por Ricardo Arida
O cérebro tem uma grande capacidade de *plasticidade que pode ser modulada por diferentes estímulos.
Pesquisas indicam que o estilo de vida ou nossa rotina diária influenciam o cérebro a reagir aos estímulos deletérios, como doenças do sistema nervoso. Por exemplo, certos tipos de fatores dietéticos, como o ômega-3, podem estimular sistemas moleculares que auxiliam na função cerebral, enquanto dietas ricas em gorduras saturadas fazem o oposto. Usando mecanismos semelhantes, o exercício ajuda na redução do declínio cognitivo associado à idade (1) e recuperação funcional decorrente de doenças do sistema nervoso (2).
O ômega 3 aumenta os níveis de moléculas importantes para a plasticidade sináptica, como fatores neurotróficos. Foi comentado várias vezes em textos anteriores a função dos fatores neurotróficos, como o fator neurotrófico derivado do encéfalo ** (BDNF).
O BDNF é uma neurotrofina que exerce funções de regular a sobrevivência, crescimento e diferenciação de neurónios durante o desenvolvimento e estimular a plasticidade sináptica (modificações nas conexões entre neurônios) e cognitiva no cérebro adulto. O BDNF modula a eficácia da transmissão sináptica, aprendizagem e memória em animais e humanos, dessa forma, beneficiando a função do cérebro normal e na recuperação após lesões cerebrais. Uma das formas mais importantes de omega-3 é o ácido docosahexaenóico (DHA) é um componente-chave das membranas de neurônios.
Similar a uma dieta saudável, a atividade física pode melhorar a função cerebral, aumentando os níveis de BDNF e reduzir o estresse oxidativo. Mais especificamente, o exercício desempenha um papel importante na manutenção da estrutura das conexões dos neurônios e neurogênese (formação de novos neurônios) no cérebro adulto.
Considerando a possibilidade da atividade física regular aumentar os níveis de fatores neurotróficos, o exercício pode contribuir como uma terapia adjuvante eficaz para compensar os efeitos das escolhas alimentares inadequadas. Nesse sentido, um estudo mostrou que o exercício físico recuperou a diminuição de BDNF no hipocmapo (região relacionada a memória e aprendizagem) e função cognitiva em consequência do consumo de uma dieta rica em gordura e acúçar (3).
Por sua vez, os efeitos da associação de uma dieta saudável e exercício físico podem promover melhores efeitos sobre o sisitema nervoso do que uma implementação isolada. Por exemplo, um estudo demonstrou que o exercício foi capaz de potencializar os efeitos saudáveis de ômega-3 sobre a plasticidade e cognição (4). O novo desafio dos pesquisadores será: como tirar vantagem desses benefícios para o aumento da saúde cerebral, assim como a recuperação e/ou prevenção dos distúrbios neurológicos (5) .
* Plasticidade é uma alteração da estrutura e função cerebral frente a um ou vários estímulos
** "Brain Derived Neurotrophic Factor (BDNF) = proteína fabricada pelos neurônios – exerce vários efeitos no sistema nervoso central, como crescimento, diferenciação e reparo dos próprios neurônios"
1. Hillman CH, Erickson KI, Kramer AF. Be smart, exercise your heart: exercise effects on brain and cognition. Nat Rev Neurosci. 2008;9:58-65.
2. Griesbach GS, Hovda DA, Molteni R, Wu A, Gomez-Pinilla F. Voluntary exercise following traumatic brain injury: brain-derived neurotrophic factor upregulation and recovery of function. Neuroscience. 2004;125:129-139.
3. Molteni R, Zheng JQ, Ying Z, Gomez-Pinilla F, Twiss JL. Voluntary exercise increases axonal regeneration from sensory neurons. Proc Natl Acad Sci U S A. 2004;101:8473-8478.
4. Wu A, Ying Z, Gomez-Pinilla F. Docosahexaenoic acid dietary supplementation enhances the effects of exercise on synaptic plasticity and cognition. Neuroscience. 2008;155:751-759.
5. Gomez-Pinilla F. Collaborative effects of diet and exercise on cognitive enhancement. Nutr Health. 2011;20(3-4):165-9.