Devorar ou degustar? Vire o jogo a seu favor

Entenda por que acontecem esses ataques vorazes às guloseimas e saiba como controlá-los

Poucos podem afirmar que nunca tiveram um ataque de devorar alguma guloseima em questão de segundos. Um pacote de bolachas recheadas chega rapidinho ao fim, e a pessoa continua com uma sensação de “quero mais”.

A voracidade resulta num transitório prazer, em abuso na ingestão de calorias, com consumo pesado de ingredientes nada saudáveis e, por vezes, em certa sensação de arrependimento ou culpa.

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Por que acontecem ataques vorazes às guloseimas?

Uma pergunta, você já observou o contexto desses ataques? Na longa quarentena da pandemia, surge no meio da tarde desejo de bolinhos de chuva e pipoca. Tarde da noite, num contexto de insônia, um queijo quente enorme parece essencial. Quais são seus gatilhos? Os mais populares são o tédio, tristeza, solidão, medo em meio a incertezas, ter pela frente deveres desagradáveis ou custosos. A lista certamente vai mais longe.

Como controlar esses ataques

Sugiro que antes de partir para o consumo voraz, você primeiro se conecte à tal emoção, sensação, desconforto que ronda teu ser. Por dois minutinhos, sente-se. Feche os olhos e apenas note sua respiração, o fluxo contínuo de entrada e saída do ar. Escute o que se passa dentro de você e, se possível, identifique quais partes do teu corpo participam do estado de desconforto.

Há como nomear esta emoção/sensação perturbadora? Imagine que este estado de desconforto seja um bebê ou um filhote de bichinho, um organismo frágil e que precisa ser cuidado. Coloque a sensação num colo imaginário, ofereça gestos carinhosos de acolhimento, compreensão, sem julgamento. Provavelmente a tensão vai se dissipar lentamente. Você conseguiu se ouvir melhor ao final desse exercício compassivo?

Ainda vai querer a guloseima? Ok, então. Primeiro tome um pouco de água e se prepare para degustar. Digamos que você ainda anseie por um cupcake. Segure o doce, sinta seu cheiro, observe suas cores, o formato do bolo e do glacê, suas curvinhas, o peso, a sensação dele na sua mão. Quando faço este exercício em sala de aula, levo ameixas ou uvas-passa. Digo aos alunos que nesta etapa precisaram examinar cada ranhura e mancha da fruta seca, a ponto de ser capaz de reconhecê-la num punhado.

Encoste a língua no doce e note a sensação. Morda um pedacinho, com modéstia, deixe a língua passear nele, mastigue sem pressa, observe o passeio desse pedacinho pela sua boca até ser engolido. Vá assim até o final. Fruta seca ou bolinho, gaste ao menos cinco minutos com essa unidade. Ao final da experiência, observe, como você se sente.

Se puder, escove os dentes depois, ou ao menos faça um bochecho vigoroso. Se ainda há tédio, questione-se sobre alternativas de ação. A variedade oferece tempero à vida: ler, dançar, bater papo, caminhar, quais são tuas alternativas? Isso vale para todas as emoções e estados internos.

A degustação tende a produzir saciação, maior apaziguamento e nos poupa do arrependimento depois. Podemos degustar melhor não apenas alimentos. Paisagens, relações sensuais e sexuais, viagens, há um mundo de coisas a experimentar, com presença plena, olhar atento, entrega emocional.

É psicoterapeuta na abordagem analítico-comportamental na cidade de São Paulo. Graduada em Psicologia pela PUC-SP em 1981, é Mestre e Doutora em Psicologia Experimental pela IP-USP. Atua como terapeuta e supervisora clínica, é também professora-convidada em cursos de Especialização e Aprimoramento. Publicou dezenas de artigos científicos, e de divulgação científica, além de ser coautora de livros infanto-juvenis.

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