em geral inveja não é confessada
A inveja é algo íntimo, que não se costuma confessar. É muito difícil alguém afirmar que sente inveja, parece um tanto vergonhoso admitir que o bem alheio pode inspirar um profundo mal-estar interior, carregado às vezes de hostilidade para outra pessoa. Em outras ocasiões tenta-se justificar esse sentimento mediante uma serie de juízos de valor, que apesar de terem algum fundamento, estão matizados pelo estado afetivo do invejoso, deixando de ser objetivos. Às vezes a inveja excessiva dá lugar à calunia ou difamação. Nunca é demais observar que quando alguém recolhe muitos êxitos em uma determinada atividade, em pouco tempo as críticas mais duras o acossam continuamente. Os exemplos estão na mídia para quem quiser conferir.
Soberba e egoísmo estão vinculados à inveja
A soberba e o egoísmo são dois traços de personalidade vinculados intimamente à inveja. Pela soberba uma pessoa não está disposta a aceitar que outros, aos quais considera iguais ou inferiores, sejam mais valorizados pelos demais, possuam mais coisas ou tenham mais sucesso no campo profissional ou social. São muito frequentes as comparações com outras pessoas como fonte de autovalorização e autoafirmação do ego. O egoísmo supõe um exagerado afã de possuir tudo para si, dentro de uma atitude na qual predomina o estar voltado para si mesmo e donde os sentimentos e as preocupações dos demais permanecem um tanto à margem, como se não existissem ou não tivessem importância. Vive-se então o que foi conseguido pelos outros, como se se tratasse de algo furtado por eles. Os demais obtiveram algo que “por direito e por justiça” pertencia ao invejoso e que eles “não merecem”.
Soberba e egoísmo são mobilizados por desejos de autoafirmação e de defesa da própria autovalorização por comparação com os demais. E estão muito impregnados de juízos de valor sobre os outros, carecendo de objetividade, uma vez que estão deformados pela carga afetiva investida neles.