por Ceres Araujo
Crianças vivem perigosamente. Desde o nascimento, mesmo desde que é concebida, até o final da infância, a criança precisa da proteção dos pais para crescer.
Diferente de outras espécies, o bebê humano não tem condições de sobrevivência se não for cuidado por um outro ser de sua espécie. Ele é um caso de prematuridade entre as espécies.
Assim, cumpre aos pais: o amor, os cuidados, a proteção e a contenção aos seus filhos na infância, pois, sozinhos, vivem perigosamente. A impulsividade elevada caracteriza a criança normal e ela precisará adquirir os controles desejáveis sobre seus impulsos, sendo os pais os responsáveis pelo ensinamento desses controles.
É a impulsividade elevada a responsável pelo fato de as crianças viverem perigosamente. Todas elas, pois não sabem discriminar entre o que lhes faz bem e o que lhes faz mal. Guiam-se pelo prazer imediato e não possuem nem o tempo, nem o espaço para pensar sobre sua ação. Simplesmente atuam.
As possibilidades de entreter o impulso, de refletir antes de agir e de escolher entre alternativas de ação se desenvolvem ao longo do crescimento. Os pais têm um papel muito importante nesse processo. Cabe a eles ensinar as crianças a conter seus impulsos, a entreter a tensão derivada deles, a adiar a satisfação imediata de necessidades, a pensar antes de agir e, com isso, a se protegerem. Sem tal aprendizado, a criança continuará refém de sua impulsividade, tenderá a viver perigosamente sempre, pois não foi ensinada a tomar conta de si mesmo, a se proteger.
Colocar limites e interdições, dizer não a muitos desejos dos filhos não é fácil. Costumo dizer que dizer "não" é a maior prova de amor que se pode dar aos filhos pequenos, pois isso significa sempre proteção. Dizer "não" é difícil e trabalhoso enquanto que dizer "sim" é muito fácil, mas pode significar omissão e displicência na função de pais.
Regras básicas para as quatro fases da vida
O ser humano, para viver em sociedade, é socializado constantemente. Porém, quatro grandes fases da vida marcam, preponderantemente, esse processo de socialização para se viver na sociedade em que se está inserido: infância, adolescência, vida adulta e velhice. Em cada uma dessas fases, aprende-se as regras básicas para, de acordo com a idade, poder conviver com os outros. Tais regras na infância, por exemplo, definem, entre várias outras coisas o que é perigoso para a criança e para os demais que fazem parte de seu convívio. Assim, se a criança não aprender corretamente essas normas, que devem ser ditadas pela família e pela escola, ela, com certeza, estará colocando sua vida em risco e, por vezes, a de outros também. Além disso, desconhecendo limites nessa fase da sua vida, terá sérias dificuldades para compreender novas regras que surgirão na próxima etapa da sua vida, ou seja, na adolescência.
O mais simples dos exemplos: pais que não impõem ao seu filho, limites aos horários de dormir, estão contribuindo para que ele tenha problemas de saúde, dificuldades de aprendizado na escola, etc. Trata-se de uma situação de risco que a criança, por si só, não sabe estabelecer um autocontrole. Cumpre observar, que socializada dessa forma, ela, já na próxima fase da sua vida, no caso a adolescência, terá dificuldade de se autorregrar quanto ao sono. E, na adolescência, quando caberia a ela ter autonomia quanto a esse controle, não o terá, pois não aprendeu com seus pais na infância.
A criança que recebeu a contenção adequada, se transforma em um adolescente que conhece suas competências e limitações e aprendeu a tomar conta de si mesma, sabe se proteger, conhece o que lhe serve e o que não lhe serve. Pelas necessidades próprias à idade, pode ousar em muitas circunstâncias, mas consegue garantir sua integridade.
O filho que não foi suficientemente contido pelos pais, costuma desconhecer suas próprias limitações, físicas e psíquicas e tende a se colocar em situações de risco. É uma criança que vive perigosamente, sem recursos internos para distinguir entre o que lhe faz bem e o que lhe faz mal e, exatamente dessa forma, ingressa na adolescência, transformando-se em uma pessoa que é um perigo para si mesma.