por Rosemeire Zago
Cada um do seu jeito sente o tempo cada vez mais escasso, o que mais se ouve é: “não tenho tempo”. Claro, com o avanço da tecnologia, globalização, recebemos cada vez mais informações e mal conseguimos processar todas as que chegam até nós. Estamos sempre na ânsia de fazer mais em menos tempo, e por vezes nos lembramos com saudades daquela época em que tínhamos mais tempo.
Você se lembra, acredito que não faz tanto tempo assim, de quando visitava um parente ou amigo, só para saber como estava? Hoje não conseguimos visitar nem quando precisam, quem dirá para simplesmente bater papo. Não conseguimos desligar do relógio nem nos finais de semana, e até nosso relógio biológico parece nos trair ao nos acordar no horário habitual, mesmo quando podemos dormir mais, pois são tantas tarefas a realizar que nos cobramos controlar o tempo. Ou será ele que nos controla?
A ociosidade transformou-se em não ter o que fazer, quando na verdade, nos convida à reflexão, e com isso, antes de tudo, permite ficarmos muito mais perto de nós mesmos e de nossos sentimentos. Alguns, eu diria, muitos, mesmo na praia, sentados à beira-mar, ao invés de contemplarem o horizonte e desfrutarem a natureza, estão com os olhos grudados em jornais. É claro, aproveitando o tempo para saber as últimas notícias. Ficar informado é importante, mas dar um tempo para nossa mente é igualmente sábio. Muitos chegam a se culpar quando não estão produzindo, sempre em busca de movimento, ocupação, o que nos induz a pensar se não seria uma fuga inconsciente para não se dar tempo para pensar na vida. Quem sabe?
Devemos lembrar ainda, que mesmo para processar tanta informação e transformá-la em conhecimento, é preciso análise, compreensão, e como para tudo, há um tempo para isso também. Precisamos de tempo para reflexão e amadurecimento. De que adianta tanta informação se mal conseguimos nos lembrar das últimas linhas que lemos, de tão saturados que às vezes ficamos de tanta informação? Para que buscar tanto conhecimento acerca do que acontece no mundo, se muitas vezes não sabemos sequer o que acontece dentro de nós mesmos ou até, dentro de nosso círculo familiar?
O tempo parece realmente voar, e muitos se tornam verdadeiros bombeiros, onde estão sempre apagando um incêndio, ou seja, nunca se preocupam em prevenir o aparecimento de novos focos de problemas, pois não há tempo. Sim, as pressões externas são inúmeras, mas são as pressões internas e a maneira com que lidamos com as situações, o que mais nos desgastam e nos levam ao estresse.
O tempo e a autoestima
É importante aprender a avaliar as situações e identificar quando é possível deixar de dizer: “deixa que eu resolvo” e passar a dizer aquela palavrinha tão difícil de ser pronunciada por muitos: “não”. Se você tem dificuldade de dizer não, tente treinar em situações em que você a princípio não conseguiria, imaginando como se sentiria se tivesse respondido negativamente e aos poucos aprenda a se impor. Geralmente são pessoas que inconscientemente desejam agradar, pois acreditam que se disserem “não”, deixarão de serem amadas; se não mostrarem conhecimento, deixarão de serem reconhecidas, ou seja, estão sempre em busca de aprovação, porque em seu íntimo, não aprovam a si mesmas.
Na verdade, antes de aprendermos a aproveitar melhor o tempo, devemos estar conscientes do que pode estar oculto no jargão “não tenho tempo”, refletindo profundamente sobre quais questões podem vir à tona se houver mais tempo para pensar, ficar mais consigo mesmo, com aqueles que ama.
O que poderá acontecer ao permitir-se fazer nada de vez em quando? Identifique culpas, ou se durante sua formação aprendeu que quem não faz nada não tem valor. Ou ainda, se a necessidade do controle do tempo não pode estar refletindo uma necessidade do controle da própria vida, ou de agradar, se mostrar importante, tendo sempre que verificar a agenda antes de marcar um compromisso. E permita-se ter tempo ao menos uma vez por semana para olhar o céu, contemplar as estrelas, brincar com as nuvens, ou simplesmente fazer nada e nem por isso, ser alguém com menos valor. Afinal, a sabedoria não estar em acumular informações, mas sim, em colocá-las em prática.