por NPPI – Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática – PUC/SP
Já é bastante comum atualmente ouvirmos relatos sobre pessoas que deixam de ter vida social por preferirem passar as madrugadas navegando na Internet ou, no pólo oposto, histórias de profissionais que colocam seu emprego em risco devido às suas dificuldades e resistências em enfrentar a "máquina". Tais situações podem sinalizar alguns dos sintomas do "abuso" (ou da já chamada "fobia") diante dos recursos tecnológicos. Estes são alguns dos novos distúrbios de comportamento que vêm chamando a atenção dos profissionais da psicologia, a começar pelos componentes do nosso grupo de trabalho.
O NPPI – Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática – foi originalmente criado em 1995 com o objetivo da construção da home page da Clínica Psicológica da PUC-SP. Mas, com o crescente avanço do uso das novas tecnologias pela população em geral, nossa equipe passou a receber inúmeros e-mails contendo pedidos de orientação, e até mesmo de atendimento psicoterapêutico on-line (prática essa ainda não reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia*) de pessoas preocupadas com problemas do tipo referido acima. Esse fato chamou a atenção dos psicólogos do setor, que decidiram elaborar algumas formas de auxiliar tanto os "dependentes" de equipamentos eletrônicos a se livrarem do novo "vício", como aqueles que sofrem já ao pensar na necessidade de usar o computador.
Uma das formas de auxílio à população, a nosso ver, é justamente a divulgação de informações sobre essas novas modalidades de desconforto e/ou sofrimento psíquico, gerados justamente pelas tecnologias criadas com a intenção de facilitar nosso dia-a-dia e agilizar o trabalho do homem atual.
Usos patológicos (ou abusivos) dos recursos oferecidos pelas novas tecnologias
Caracterizando o problema: – O critério para avaliarmos se uma pessoa é ou não "viciada" em informática (ou na Internet) não deve ser meramente quantitativo, mas, principalmente qualitativo. A "quantidade" do tempo de uso das máquinas pode ser um dos indicadores do uso patológico, mas o aspecto decisivo a ser observado é a qualidade da utilização que está em pauta: Ainda que possa ser prolongada, essa utilização é adequada, criativa, ou será do tipo "patológica" ? Existem inúmeras formas de se fazer um uso criativo da Internet, basta saber como fazê-lo corretamente.
Segundo nossa observação, as pessoas que vivem essa problemática têm dificuldade em buscar e/ou aceitar ajuda. Para a maioria delas, o acesso à Internet ainda é uma realidade muito nova e atraente. Além disso, tais pessoas têm dificuldade em se identificar como usuários abusivos. É preciso que os familiares ou pessoas mais próximas comecem a reclamar do seu afastamento, para que tais usuários considerem a possibilidade de estar "passando dos limites"!
Em nosso meio ainda não foi traçado um perfil definido dos "viciados" em Internet, uma vez que os estudos sobre o tema são praticamente inexistentes no Brasil. Por outro lado, ainda que em outros países as pesquisas na área já possam ser mais freqüentes, os parâmetros internacionais nem sempre se aplicam à nossa realidade. Mas, com base em nossa observação clínica podemos oferecer ao leitor algumas referências úteis para a avaliação do seu próprio comportamento (ou de seus amigos e familiares) quanto ao uso dos computadores e da Internet. Esse será o tema do próximo artigo.
* Texto composto por Rosa Maria Farah e Ivelise Fortim de Campos a partir dos registros das entrevistas de orientação à comunidade, solicitadas ao NPPI: Núcleo de Pesquisas sobre Psicologia e Informática, da Clínica Psicológica da PUC-SP.