por Edson Toledo
Toda criança ou adolescente pode sentir medo e ansiedade, porém de forma geral, tanto a ansiedade como o medo serão considerados patológicos quando exagerados, desproporcionais em relação ao estímulo; ou qualitativamente diversos do que se observa como norma naquela faixa etária e interferem na qualidade de vida, conforto emocional ou desempenho diário da criança.
Segundo estudos, reações exageradas a um determinado estímulo se desenvolvem mais comumente em indivíduos com predisposição neurobiológica herdada.
Os transtornos de ansiedade em crianças e jovens são comuns e constituem o maior grupo de problemas de saúde mental durante a infância. Estudos apontam que aproximadamente 10% das crianças e adolescentes sofrem de algum transtorno ansioso; exceção feita ao Transtorno obsessivo-compulsivo que afeta até 2% das crianças e adolescentes e mais de 50% das crianças ansiosas experimentarão um episódio depressivo como parte de seu transtorno ansioso.
Nas crianças, o desenvolvimento emocional tem influência sobre as causas da ansiedade e, também, a maneira como se manifestam as preocupações e os medos, sejam eles normais ou patológicos.
Diferentemente dos adultos, as crianças podem não reconhecer seus medos como irracionais ou exagerados, especialmente as crianças menores e estes podem causar um efeito significativo no seu dia a dia, criar impacto na trajetória de seu desenvolvimento e interferir na capacidade de aprendizagem, no desenvolvimento de amizades e nas relações familiares. Muitos transtornos são persistentes e, se não forem tratados, aumentam a probabilidade de problemas na idade adulta, como por exemplo, dificuldade de se relacionar socialmente e depressão.
Crianças com transtornos de ansiedade quando são encaminhadas ao consultório ou clínica especializadas compartilham áreas de preocupação que estão relacionadas a problemas de saúde, escola, desastres e danos pessoais, sendo que as preocupações mais frequentes são relativas às amizades, aos colegas de aula, à escola à e à saúde.
De forma geral, preocupações fazem parte do desenvolvimento infantil normal. Porém, as crianças com transtornos de ansiedade tendem ter preocupações mais intensas e, conforme as crianças vão se desenvolvendo e a sua capacidade cognitiva aumenta, o foco das preocupações e temores muda das inquietações concretas para as mais abstratas.
À exceção do transtorno de ansiedade de separação (explico mais abaixo), o *DSM-IV-TR (APA, 2000) não possui categorias específicas para os transtornos de ansiedade na infância.
Outros transtornos de ansiedade são o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). No TOC, o jovem tem pensamentos recorrentes e persistentes (obsessões) e/ou comportamentos repetitivos (compulsões) que causam marcada angústia e ansiedade. No TEPT, a ansiedade e a angústia são causadas pela exposição a um trauma ou evento que envolve morte real, ameaça de morte ou dano grave, ou uma ameaça à integridade física da criança, com uma resposta que envolve medo intenso, desamparo ou horror.
Apresento um breve resumo dos principais transtornos de ansiedade que acometem crianças e jovens:
– O transtorno de ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade persistente e excessiva relativa à separação de uma figura com vínculo importante ou a algum dano que aconteça a essa pessoa.
– O transtorno de ansiedade fóbico se caracteriza por fobias específicas que são reações extremas de medo de objetos ou situações específicas que persistem e causam angústia intensa à criança. Quanto à natureza das fobias podemos identificar alguns subtipos que envolvem animais (por ex: gatos, cobras), ambientes natural (por ex: trovão, água), sangue, injeção, ferimentos, situações (medo de elevadores) e outros (por ex:. ficar doente).
– Fobia social/transtorno de ansiedade social: a fobia social é um medo marcante e persistente de situações sociais ou de desempenho, por meio do qual a criança teme a humilhação ou vergonha:
Situações sociais: ir a um evento, relacionar-se com alguém, participar de situações em grupo;
Situações de desempenho: prova escolar, competição esportiva, ter de falar em sala de aula.
– Ataques de pânico: os ataques de pânico são caracterizados por sintomas fisiológicos recorrentes e intensos que ocorrem com frequência na ausência de indicadores desencadeantes identificáveis ou específicos.
– Transtorno de ansiedade generalizada (TAG) substituiu a categoria diagnóstica anterior de transtorno de excesso de ansiedade (TEA), assim o TAG é uma preocupação persistente, excessiva e intensa a respeito de uma variedade de eventos futuros e passados. Exemplos: fazer uma prova oral, ter que apresentar um trabalho escolar, participar de sua festa de aniversário (futuro); não fui bem na prova oral, não gostaram da minha apresentação, acho que a minha festa de aniversário não foi boa (passado).
Apesar da alta prevalência, como já vimos, os transtornos ansiosos de início na infância são bem pouco considerados, e quando não tratados, eles podem privar a criança de interações familiares, sociais e educacionais.
O tratamento eficaz requer a combinação de várias intervenções, tais como a terapia cognitivo-comportamental, a familiar e, frequentemente, de medicamentosa.
*Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais – 4ª Edição Revisada. Associação Psiquiátrica Americana, 2000.