Deveríamos evitar reagir a certos tipos de comunicação

Por Luís César Ebraico

Afirmei anteriormente (clique aqui e leia), que deveríamos evitar reagir a comunicações do tipo:

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FULANO:  —  Estou com dificuldade de dizer uma coisa para você… (hesitante)

Com respostas do tipo:

BELTRANO:  —  Ué, pode falar!!!… (seguro e enfático)

E por quê?  Porque insistir para que a pessoa fale o que declarou estar com dificuldade de falar gera tensão e mutas vezes, confusão, já que estamos sugerindo que ela atropele sua dificuldade (a resistência) para nos comunicar o que deseja (o resistido).  A despeito disso, a reação de BELTRANO é absolutamente corriqueira em nossa cultura e, dificilmente, encontraremos um BELTRANO que nos responda dizendo:  “Você tem idéia de que por que você está com essa dificuldade”?

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Aliás, bem ao contrário.  Frequentes vezes tive pacientes cujas dificuldades de, durante suas sessões, se expressar franca e livremente eram provenientes de haverem passado por experiências do tipo:

FILHO (com jeito de assustado, acordando o pai em plena madrugada):  —  “Pai, eu tive um problema e preciso falar com você, mas estou com dificuldade…”

PAI:  —  “Puxa, meu filho, você pode falar pra mim qualquer coisa, que esteja afligindo você!  Sem problema!  Eu sou seu pai e estou aqui pra lhe dar apoio e lhe ajudar.  Pode falar!”

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FILHO (violentando sua própria resistência):  —  Bem, pai, eu peguei seu carro na caragem, saí nele com meus amigos, e dei uma batida no carro de uma dona…

PAI (aos berros):  —  “P. Q. P.!  EU JÁ LHE DISSE QUE EU NÃO QUERO QUE VOCÊ DIRIJA AQUELE CARRO SEM EU ESTAR AO SEU LADO!  BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ, BLÁ,BLÁ, BLÁ, BLÁ!…”

Poderia o pai haver respondido de maneira mais adequada, quando defrontado inicialmente com a hesitação do filho em falar?  Sim, haveria.  Algo do tipo:

PAI:  —  “Está bem, filho. E por que você está com essa dificuldade?”

Ao que poderia seguir-se um diálogo do seguinte tipo:

FILHO:  — “Porque eu acho que eu fiz uma grande besteira e você vai me dar uma tremenda bronca!”

PAI:  —  “Bem, pelo que estou vendo, é possível mesmo.  O que houve?”

Óbvio que o desenlace não poderia ser o que chamamos de “agradável”, mas não ficaria marcada, no filho,  a lembrança de que, quando se diz que “está tudo bem”, na verdade, “está tudo mal”.