por Rosemeire Zago
Muito de nosso sofrimento tem origem nas crenças que carregamos. Afinal, o que são crenças? Crença é aquilo que aprendemos desde criança e adotamos como verdade. Evidentemente, algumas são verdadeiras, outras não. As crenças começaram através de histórias e costumes. Elas são transmitidas pela religião, educação, mas principalmente por nossos pais.
Quando somos crianças, pequenas e dependentes, ouvimos sem questionar, acreditando cegamente em nossos pais e nos adultos mais próximos, como se fossem donos de toda sabedoria e verdade, afinal são nossas únicas referências. Ou seja, aprendemos em casa com nossos pais, irmãos, avós… Depois, conforme vamos crescendo, aprendemos na escola, com a televisão, mídia, internet… Enfim, são infinitas as mensagens que recebemos diariamente das mais diversas fontes. Muitas são captadas sem percebermos e ficam registradas em nossa mente.
Quantas são as crenças que ainda fazem muitas pessoas sofrerem? Cada um tem que identificar aquilo que um dia aprendeu e que continua acreditando como sendo verdade absoluta, apenas seguindo como se fossem regras impostas, sem questionamentos. Quem nunca ouviu: "Homem que é homem não chora?" E vemos tantos engolirem suas lágrimas, como se o fato de terem sensibilidade e sentimento os fizessem menos homens. Quantas pessoas ainda hoje acreditam que ser homem é apenas ser o provedor e a mulher é quem cuida da casa e dos filhos? Quantas mulheres que ainda não casaram se culpam pela excessiva cobrança da família, e o pior, de si mesmas? Além da culpa, ouvem constantemente piadinhas constrangedoras ameaçando que irão ficar para 'titia'.
Muitos de nós temos pensamentos mágicos como: "Quando casar todos os problemas serão resolvidos", ou ainda: "Serei feliz quando conseguir comprar uma casa, ter um filho, um diploma, ter uma renda superior a que tenho". Esses exemplos são reflexos de crenças aprendidas e que são carregadas dentro de nós como verdades. Crenças que são simplesmente seguidas e que podem trazer muito sofrimento, quando não condizem com os valores próprios de cada pessoa.
Crenças como:
– sexo é pecado e 'sujo';
– mulher tem que se casar cedo e ter filhos;
– homem não chora;
– ao homem cabe – apenas – o papel de provedor;
– devemos ser obedientes e servir aos outros;
– nunca demonstre seus sentimentos, entre outras.
Sabemos que a lista é infinita, estes são apenas simples exemplos que devem ser banidos de nossa vida, pois de nada nos servem.
Há ainda as crenças supersticiosas que geram as conhecidas crendices, como por exemplo, a crença de que é má sorte um gato preto atravessar o caminho; que ao passar por debaixo de uma escada terá azar; quem ri muito chora depois…
As crenças também são a origem de infinitas culpas que carregamos. Muitas crenças nos fazem acreditar que se não as seguirmos, estaremos errados, e assim nos culpamos. Muitas crenças agem de forma a limitar as pessoas. Por isso é preciso identificar quais são as crenças que ainda carregamos dentro de nós e quais queremos continuar a ter. Muitas são crenças distorcidas que fazem parte apenas de um passado e que muitos trazem para o momento presente.
Sempre buscamos uma justificativa naquilo que um dia aprendemos, só que infelizmente, não reavaliamos se tal crença ainda nos serve. Ou seja, as pessoas não atualizam suas crenças, a verdade que um dia acreditaram como absoluta. Tudo muda, não podemos ser rígidos e inflexíveis em nossos pensamentos, pois eles refletirão em nossas atitudes nos fazendo sofrer.
Não posso afirmar que todo nosso sofrimento provém de crenças, mas a maioria deles. Outra fonte de sofrimento é a ilusão, onde ficamos esperando que o outro nos dê aquilo que não tem, não pode ou não quer nos dar, mas isso é assunto para outro artigo.
Voltando ao assunto das crenças, hoje quantas são as pessoas que continuam dentro de um relacionamento afetivo sem amor, companheirismo e amizade, só porque um dia aprenderem que casamento é para sempre?
Tudo que ouvimos, lemos e vemos deve ser analisado, e não apenas aceito passivamente. Devemos sim buscar orientação e informação. Porém, a decisão final sempre caberá a cada um de nós. Busque a tão almejada paz interior por meio do constante exercício de reflexão e diálogo interno. Nossas emoções são os sinais do nosso mundo interior e exterior. Nos avisam o que devemos ou não fazer. Por isso, pare por alguns segundos e perceba o que está sentindo. O que seus sentimentos podem estar revelando? O que seu corpo através de sintomas ou doenças pode estar manifestando? Quando sua própria voz for ouvida, é certo avaliar se está contaminada por crenças antigas e que podem – e devem – ser reavaliadas e atualizadas, agora sem mais permitir que conduzam sua vida, mas considerando suas próprias verdades e necessidades mais íntimas. Conduzir nossa vida perante aquilo que esperam de nós ou nos fizeram acreditar é o caminho mais curto para o sofrimento. E esse, creio, você não quer mais.