Da Redação
Muitos pessoas me escrevem pedindo conselhos sobre como sair de um endividamento exagerado que – não raro – está lhes causando sérios problemas familiares.
Mas quais seriam, em primeiro lugar, as razões que levaram essas pessoas a tal situação?
1ª) Má administração financeira
As pessoas não acompanham seus orçamentos, não observam para onde o seu dinheiro está indo, não planejam, não acompanham suas despesas passo a passo. Inevitavelmente acabam gastando além do que deveriam ou poderiam.
2ª) Inexistência de uma conta de reservas
A maioria das pessoas não possui um "pé-de-meia" (idealmente uma quantia equivalente a seis salários) reservado para situações imprevistas ou emergenciais. Assim, qualquer fato novo – como um carro que quebra, um salário que atrasa, uma geladeira que não funciona, uma viagem de última hora – impele as pessoas a usarem crédito (cartão, cheque especial). E assim, começa um círculo vicioso de difícil escape.
3ª) Divórcio
Existem algumas questões bem óbvias nesse caso, como o pagamento de pensão, redução da renda familiar, divisão dos bens. E outros nem tão óbvios. Se houver filhos, então! Desde a competição entre os pais (quem dá o melhor presente) até a manutenção dos clones: quartos, TV, videogame, roupas, etc, em duas casas. E isso tudo depois do processo de divórcio em si, quando o advogado já leva boa parte do dinheiro do casal.
4ª) Doença
O custo da saúde no nosso país é assombroso. Além dos altos preços dos seguros, há também a questão do preço dos remédios. Uma doença inesperada (como quase toda doença é, na verdade) pode arruinar as finanças de uma família e jogá-la em uma situação insuportável de endividamento.
5ª) Desemprego
O terceiro "D" das causas de endividamento. Ao lado de divórcio e doença, o desemprego é uma das principais razões que levam as pessoas a contrair dívidas. Até mesmo por uma questão de falta de opção.
6ª) Teimosia em manter estilo de vida perdido
No divórcio, na viuvez, na aposentadoria ou no novo emprego que não remunera tão bem quanto o anterior, as pessoas têm dificuldade de viver um padrão de vida abaixo do que estavam acostumadas. Então se endividam, agarrando-se ao passado que quase nunca voltará a se reproduzir.
7ª) Falta de educação financeira
Muitas pessoas não compreendem o funcionamento da mercadoria chamada dinheiro e do sistema financeiro que a rege. Desconhecem o poder avassalador dos juros, especialmente no Brasil, campeão na categoria. Roubam de si própria, todos os meses, quando pagam juros em mercadorias que muitas vezes nem precisavam.
8ª) Compulsão por Compras
Essa também pode ser traduzida por "gastar o dinheiro de amanhã, hoje". Creio ser esta uma forma bem familiar de endividamento. "Seis vezes sem juros no cheque ou no cartão"? "Por que não? Cabe no saldo do meu cartão, que no parcelado é maior". Sempre será um mistério essa possibilidade de compra "sem juros" em um pais em que os juros para o crédito ultrapassam facilmente os 100% ao ano. Mas como a maioria de nós ainda acredita em fadas, achamos que vale a pena não adiar compra alguma, se podemos ter "agora" algo que levaríamos meses para conseguir se precisássemos juntar o dinheiro.
9ª) Vícios
Talvez uma das mais tristes razões de endividamento: vícios como jogos, bebidas, drogas e tantos outros já destruíram famílias financeiramente ao longo da história.
10ª) Herança de comportamento dos pais
Não estou me referindo a herdar dívidas dos nossos pais; o que aliás é possível acontecer. Assim como herdamos ativos, também podemos herdar passivos. Falo de hábitos de consumo transmitidos de uma geração a outra. Como não aprendemos sobre administração financeira pessoal nas escolas, o mais comum é que aprendamos a mexer com dinheiro com nossos pais. E se eles eram esbanjadores, tendemos a espelhar esse comportamento. Acontece que o mundo de 20 ou 30 anos atrás não tinha os apelos de consumo de hoje e os fornecedores de crédito não eram tão agressivos e vorazes quanto os atuais. Portanto, herdar um comportamento esbanjador pode facilmente levar uma pessoa a um emaranhado financeiro bem complicado.
Evidentemente as razões que levam as pessoas a se endividarem são as mais diversas. Ou pode até ser um pouco de cada uma das razões que citei acima.
Compreender o que nos levou ao endividamento excessivo é o primeiro passo para nos livrarmos das dívidas.
Fonte: Eliana Bussinger é psicóloga e mestre em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas