por Sandra Vasques
“Gosto muito de um rapaz, mais ele vive me pedindo para eu realizar uma fantasia dele. Você acha que eu devo? A fantasia é ter relação sexual comigo e com uma amiga minha”
Resposta: Em primeiro lugar, decisões muito importantes de nossa vida, que envolvem valores pessoais, não podem ser decididas por outras pessoas, mesmo que sejam especialistas.
Os outros e os especialistas podem contribuir com o seu conhecimento, informações, experiência, proporcionar reflexões, mas a decisão final deve ser de quem está vivendo a situação. Um psicólogo pode ajudar as pessoas a se darem conta do que elas querem, do desejo que têm e avaliar como esse desejo combina com o que elas acreditam que é o melhor, ou o correto para a vida delas e consequentemente, se querem ir em frente ou não.
Assim, vamos procurar conversar mais uma vez sobre a realização de fantasias sexuais que, que a princípio podem parecer improváveis, por oferecer um certo risco – físico, social, mas principalmente emocional -, mas por outro lado são tão sedutoras.
Ter relações sexuais com o par e mais uma outra pessoa amiga. O que isso pode oferecer de bom e de ruim? Colocar a mão no fogo ou não? Não há muitas dúvidas sobre a resposta. Afinal, não há nada de bom nisso. Então, o que entendemos como ruim mesmo, não oferece problemas ou dúvidas – evitamos e pronto. Se existe um questionamento sobre se devemos ou não fazer algo, é que por alguma razão, vemos um lado positivo e outro negativo nesta história e precisamos decidir qual deles vai ter mais peso em nossa decisão.
Então para encontrar a resposta da pergunta – vou para uma transa a três ou não? – proponho refletir sobre as seguintes questões:
– Vou fazer isso por que eu desejo também ou só po rque meu par quer?
– Vale a pena e estou com disposição para lidar com as possíveis consequências – sentimentos e situações – que eu acredito que possam acontecer?
– Eu acho que posso me divertir, sentir prazer com essa experiência?
– Vou conseguir colocar os meus limites para realizar essa fantasia?
– Conheço e confio no meu par o suficiente para acreditar que respeitará as minhas condições e limites?
– Conheço e confio no meu par o suficiente para acreditar que ele quer viver essa fantasia como uma forma de aumentar a proximidade e cumplicidade do casal?
Se a resposta à primeira pergunta for só por que seu par quer, então pode ser uma péssima ideia. Na maioria do tempo, temos atitudes e comportamentos que combinam com a imagem que temos de nós, que combinam com quem a gente é e com a maneira que queremos ser percebidos pelas pessoas que são importantes para nós. Quando surge a possibilidade de realizar algo que foge muito desse limite, temos que olhar de novo prá dentro e ver se dá prá experimentar encaixar essa peça nova, ou se isso pode nos deixar muito machucados ou arrependidos. Ou seja, precisamos fazer uma revisão dos valores que norteiam nossa vida e ver se existe flexibilidade, elasticidade para viver algo sobre o qual ainda nem havíamos pensado. Pensar e avaliar por que aquilo nos amedronta e o por que nos atrai e daí tirar o convencimento do que fazer.
Responder as outras perguntas propostas acima pode ajudar a fazer essa avaliação e ver se já existe condição de viver essa fantasia como uma experiência de vida, que mesmo que se chegue à conclusão que não queira mais repetir, também não vai deixar feridas abertas. É um risco muito alto fazer algo que reprovamos para a nossa vida só para agradar outra pessoa, mesmo que ela seja muito especial.
Agora, se a decisão for viver a relação a três, é preciso pensar quais os tipos de carícias e situações que serão permitidas e isso tem que estar bem claro para os três. Afinal, esse trato faz parte do que vocês acreditam que podem viver naquele momento, de um jeito positivo e prazeroso.
Finalizando, fantasias sexuais são muito importantes para a vivência saudável da sexualidade, mas as pessoas são diferentes umas das outras em relação ao limite que se permitem para vivê-las. Existem fantasias que o casal pode realizar de um jeito muito gostoso, outras sobre as quais vão apenas conversar e usar para despertar o desejo e a excitação, e outras que vão ficar só no pensamento de cada um. A medida disso é de cada um e de cada casal e tem que ser bom para os dois.