Da Redação
Cerca de 95% das pessoas terão, no mínimo, uma crise de enxaqueca ao longo da vida. No entanto, há muitas dúvidas sobre o que realmente desencadeia a enxaqueca. Conheça abaixo dez mitos e verdades sobre as causas da enxaqueca:
1 – A enxaqueca alivia durante a gravidez?
VERDADE
Caracteristicamente a enxaqueca é muito mais frequente em mulheres do que homens justamente porque nelas, as flutuações hormonais, em uma pessoa suscetível, servem como fator desencadeante e agravante da dor. Durante a gestação, entretanto, a grande maioria das mulheres experimenta um alívio das suas crises, em particular, no segundo e terceiro trimestres.
2 – A enxaqueca é sempre hereditária?
MITO
Embora existam casos de enxaqueca claramente familiares, como a conhecida e rara síndrome da enxaqueca hemiplégica familiar, é comum que indivíduos desenvolvam episódios de enxaqueca, esporádicos ou crônicos, sem que existam membros na família com uma dor semelhante.
3 – Toda dor de cabeça que pulsa ou lateja é uma enxaqueca?
MITO
De acordo com os critérios diagnósticos para enxaqueca, o fato de a dor ser pulsátil ou latejante reforça tratar-se dessa síndrome. A questão é que é perfeitamente possível que um indivíduo tenha enxaqueca e sua dor não seja pulsátil, apresentando, porém, outras características da enxaqueca, por exemplo, sintomas de um lado só da cabeça, intensidade da dor moderada a forte e piora com exercício ou atividade física.
4 – Existe uma dieta para enxaqueca?
VERDADE
Existem alimentos que caracteristicamente estão associados à enxaqueca, por exemplo, queijos amarelos e outros derivados do leite, produtos enlatados, molho vermelho, bebidas alcoólicas, etc. Cabe ressaltar que essa lista de alimentos pode desencadear dor em alguns indivíduos, mas não em outros, ou seja, existem variações individuais.
5 – Botox® para enxaqueca funciona?
VERDADE
A toxina botulínica já é um tratamento previsto em bula para a prevenção da enxaqueca, forma crônica, na qual os pacientes já fizeram medidas terapêuticas sem sucesso. Os resultados são muito bons, mas esse tratamento deve ser indicado corretamente, porque não servirá para a grande maioria dos pacientes com a forma episódica ou crônica responsiva à profilaxia.
6 – A enxaqueca só acontece em adultos?
MITO
A enxaqueca pode ocorrer em qualquer faixa etária, por exemplo, crianças e adolescentes, quando é mais comum em meninos que meninas, e pode ocorrer pela primeira vez em indivíduos acima de 60 anos. Essa, entretanto, não é uma situação comum e, normalmente, o médico responsável sugere investigação complementar por imagem, a fim de excluir outras causas potencialmente mais graves e que iniciam na terceira idade.
7 – Os exames de tomografia ou ressonância de crânio fazem o diagnóstico da enxaqueca?
MITO
Nenhum exame complementar faz diagnóstico de enxaqueca. Aliás, não é necessário qualquer exame de imagem do cérebro para diagnosticar essa síndrome. Existem indicações muito claras para solicitação de exames complementares na investigação de cefaleia, mas normalmente isso se deve a alguns sinais de alarme com os quais o médico fica atento, para investigar situações específicas.
8 – Muito remédio para dor de cabeça (enxaqueca) provoca mais dor de cabeça?
VERDADE
Existem diversas estratégias para tratar a enxaqueca, mas uma das principais é cortar o uso excessivo, muitas vezes abusivo, de analgésicos. Isso perpetua um ciclo vicioso de sensibilização periférica e central, leva a efeito rebote e auxilia a perpetuar a enxaqueca.
9 – Existe enxaqueca sem dor?
VERDADE
Essa é uma situação incomum e curiosa. Sabemos que uma minoria de indivíduos com enxaqueca pode desenvolver um tipo especial, conhecida por enxaqueca com aura. Esse fenômeno nada mais é que um sinal neurológico focal que normalmente antecede a dor, como por exemplo, a aura visual, na qual o indivíduo tem alterações visuais e só depois de 10 a 15 minutos desenvolve a crise propriamente dita. Ocorre que pouquíssimos indivíduos que têm enxaqueca com aura podem desenvolver algumas crises com aura, mas, acredite se quiser, sem a enxaqueca, a conhecida aura sem enxaqueca, uma situação na qual só existem os sintomas neurológicos focais (escotomas cintilantes, por exemplo) sem dor.
10 – Não existem medicações específicas para o tratamento da crise de enxaqueca?
MITO
Há, pelo menos, duas classes de medicações utilizadas em nosso meio e que são específicas para o tratamento das crises agudas de enxaqueca: os ergotamínicos e triptanos. São remédios com diferentes ações farmacológicas, mas, de maneira geral, promovem vasoconstrição cerebral. Uma vantagem dos triptanos é que, além da tradicional via oral, existem formulações sob a forma de spray nasal e injeção subcutânea.
Fonte: Dr André Felicio, neurologista, doutor em ciências pela UNIFESP, membro da Academia Brasileira de Neurologia, pós-doutor pela University of British Columbia, no Canadá, e médico pesquisador do Hospital Israelita Albert Einstein (CRM 109665)