por Luís César Ebraico
O diálogo que abordaremos hoje foi travado via e-mail a partir um comentário feito por um leitor sobre meus diálogos "Sopa" e "Demissão", que transcrevo para facilitar o cotejamento:
Sopa
PEDRO: – Meu bem, esta sopa está fria!
CLÁUDIA: – Eu sei que tudo que eu faço é malfeito! Talvez fosse melhor para você que a gente se separasse!
PEDRO: – Eu preferiria que você esquentasse a sopa…
Demissão
LUÍS CÉSAR: – Mônica, não estou satisfeito com o fato de que você XYZWJ.
MÔNICA (funcionária, bastante eficiente, mas também bastante malcriada): – Se o senhor não está satisfeito com o meu trabalho, então, me despeça.
LUÍS CÉSAR: – Você está com vontade de pedir demissão?
MÔNICA: – Eu, não!
LUÍS CÉSAR: – Então, vamos combinar assim: quando você estiver com vontade de pedir demissão, venha falar comigo e peça demissão; quando eu estiver com vontade de demiti-la, chamo você e a demito. Por enquanto, estou apenas com vontade de lhe dizer que não estou satisfeito com o fato de que você XYZWJ. Fui claro?
COMENTÁRIO DO LEITOR SOBRE OS DIÁLOGOS ACIMA: "esse é um diálogo antigo …, mas, por incrível que pareça, é nesse que vejo o maior buraco. Por que essas pessoas – e eu mesmo – sentimos tanta necessidade do diálogo macroscópico? Por que, se a colocação é "sopa fria", a resposta latente é "vida sem amor"? Se sentimos essa necessidade, o tema dessa resposta é muito importante. E, se esse tema macroscópico é importante, não é golpe baixo trazê-lo para o microscópico? …
[Muitas pessoas] trazem à baila seus temas macro, porque aquela droga está lá, precisando ser dita, mas, sem um gancho, elas não falam. Então, eu acho que, uma vez que venha um tema não solicitado (sua funcionária em "demissão" e a mulher da "sopa fria"), devemos tratá-lo (como você trata, mas de forma incompleta) em duas partes: esquentar a sopa e entender por que ela acha que não é amada (pode não ser mesmo e talvez a questão esteja sendo adiada). Não tenho todo seu know how para lidar com pessoas, mas desconfio de que, por detrás de toda a passagem do micro para o macro, existe um surdo ao assunto macro ou, no mínimo, um ausente e que é um inferno a gente ficar tentando falar com uma companheira ou patrão que não quer ouvir."
LUÍS CÉSAR: Concordo com você sobre que, sempre que circunstâncias, tempo e lugar nos permitem – o que será, provavelmente, a maioria das vezes – devemos ter respeito pelos temas que nossos interlocutores tentam introduzir. Com duas adições: Primeira, LOGO DEPOIS que ela tiver demonstrado idêntico respeito pelo tema que nós ANTERIORMENTE introduzimos, não mudando de assunto para evitar que se o considere, e, segundo, caso estejamos, de fato, querendo ENTENDER POR QUE essa pessoa acha que não é amada, ou que vai ser despedida etc A ÚNICA MANEIRA EFICAZ DE O FAZER É TRATÁ-LO DE MANEIRA MICROSCÓPICA."