por Antônio Carlos Amador
Muitas vezes sentimos a necessidade de estar sós, de ficar isolados para colocar as ideias em ordem e tomar decisões importantes.
Mas por que isso parece tão difícil?
Talvez por termos dificuldades de ficar sozinhos sem nos sentirmos solitários. No entanto, a capacidade de fazer a distinção entre essas duas realidades é a base sobre a qual começamos a assumir a responsabilidade por nossas vidas.
As tradições mais antigas têm reconhecido há muito tempo a necessidade do homem desenvolver a capacidade de estar só.
Em todas elas encontramos exemplos de personagens históricos e míticos que sentiram a necessidade de se isolar e meditar, antes de enfrentar seus grandes desafios. Tanto no Ocidente, como no Oriente, existe uma longa tradição de meditação, que foi deixada de lado e largamente esquecida pela sociedade contemporânea.
De todas as situações humanas estar só é, talvez, aquela que é considerada como uma das mais assustadoras, principalmente quando temos dificuldades de confrontar nosso próprio “eu”. Podemos nos considerar a mais tediosa das pessoas. Não é raro sentir medo de ficar só, o que nada tem de surpreendente. Por quê? Porque então tudo o que temos é a nós mesmos. Isso pode significar ter que enfrentar sentimentos desagradáveis de culpa, raiva, medo, descontentamento, impotência e desamparo. Se estivermos fugindo dessas partes de nós, a perspectiva de ficar só será mal acolhida, talvez temida.
É verdade que precisamos de um companheiro ou amigo de confiança, alguém para poder partilhar amor, mas a intimidade deve ser contrabalançada pelo estar só.
As opções e decisões que tomamos nos momentos em que estamos sós são nossas e exclusivamente nossas. Recorremos a nossos próprios recursos interiores e tomamos decisões que somente nós podemos tomar. Com isso passamos a confiar cada vez mais em nós mesmos.
A maturidade parece comportar não só a responsabilidade, mas também a reflexividade desapaixonada acerca de problemas em que se está, contudo, emocionalmente envolvido. A capacidade de estar só é necessária à sensatez: ser capaz de olhar para trás, para o curso da vida desde o nascimento, poder detectar um fluxo e um refluxo constante entre o contato íntimo com outras pessoas, por um lado, e um pensamento e ação isolado e mesmo solitário. Desde que isso esteja bem estabelecido, pode-se voltar para a companhia dos outros e contribuir com ideias próprias. Parece que o nosso desenvolvimento só pode dar-se através de um intercâmbio entre a sociabilidade e a capacidade de estar sós.