por Luciana Ruffo – psicóloga componente do NPPI
Quem não gostaria de ter à mão uma maquininha milagrosa, que revelasse se as pessoas nos falam a verdade? Esse sonho, e a tentativa de realizá-lo existe há muito tempo, e cada vez mais cientistas do mundo todo tentam encontrar uma técnica precisa para desvendar as mentiras.
O mais próximo a que chegamos em nossas tentativas de construção de um detector preciso é o poligrafo. Também existem máquinas que avaliam o grau de estresse na voz da pessoa com quem falamos. Um exemplo dessa máquina é a que vem sendo utilizada no programa BBB7. Atualmente existem ainda as pesquisas que se utilizam das imagens de ressonância magnética, buscando demonstrar que diferentes áreas do cérebro são ativadas, quando mentimos ou falamos a verdade.
Há alguma prova segura de que tais máquinas detectem mentiras? Bem, o poligrafo mede as alterações dos batimentos cardíacos, da pressão arterial e da respiração da pessoa pesquisada. Quando uma pessoa mente supõe-se que essas mudanças fisiológicas ocorrem de tal modo que um especialista treinado pode detectar se a pessoa está ou não mentindo. Mas, existe alguma fórmula cientifica ou lei que estabeleça uma correlação entre a mentira e estas mudanças fisiológicas? A resposta é "não".
Há alguma evidência de que os especialistas acima citados detectem as possíveis mentiras numa percentagem mais significativa do que os leigos não treinados, usando outros métodos? Novamente a resposta é não. Até o momento, não há máquina ou especialista que detecte com elevado grau de certeza, se uma pessoa está a mentir ou não…
Tanto no Brasil, como Estados Unidos e outros países, o detector não é aceito como prova em um julgamento legal, devido à falta de bases científicas que comprovem que seu uso é à prova de falhas. Na verdade, existem pessoas que demonstraram ser capazes de enganar os técnicos treinados e seus equipamentos.
Sendo assim, porque até hoje as pessoas se interessam e desejam criar um detector de mentiras? Para os usuários de internet, acaba de surgir um "plug in" do Skype, (programa que permite a conversação em tempo real entre os internautas) que promete ser um detector de mentiras.
Conversando com amigos, mencionei a novidade do Skype e todos ficaram curiosos em testar.
Funciona assim: Você liga o Skype, liga o "plug in" chamado "Kishkish lie detector" e chama sua "vítima" para conversar. Você tem como permitir que o próprio programa envie uma mensagem ao seu interlocutor informando que ele está sendo monitorado, ou não. No ínicio da conversa, a voz é monitorada e o medidor aparece, indicando que está sendo calibrado.
Então você começa a conversar e ele vai medindo o grau de estresse na voz do outro. O único problema é que ele não diferencia barulhos no ambiente da voz propriamente dita. Por exemplo, estalos de dedo são interpretados com estresse. Fica claro que o programa pode ser usado, no máximo, como uma brincadeira, ou como um indicador dos assuntos que sejam mais significativos para ambos.
Agora, por que um detector de mentiras faz tanto sucesso e chama tanto a nossa atenção? Em tempos modernos, onde a 'palavra' e a 'honra' parecem ter deixado de servir como garantias de honestidade, o ser humano – que sempre busca segurança – corre atrás de novas formas de validar sua confiança no outro. A Internet, e sua nova gama de possibilidades, parece aumentar essa nossa insegurança.
A traição, seja ela em que grau ou campo da vida que venha a acontecer, é um dos sentimentos que mais amargura o ser humano, destruindo relações de amizade e amor e fazendo com que as pessoas não se entreguem de forma autêntica em um primeiro momento às outras pessoas que se aproximam.
O difícil é: quem nunca disse uma pequena mentira? Ou ao menos omitiu um fato, para poupar ou apenas se autovalorizar frente ao outro? A mentira muitas vezes busca aprovação ou liberdade quando parece ser difícil fazer as coisas de um jeito diferente, e se responsabilizar por aquilo que se fez.
A vontade de conhecer o nosso parceiro de forma completa também faz com que busquemos modos de verificar se entendemos todas as entrelinhas de cada frase que nos diz e se realmente podemos depositar todo nosso amor e confiança naquela pessoa. Quando há desconfiança, nada melhor do que uma boa conversa, olho no olho, e confiar em seus próprios instintos, baseando-nos nos dados que se tem de nossa realidade, interna e externa. O melhor detector de mentiras que existe, até hoje, é você mesmo e sua sensibilidade.